Não consigo entender quando um idoso é privado de sua autonomia por conta de um bem maior imposto por um processo mecânico de uma instituição, como por exemplo os horários pré-definidos de banho ou de almoço.
Juliana Alencar Stefanelli (*)
Dentre todas as características do envelhecer, a que mais me chama a atenção é que ainda ninguém tem nenhuma fórmula ou estudo que nos ajude a efetivamente na questão do abandono do idoso/velho nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI´s) que sobrevivem de doações.
Talvez seja devido a minha pouca experiência neste contexto e com esse público que eu fique abismada e atordoada com a falta de compaixão e olhar solidário que detecto em alguns profissionais que atuam no dia a dia de uma instituição deste público em específico.
Li uma matéria recentemente sobre o Hospital Colônia, promovendo o documentário de nome Holocausto Brasileiro do livro de mesmo nome que narra a história desse hospital psiquiátrico em Minas Gerais. São depoimentos de seus sobreviventes, funcionários da época em que foi desativado; e o que mais me chamou a atenção foi quando a jornalista Amanda Mont ́Alvão Veloso escreve: “A história transformada em memória mostra os horrores de experiências recentes de segregação como Apartheid e o Holocausto. Um ser humano definindo o direito de vida do outro ser humano. Milhões de vítimas e um legado de perplexidade permanente: Do que somos capazes de fazer quando temos o poder?”
O que aprendemos durante a vida a respeito sobre o outro? Quais ferramentas as instituições educacionais têm para ensinar esse olhar de respeito e compaixão?
Em todo o curso realizado (Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento) aprendi muito sobre conceitos que devem ser mudados, programas para envelhecimento saudável/ ativo; as aulas de cuidados paliativos foram fundamentais para minha capacitação, mas acredito que aquilo que senti falta não esteja em algum curso e sim em uma sociedade que busca o autocuidado e não consegue ver que em seu bairro existam pessoas abandonadas que estão sendo constantemente mal tratadas. Só que aos olhos da maioria e daquele que detém do dito poder, esse tratamento é natural, comum e aceitável.
Não consigo entender quando um idoso é privado de sua autonomia por conta de um bem maior imposto por um processo mecânico de uma instituição, como por exemplo os horários pré-definidos de banho ou de almoço. Caso o idoso não esteja disposto a fazer essa atividade extremamente importante, ele é obrigado – muitas vezes forçado (que na minha visão é um ato violento) -, a tomar seu banho pois a equipe não terá outro horário para fazê-lo, já que precisa seguir o cronograma do dia.
Quando teremos nas graduações de saúde uma disciplina que ensine respeito e compaixão? Que consigamos entender as necessidades do outro? Talvez esse sentimento deverá ser mudado conforme o avanço da sociedade.
Quando conseguiremos deixar de “humanizar” pessoas, porque simplesmente são humanas?
O que podemos fazer para que aqueles que detém o poder, entendam que a forma de tratamento humano merece carinho, compaixão e respeito? Talvez escutando a população idosa e dando real importância a seus medos, angústias e sentimentos? Existem muitos relatórios sobre saúde e doença que viram protocolos mundiais, nacionais e locais, será que o sentimento poderá ser classificado com protocolos?
Eu não sei!
Só sei que me prendo aos ensinamentos de que se um faz o outro copia, como dizem por aí, o exemplo arrasta. Espero arrastar algumas pessoas comigo!
Só quero que me tratem com respeito quando eu estiver velha, e vejo que esse respeito depende daquilo que vivemos hoje.
Vamos educar os nossos para que amanhã tenhamos a possibilidade de não sofrer o peso de nossos preconceitos e julgamento.
(*)Juliana Alencar Stefanelli – Fisioterapeuta, cursou o curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, ministrado pelo COGEAE/PUCSP no Segundo semestre de 2016, no campus Vila Mariana da PUCSP. Atua com idosos em uma ILPI e atendimentos particulares domiciliares. E-mail: [email protected]