O último Censo realizado pelo IBGE revelou que o a população com mais de 60 anos nas sete cidades da região cresceu ao longo da última década. De 2000 para 2010, data dos dois últimos levantamentos do governo federal, o ABC ganhou 85,8 mil novos idosos, ou seja, esta população passou de 186,3 mil em 2000 para 272,1 mil no último ano.
Por isso, a preocupação com a inclusão destas pessoas tem crescido por parte das prefeituras, que tentam cada vez mais oferecer opções de programas que garantam qualidade de vida.
Por outro lado, muitos não se contentam com atividades especiais e buscam espaço no disputado mercado de trabalho. Enquanto isso, a luta de todos é fazer com que seus direitos, garantidos pelo Estatuto do Idoso, sejam respeitados. “Atualmente a população idosa do ABC representa quase 10% de todos os moradores locais (2,5 milhões de pessoas). Creio que no próximo Censo, que será realizado em 2020, as pessoas mais velhas representem 20% ou mais de toda a população da região”, alerta Leandro Prearo, coordenador do Instituto de Pesquisas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). “Podemos considerar este crescimento forte para uma década, mas uma hora isso irá parar”, completa.
Segundo o especialista, levando em consideração apenas Santo André, São Bernardo e São Caetano, em 2002 a terceira idade estava presente em 30% das famílias. Hoje este número passou para 44%. “Este é um fenômeno mundial, especialmente para países em desenvolvimento e com economia mais madura. O Brasil e o ABC, em especial, se enquadram neste cenário”, destaca Prearo.
Números
Em números totais, Santo André é o município com o maior número de idosos: 91,5 mil, sendo 53,5 mil mulheres e 37,9 homens. O município também é o que concentra a maior parte dos centenários, são 43 no total – o ABC concentra 136 pessoas com mais de 100 anos.
Logo em seguida vem São Bernardo, com 77,9 mil idosos, seguido por Mauá (34,5 mil), Diadema (29,8 mil), São Caetano (28,5 mil), Ribeirão Pires (6,3 mil) e Rio Grande da Serra (3,4 mil).
Região precisa se preparar, alerta pesquisa da USCS
Tendo em vista o crescente número de representantes da terceira idade na região, Prearo defende maior atenção para esta parcela da população. “Historicamente as cidades têm se preparado para cuidar das crianças, com programas e ações voltadas para a Educação e a Saúde. Sendo assim, faltam preparo e investimento em políticas públicas para os idosos”, defende o coordenador do Instituto de Pesquisas da USCS. “O principal gargalo é na área da Saúde, pois os hospitais públicos não comportam a demanda e os particulares são caros. Apesar do valor da aposentadoria ter aumento nos últimos anos, ainda é muito caro pagar um convênio médico”, completa. Segundo ele, outro ponto que deve ser pensado pelos administradores públicos é a criação de instituições que possam cuidar dos idosos quando as famílias não conseguem se responsabilizar por eles.
Faltam políticas públicas e respeito, diz advogada
Em vigor desde outubro de 2003, o Estatuto do Idoso regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Heleni de Paiva, advogada especializada em Direitos do Consumidor, comenta que a lei é garantidora de direitos, mas sem políticas públicas no dia a dia e a mudança cultural da sociedade brasileira – que não respeita os idosos – pouco adianta.
Para a especialista, a concepção de que os idosos só precisam fazer caminhada, dançar e ir ao médico precisa acabar. “Precisamos entender que todos nós vamos envelhecer e que a sociedade precisa estar capacitada para lidar com os idosos em todos os aspectos, na fila do banco, no ônibus ou no comércio”, observa.
Além dos já conhecidos direitos, como gratuidade no transporte público e prioridade no atendimento, pessoas com idade acima de 60 anos têm direito à habitação, por exemplo. Segundo artigo 37 do Estatuto do Idoso é obrigatória reserva de 3% das unidades residenciais para os idosos nos programas habitacionais públicos ou subsidiados por recurso público. “Para se ter ideia, os conjuntos habitacionais nem são construídos com acessibilidade para receber os idosos”, lamenta Heleni.
