Há necessidade de garantir que o envelhecimento ocorra de forma ativa, saudável, com menor risco de doenças e de forma produtiva desde cedo, para se prevenir de doenças como Alzheimer.
“A juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar. (Jean-Jacques Rousseau)“
Não, você não leu errado. Vamos explanar a Doença de Alzheimer muito anterior ao envelhecimento, principalmente, os fatores de risco que predispõem a doença e que se iniciam ainda na gestação e infância. O Alzheimer é um transtorno neurocognitivo e progressivo que se desenvolve antes mesmo dos primeiros sintomas, como dificuldade com memória e alterações psicológicas e comportamentais, ficarem mais notórios. Estudos apontam que pelo menos 15 anos antes desses sintomas se tornarem mais aparentes, a doença já esteja agindo sorrateiramente no cérebro.
A causa da doença ainda é um mistério, embora muitas teorias tentem explicar como ela acomete o cérebro. Uma delas são os fatores de risco, como obesidade, baixa escolaridade na infância, diabetes, carência de vitaminas, hipotireoidismo, hipertensão, dificuldade auditiva, exposição à poluição, traumas cranianos, depressão, baixo contato social, sedentarismo, entre outros… a lista é grande.
CONFIRA TAMBÉM:
Um famoso estudo de D.J. Barker, em 1987, já sinalizava a origem fetal e infantil da maioria das doenças dos adultos, relacionando como as condições de vida e as agressões sofridas no ambiente uterino, poderiam levar a adaptações metabólicas capazes de alterar a programação da vida garantindo a sobrevivência do indivíduo, e nos primeiros anos de vida programando o aparecimento de doenças na vida adulta como hipertensão, diabetes etc.
É sabido que a maioria dos hábitos de vida inicia-se na infância por conta das condições ambientais em que a criança vive e também pela influência e imitação dos adultos, isso inclui questões relacionadas à nutrição, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, escolaridade etc., que se prolongam até a vida adulta; todos fatores de risco para o Alzheimer e outras demências.
Logo, precisamos compreender, que com o aumento da expectativa de vida, cada vez maior, há necessidade de garantir que esse envelhecimento ocorra de forma ativa, saudável, com menor risco de doenças e de forma produtiva, onde a orientação acerca do processo de envelhecimento ocorra desde cedo, dessa forma praticamos ações preventivas que irão ecoar lá na frente.
Algumas doenças que se manifestam desde a infância e que fazem parte do protocolo de redução de declínio cognitivo são:
– Questões ligadas aos aspectos nutricionais: A subnutrição, alimentação inadequada e carente de nutrientes essenciais desde a vida uterina impacta no funcionamento de tecidos e órgãos. Por exemplo, crianças que nasceram com baixo peso tendem a apresentar na vida adulta doenças como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, hipertensão, doenças coronarianas etc.
– Sedentarismo: A restrição de atividades físicas, brincadeiras na infância, dando lugar à brinquedos eletrônicos e contribuindo cada vez mais para o sedentarismo, abre espaço para doenças como a obesidade, grande vilã mundial.
– Baixa escolaridade: A baixa escolaridade está relacionada a diversos fatores como: distância da escola, principalmente, quem mora em sítios, ribeiras etc.; falta de incentivo e conhecimento; falta de acesso e condições materiais e financeiras para o estudo, dentre outros. A escolaridade está intrinsicamente ligada a conexões mais complexas entre os neurônios o que garante maior reserva cognitiva para proteger o cérebro de doenças.
– Baixo contato social: A socialização, que ocorre na infância no contato com a família e com amiguinhos, está relacionada a assimilação de hábitos e características do grupo social que se vive, e é essencial, pois permite a melhora da comunicação; a assimilação da cultura a que pertence; promove competências sociais e afetivas; favorece experiências positivas, colaboração etc.
Portanto, o que garantir desde a infância pensando em um envelhecimento com mais qualidade de vida?
– Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses;
– Após os seis meses, introdução alimentar de forma adequada, incentivando o consumo de alimentos saudáveis, principalmente frutas, verduras, legumes;
– Adequar as necessidades energéticas da criança em cada idade com a alimentação familiar;
– Estimular o consumo de peixes;
– Monitorar o ganho de peso;
– Estimular a prática de atividade física regular;
– Reduzir tempo de sedentarismo em casa;
– Identificar o quanto antes problemas relacionados ao metabolismo, hipotireoidismo e outras doenças genéticas;
– Controle da exposição à poluentes ambientais;
– Observar se o bebê/criança apresenta questões relacionadas a dificuldades auditivas;
– Melhorar condições ambientais em que esse bebê/criança vive;
– Identificar crianças com histórico familiar de doenças crônicas e providenciar acompanhamento;
– Desestimular hábitos de tabagismo e alcoolismo;
– Incentivar os pais a estimular os bebês/crianças e promover melhores cuidados.
São cuidados simples, mas que farão toda diferença no futuro.
Referências
DEL CIAMPO, I.R.L; BETTIOL, H. Doenças do Adulto com Origem na Infância. In: RICCO, R.G; DEL CIAMPO, L.A.D; DE ALMEIDA, C.A.N. Puericultura: Princípios e Práticas. 2º Ed. Editora Atheneu. 2008.