Já dizia Sócrates, “que o seu alimento seja o seu remédio”, é assim até os dias de hoje, a forma como nos alimentamos define como será a nossa saúde, como reagirá o nosso sistema imunológico.
O corpo humano é uma grande máquina biológica que realiza inúmeras atividades ao mesmo tempo e, apesar de interligadas, muitas dessas atividades não dependem umas das outras. Tecidos são reconstruídos e renovados, proteínas transportadoras carregam substâncias para as devidas células. A cada pensamento e movimento ocorrem milhões de impulsos nervosos, se um inseto pica a pele, imediatamente, uma cascata de reações acontecerá para amenizar os riscos do veneno e manter esta incrível ‘máquina funcionando’.
E, como toda máquina, esta também precisa do ‘combustível’ ideal para cada função que será realizada. Para construir uma célula muscular o corpo precisará de proteínas, carboidratos, vitaminas, gorduras essenciais e minerais entre outros.
Onde pretendo chegar com toda essa conversa de corpo e máquinas? Para explicar como a fome é gerada, o nosso apetite é regulado a partir de todos esses acontecimentos.
Todos os seres vivos já nascem com a capacidade de sentir fome, com a intuição para buscar as fontes alimentares que o corpo necessita como exemplo, é comum algumas gestantes sentirem desejos estranhos por alguns alimentos, isso nada mais é do que o corpo apontando para alguma necessidade ou carência nutricional.
Já dizia Sócrates, “que o seu alimento seja o seu remédio”, é assim até os dias de hoje, a forma como nos alimentamos define como será a nossa saúde, como reagirá o nosso sistema imunológico.
Como se não bastasse a nossa necessidade biológica por alimentos, a humanidade também associou a comida aos eventos sociais e principalmente ao prazer. Comer é muito mais do que apenas necessidade, é cultural, pode unir e desunir as pessoas em qualquer evento.
É sério quando se usa o termo ‘desunir’, é comum dentro da nossa sociedade a segregação dos idosos, também por causa da comida, a sociedade demonstra um despreparo para acolher os idosos.
Junto com a velhice vêm as patologias que podem tornar os idosos dependentes de dietas específicas para levar uma vida melhor e, nas reuniões de família, festas e eventos, são poucos aqueles que têm o cuidado de se lembrar dos doces dietéticos, daquela porção que pode ser feita sem sal, cortada em pedaços menores, com o intuito de alimentar também quem possui necessidades especiais.
Marujo, em 2012, afirmou que algumas alterações ocorrem no organismo com o envelhecimento, o paladar e olfato se tornam pouco sensíveis, dificultando ainda mais a capacidade de comer com qualidade, o corpo tem a capacidade de traduzir as necessidades e carências nutricionais em fome e apetite reduzidas, e é bastante comum a inapetência nas pessoas idosas devido ao uso de fármacos. O autor ainda salienta sobre tendências à indigestão por causa da redução do ácido clorídrico estomacal.
Com tantas adversidades, o simples ato de comer torna-se bem difícil, a família, os cuidadores e responsáveis, possuem a tarefa de melhorar e adaptar a qualidade dos alimentos a esta nova linha de diretrizes, que irá variar de acordo com a individualidade de cada idoso.
Independente das fases da vida, a nutrição já é algo singular de cada pessoa, porque as necessidades sempre serão diferentes, alguns precisam de mais fibras, proteínas, carboidratos do que outros. Existe uma imensa pluralidade quando o tema é diversidade.
É importante sinalizar que alimentação é diferente de nutrição. Enquanto a alimentação está relacionada ao processo de assimilação dos alimentos que ingerimos, a nutrição está relacionada ao recebimento de nutrientes necessários para seu melhor funcionamento.
O que é preciso considerar para manter a boa qualidade na alimentação é uma avaliação bem detalhada do idoso, considerar as patologias, a saúde do trato gastrointestinal, se consegue mastigar, deglutir, quais são os limites para o sal e açúcar e, dentro desses parâmetros poder adaptar ao círculo familiar, por exemplo: festas de aniversário, ter a opção dietética se esta for uma necessidade, a fim de que o idoso não fique excluído. Em uma refeição em família, servir se possível a mesma refeição que todos irão consumir, porém adaptada a necessidade, com menos sal, com cortes adequados ou em forma de purês se for o caso.
A saúde depende de vários fatores como uma rotina saudável de atividades, alimentação adequada, medicação nos horários certos, acompanhamento profissional e a mais importante de todas, acolhimento e carinho para a saúde emocional, é isto que mantém a inclusão social do idoso e garante o seu bem estar.
(*)Karina Bantin – Nutricionista formada pela Universidade Nove de Julho, especializanda em Nutrição Clínica pela Universidade Gama Filho; realiza atendimento e consultoria nutricional para pessoas em todos os ciclos da vida, da gestação até a terceira idade. Mantém como foco nos tratamentos a prevenção de doenças e melhora da qualidade de vida. E-mail: [email protected]
Referências
MARUJO, J. Envelhecimento e Velhice: O Papel do Gerontólogo Social. III Jornada de Gerontologia Social. Universidade Católica Portuguesa- Centro Regional de Braga, 2012.