Outro problema para os idosos é em relação aos planos de saúde. “Quando a pessoa chega aos 60 anos há um aumento abusivo no valor do convênio médico”, conta. A opção, segundo ela, é procurar outro plano de saúde – com menos qualidade – ou entrar na Justiça contra a operadora, no entanto, a segunda opção pode demorar anos para ser resolvida.
Maus tratos é a principal queixa
O ABC conta com três delegacias especializadas no atendimento ao idoso: uma em Santo André (responsável por Mauá, Ribeirão e Rio Grande), uma em São Bernardo (inclui São Caetano) e uma em Diadema. João Baptista Lemos dos Santos, delegado titular da Delegacia do Idoso de Santo André, explica que a maior parte dos registros está relacionada a maus tratos, seguida pelas ocorrências de agressões e ameaças. Em Santo André, um terço dos atendimentos ocorre por meio do Disque Denúncia – número 181 -, outra parte se dá por meio do comparecimento de parentes e amigos e 30% dos registros são feitos pelos próprios idosos. Em 2010 foram 400 atendimentos, parte deles apenas orientações aos envolvidos. “Neste ano, a tendência é superar o número, já que foram registrados mais de 200 atendimentos até junho”, conta o delegado.
Aposentadoria não significa parar de trabalhar
A chegada da terceira idade significa, para muitos, descanso e afastamento do mercado de trabalho. É fato que no Brasil quando se fica mais velho as oportunidades de emprego são, infelizmente, reduzidas. No entanto, a experiência e a disposição para novos desafios são atrativos para alguns empregadores priorizarem a contratação de profissionais com mais de 55 anos.
Desde 2004, o Grupo Pão de Açúcar possui um programa para contratação de idosos. Hoje, são mais de mil colaboradores com mais de 55 anos em cargos como empacotador, operador de caixa, vendedor e gerente de loja. “Percebemos que, enquanto o jovem tende a ser mais rápido no atendimento, os mais idosos são mais pacientes”, garante Vandréia de Oliveira, gerente de Recursos Humanos do Pão de Açúcar.
A especialização necessária para algumas áreas, como Engenharia, exige experiência maior que, inevitavelmente, traz oportunidades aos profissionais de idade mais avançada. De acordo com Márcia Gravalos Wandeur, psicóloga e diretora de comunicação da AGERH (Associação dos Gestores de RH do ABC), todos que entram na terceira idade deveriam pensar num plano B após a aposentadoria.
“A maioria tem sentimento de inutilidade quando, na verdade, eles tem muito a ensinar para as outras gerações”, afirma. Segundo Márcia, as oportunidades para a terceira idade são menores porque os empregadores querem funcionários que além de buscar desenvolvimento e ter afinidade com novas tecnologias, possam ter tempo de trabalho significativo na empresa, que faça valer os custos dos processos seletivos.
“Não configuro como preconceito por parte dos empregadores. Apesar de ainda serem poucos os idosos ativos, as empresas buscam cada vez mais estabelecer sinergia entre todas as faixas etárias”, diz.
População com mais de 60 anos não gosta da ociosidade
Para muitos idosos, a aposentadoria está longe de ser sinônimo de descanso. Eles querem espaço no mercado de trabalho para continuar na ativa, sobretudo para garantir autonomia, assim como não dispensam atividades físicas e bailes propostos para a faixa etária.
Exemplo desse novo perfil é Aldo Nery de Souza, de 66 anos, aposentado há 20 anos que se manteve na ativa até 2009. Decidido a aproveitar o tempo livre – não por opção, mas por falta de oportunidade de trabalho –, começou a frequentar o CISE (Centro Integrado de Saúde e Educação), em São Caetano. Além de fazer novas amizades, Souza participa do time de vôlei adaptado e foi eleito em 2010 Mister Terceira Idade de São Caetano, “Gosto dos amigos que tenho aqui e também frequento as outras unidades”, afirma.
Já para Wilma Pereira, de 74 anos, também de São Caetano, a vida do idoso está melhor graças às ações públicas e espaço que a mídia tem dado ao assunto. A aposentada que já trabalhou como costureira, em restaurantes e cuidou de idosos, só reclama do valor da aposentadoria paga pelo governo. “Antes tinha como sobreviver, hoje ou você se alimenta ou paga o aluguel”, explica. Atualmente Wilma mora junto com o filho, nora e netos.
