A Terceira Idade na Universidade Aberta

O livro e Elizabeth Thomaz Pereira traz subsídios para serem utilizados na formação de professores para contextos instrucionais à educação de alunos adultos maduros e idosos. A intenção é não só o desenvolvimento integral do idoso, como também oportunidades igualitárias e inclusão social. O livro aborda longevidade, gerontologia, educação, universidades abertas à terceira idade e formação de professores.

Maximina M. Freire *

 

a-terceira-idade-na-universidade-aberta“O mar é sem fim!” ─ ninguém duvida disso. Ele é sedutor e perigoso: em alguns momentos, está ali, manso, cativante pelos matizes verde-azulados que se alternam continuamente, pelas ondas que trazem um movimento que embala e acarinha; em outros, mostra-se enfurecido e nos faz perder o rumo, tira-nos da rota, provocando uma revisão da trajetória. Assim é o mar, intenso, imponente, exigindo respeito e, ao mesmo tempo, nos envolvendo terna e calorosamente em um abraço.

Real ou metafórico, várias são as ocasiões em que enfrentamos o mar, ao longo da vida. Vida que passa, se transforma e se vai esvaziando de opções e alternativas; vida que faz a criança crescer e o jovem tornar-se velho, ou melhor, idoso. Que espaços há, então, para esse idoso na sociedade que ajudou a construir? Como reinseri-lo socialmente? Como restituir-lhe um status que não deveria ter perdido? Como proporcionar-lhe novas oportunidades? Como devolver-lhe o barco para que continue a navegar firme como antes?

Questionamentos como esses são apresentados e discutidos aqui, pela autora, em um texto rico, claro e sensível. Ao lê-lo, navegamos todos nós ─ jovens, adultos, adultos maduros, idosos ─ antevendo etapas de vida e aprofundando nossos conhecimentos sobre as quatro cartas náuticas norteadoras da viagem proposta neste livro: o envelhecimento, a educação, a universidade aberta e a formação de professores para a terceira idade. Tais mapas, tiram-nos da praia, segura, e nos lançam ao mar, sereno ou desafiador, fornecendo uma visão do cenário das universidades abertas e, principalmente, da formação de professores para a terceira idade ─ campo ainda tão pouco explorado e tão carente de investimentos financeiros e humanos, pesquisas e políticas públicas.

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Com suas ponderações, a autora enfatiza que o envelhecimento não pode ser tratado unicamente por um olhar biológico; ele exige um foco transdisciplinar que articule saberes vários que promovam uma tessitura inédita e uma abordagem única ao ser humano que busca, na universidade aberta, não apenas o convívio com seus pares e a reinserção social, mas também novas formas de aprendizagem que valorizem sua bagagem experiencial e ampliem sua rede de conhecimentos.

Na idade madura, é preciso dar continuidade à grande viagem da vida com um barco que já registra, em seu casco, as marcas prévias de histórias e memórias de navegações anteriores que não podem e não devem ser descartadas. O horizonte que se descortina à frente só pode ser entendido a partir das necessidades e características da embarcação que então navega, da bagagem que leva e das experiências prévias acumuladas que emprestam cores, luzes e sentidos à paisagem atual. Afinal, não se espera, apenas, preencher o tempo livre; busca-se melhor qualidade de vida para os anos que ainda estão por vir, para o restante da viagem. A velhice definitivamente não é, e não pode ser, um fardo a ser carregado por quem envelhece e por quem acolhe o idoso; deve ser uma etapa de vida produtiva, prazerosa, de inevitável revisão do passado e expectativas de futuro, de renovação, de renascimento, de esperanças e, como tal, de aprendizagem.

A aprendizagem é um mar sem fim, afirma a autora ─ e assim é a busca. Esses dois construtos que emergem da leitura deste livro revelam que os idosos buscam algo especial quando se inscrevem em universidades abertas da terceira idade. Além do convívio social, eles certamente buscam aprender algo; contudo têm também muito a ensinar: a aprendizagem, para eles, parece se realizar no intercâmbio, pois têm uma vida de experiências a compartilhar. A interlocução com alunos desse segmento etário ─ especiais pela vivência que possuem ─, a troca de experiências e a reflexão sobre os vários sentidos de cada situação/atuação permite a construção compartilhada de conhecimentos. O professor precisa ter escuta sensível, olhos e coração atentos para o universo de vivências que seus alunos têm a compartilhar, para entender suas necessidades e agir nessa direção, estabelecendo diálogo com sociedade e visando à reinclusão do idoso no contexto contemporâneo.

Com um texto claro, bem fundamentado e pleno de reflexões ponderadas, a autora enfatiza a necessidade de trazer para os cursos de formação docente os cenários da terceira idade, a fim de preparar o futuro professor para atuar com alunos dessa faixa etária, desconstruindo o mito do idoso inativo e sedentário, mas situando-o como agente de suas próprias mudanças.

Este livro marca a abertura de nova rota e de um intrigante caminho de pesquisa a desbravar: a formação de professores para a terceira idade. A autora traz esclarecimentos sobre uma realidade ainda pouco conhecida ─ a universidade aberta da terceira idade ─, enquanto abre espaço para novas ações que se revertam em benefício de um segmento etário crescente e importante em nosso país. Todos esses aspectos fazem deste livro um material precioso e uma leitura obrigatória para todos os que interessam pela educação, pela aprendizagem, pela gerontologia, pela formação de professores e gestores. Este livro é leitura obrigatória por quem se interessa pelo ser humano e acredita que o aprender ocorra na vida, com a vida, durante a vida e para a vida.

A leitura deste livro nos conduz a um mar de águas amenas e calmas, mas águas densas e profundas: águas que nos convidam à reflexão e nos mobilizam à ação, visando criar caminhos para que a educação na terceira idade, a universidade aberta e a formação de professores para esse segmento etário possam se desenvolver de forma sólida e eficaz, fincando raízes no cenário educacional brasileiro. Com a leitura deste livro, fica uma certeza concreta: o mar ─ da busca e da aprendizagem ─ é, mesmo, sem fim!

* Maximina M. Freire – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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