Independentemente da temperatura, ela dirigia-se à sala de embarque e desembarque dos aviões todos os dias! Por vezes, esboçava um sorriso sereno e noutras, aparentava preocupação, tristeza e um olhar distante como se esperasse alguém muito amado. Seus olhos buscavam esse alguém de forma silenciosa e lenta. Francisco soube que a sua amiga trazia consigo a esperança e certeza de reencontrar o filho que partiu, para, um dia desses, em êxtase, alegria e amor desmedidos abraçar o filho pródigo.
Vera Zaitune *
Era uma vez …. Assim começam algumas histórias, entrecortadas por outras e mais outras que se entrelaçam e apontam direções.
Nessa, Francisco desponta como protagonista, junto de Alice e vários personagens anônimos, todos relevantes no cenário em questão.
Naquele dia, Francisco resolveu observar mais atentamente aquela mulher já que as suas atitudes muito o intrigavam.
Independentemente da temperatura, trajando roupas leves, encapotadas ou impermeáveis, ela dirigia-se à sala de embarque e desembarque dos aviões todos os dias! Por vezes, esboçava um sorriso sereno e noutras, aparentava preocupação, tristeza e um olhar distante como se esperasse alguém muito amado. Seus olhos buscavam esse alguém de forma silenciosa e lenta. Resplandeciam quando a cena avistada era a do abraço que os viajantes trocavam na chegada ou na partida da viagem realizada.
Por várias vezes, exatamente no momento em que as pessoas se abraçavam, Francisco verificou a presença de lágrimas a escorrer no rosto dela, que não se importava que as mesmas umedecessem e emoldurassem o seu semblante! Com o passar do tempo, soube o seu nome: Alice!
Tornaram-se amigos que conversavam diariamente, interrompidos exatamente na hora do embarque e desembarque dos passageiros. Era proibido perder o momento do abraço! Esses encontros aconteciam durante o dia, pois Alice temia se expor à noite sobretudo pela longa distância da sua casa até o aeroporto.
Nos diálogos que tiveram, Francisco soube que a sua amiga trazia consigo a esperança e certeza de reencontrar o filho que partiu, para, um dia desses, em êxtase, alegria e amor desmedidos abraçar o filho pródigo. Tinha consigo que naquele momento, gargalhar até a sua voz desaparecer, chorar alegremente até as lágrimas secarem e adormecer seu corpo por tamanha felicidade, constituíam-se nas ações previsíveis. Ou seja, a tristeza e saudade presos pelos braços e abraços para na vida traçar seus traços e arriscar novos passos!
Era uma vez …. Mãe e filho a gerar vida na vida, florescida pela ausência e saudade, a lançar sementes de flores e frutos num jardim exuberante, fecundado pela água, sol, ar puro, luz e ninho de mãe!!!!
* Vera Zaitune – Graduada em História, Mestre em História da Educação, Especialista em Educação para o Envelhecimento e Alzheimer. Membro da Rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]. Blog: Disponível Aqui