Aos 76 anos, Filomena Aletta – que tem três filhos, cinco netos e um bisneto -, afirma que sua única tristeza é a falta do marido, falecido há sete anos. A italiana que chegou ao Brasil aos 17 anos afirma que adora o País e destaca as atividades oferecidas pela prefeitura de São Caetano – município conhecido pela numerosa população de idosos. “É uma ótima oportunidade de conhecer pessoas e não ficar parada”, completa.
Prefeituras querem terceira idade ativa
cem diversos programas para melhorar a qualidade de vida da Terceira Idade. São Caetano tem quatro Centros Integrados que atendem, gratuitamente, 30 mil idosos e, ainda, dispõe de uma coordenadoria exclusiva para este público. Na programação, atividades como ginástica, voleibol adaptado e snooker, além de aulas de violão, dança de salão e pintura. Há, também, a Universidade Aberta da Terceira Idade. Em São Bernardo, o Centro de Referência do Idoso é o espaço de convivência onde são realizados jogos de mesa, bocha, bilhar, além de bailes e bingos. Ainda existe a possibilidade de aulas na Faculdade Aberta para a Terceira Idade e o Centro Dia, que acolhe (durante o dia) idosos com limitações nas atividades diárias.
Em Diadema, o Centro de Convivência da Melhor Idade oferece oficinas de artesanato, ginástica, dança, jogos, coral, postura e etiqueta, além de passeios e viagens culturais. O centro abriga, ainda, a ‘Companhia de Dança da Melhor Idade’, com três montagens no currículo, e o coral ‘Encanto de Diadema’, que atualmente ensaia na Casa da Música.
Santo André também olha para os idosos. O Centro de Referência do Idoso oferece atividades, como grupo de convivência, aulas de dança cigana, ginástica, palestras e oficinas sobre os direitos de pessoas idosas, além de terapia em grupo.
Ações focam saúde
O poder público redobra atenção na área da saúde. Em São Caetano, o programa MAIS Medicamento é voltado para pessoas acima de 60 anos que se adequarem às exigências da lei. Os idosos recebem R$ 50 mensais para usar na rede de farmácias e drogarias na compra de medicamentos oferecidos pelo município. Seis mil pessoas são atendidas no programa.
Em São Bernardo um dos enfoques é o fornecimento de fraldas geriátricas, avaliação e encaminhamento para vagas asilares conveniadas.
Em Diadema, as 19 unidades de saúde desenvolvem atividades com 138 equipes, com prioridade no agendamento de consultas. Há, também, o Projeto Viver Bem, que oferece equipamentos e medicação para diabéticos.
Em Santo André, mais de 800 munícipes integram o programa Caminhada Orientada, cujo objetivo é proporcionar à população ganhos na qualidade de vida. O programa contempla as Unidades de Saúde, por meio do trabalho de 12 educadores físicos, que ministram as atividades dois dias da semana, em cada unidade.
Serviço:
a) São Bernardo
CRI: Avenida Redenção,271, Jardim do Mar, São Bernardo do Campo – 4126 3770
Centro Dia: Rua Henrique Alves dos Santos nº 61, Jardim das Américas – 4330 0876
b) Diadema
CCMI: Rua Paquetá, 23 – Jd. Rosinha
CCMI: Rua Manoel, 35 – Eldorado
c) São Caetano
Centro Integrado de Saúde e Educação da Terceira Idade (CISE) João Nicolau Braido: Rua Humberto de Campos, 600 – Bairro São José
Centro Integrado de Saúde e Educação da Terceira Idade (CISE) Moacyr Rodrigues: Rua Rafael Corrêa Sampaio, 600 – Bairro Santa Paula
Centro Integrado de Saúde e Educação da Terceira Idade (CISE) Francisco Coriolano de Souza: Rua Dionízio Mercado, 199 – Bairro Nova Gerty
Centro Integrado de Saúde e Educação da Terceira Idade (CISE) João Castaldelli: Avenida Kennedy, 2.400 – Bairro Olímpico
Fonte: 30 de junho de 2011. Texto da Redação Repórter Diário Online. Acesse Aqui