2012, ano de crise. Dificuldade em acertar os passos. De um lado os estudos, as aulas, os compromissos pessoais ficaram relegados. De outro a vida familiar, as doenças, a morte, as situações inesperadas borbulharam.
Eva Regina Martinho do Valle *
Sentimento de derrota e estagnação por não cumprir trabalhos combinados.
E agora? Descubro mais um trabalho a ser feito para amanhã. Deus! Desisto! Estamos no fim de novembro e eu patinando…
Decidido. Vou à reunião de trabalho. Li a ata e vou.
Para a reunião anterior, à qual não compareci, li e resumi um texto, que, confesso, já esqueci. Assisti a um filme indicado. Amei! Mas, também, já lembro pouco.
A tarefa a partilhar será essa reflexão que rondou minha cabeça sobre esse período em que me senti “descida do trem da vida”, estagnada.
Hoje, olho para esses meses e os reconheço (ainda que tão próximos) muito ricos. É uma experiência viva como um “dar-se conta” do processo aprendido.
Não houve livros, apostilas, aulas, textos, pautas estabelecidas…
A aprendizagem foi acontecendo na densidade do humano, no trabalhoso processo das tradições (leva a mãe para a casa de um filho, coloca na casa de repouso), da cultura, das diferenças de opiniões, nas discórdias, no esforço de responder às perguntas, no esforço de ouvir, na dúvida, na reflexão, na urgência das necessidades concretas e imediatas. A maturidade das ações se dá em tudo isso, mas não se reduz a isso.
O aprendizado se realiza no grupo. As experiências vividas em família, com parentes e amigos foi um encontro, vivemos juntos uma história. O processo interno vivido e refletido aparece nas relações. Algumas pessoas ficaram muito próximas, outras se afastaram…
Cabe descobrir a realidade como educadora. Ela é o lugar da pressão reveladora – ela revela a teoria. Essa compreensão constrói a consciência de que a vida ensina. Assim, as experiências são sempre aprendizagem, no sentido de que nelas se captam todo o processo da ação-reflexão-ação. Muitas vezes, precisei agir rapidamente e me vi respaldada pela intuição e criatividade.
“[…] o ato intencional pressupõe existir uma mobilização interior, não necessariamente consciente, que é orientada para determinada finalidade antes mesmo de existir a ação concreta para a qual a ação seja solicitada. Entendemos que precisamente na integração do consciente, do sensível e do cultural se baseiam os comportamentos criativos do homem. Somente ante o ato intencional, ante a ação de um ser consciente, faz sentido falar-se de criação.” (Fayga Ostrower – Criatividade e Processo de Criação).
Acredito ter ganhado maior conscientização e maturidade no meu processo de desenvolvimento, nesse período, dito por mim precipitadamente, de estagnação.
* Eva Regina Martinho do Valleé pedagoga pela USP. Professora em Grupos da Maturidade. Pesquisadora do Grupo de Estudos da Memória – GEM/NEPE PUCSP. E-mail: [email protected]