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A Dona do Vento

Peço ao vento que leve a imensidão do meu amor para ela, a dona do vento, que me trouxe à vida e que continua a me fazer viver.


Queria poder estar ao seu lado, dona do vento, para te encher de beijos pelo dia de hoje, mas as circunstâncias pedem isolamento e eu, apavorada com a ideia de causar algum mal às pessoas que mais amo, tento contornar as saudades que sinto com nossas conversas por vídeo todos os dias às quatro da tarde. Aliás, devo dizer que este tem sido o horário mais feliz dos meus dias pois conversamos sobre tudo e por incrível que pareça são vocês quem mais me dão força e condições para não enlouquecer de vez com esta situação tão angustiante. E assim, pelo visor do celular vejo meus pais todos os dias. Se não tivéssemos este recurso, esta situação seria insustentável.

Tento descobrir coisas que possam, em meio ao caos, trazer a sensação de bem estar e, em um canto do jardim, faço uma horta numa tentativa de ver germinar vida da terra e diariamente acompanho o brotar das sementes plantadas.

Rego o pé de jasmim e avisto o beija-flor que aparece para se refrescar na água do esguicho enquanto observo o bater das asas que o sustentam no ar e cuja beleza me faz encantar. Às quatro da tarde, o amor se manifesta e fica nítido que são meus velhos pais que me sustentam como as asas do beija-flor.

Meu pai, como eterno professor que é, ensina a buscar estratégias para a nova vida apresentada pela pandemia: Muita leitura para tirar o foco desta realidade sufocante, afinal nada como se envolver com outros enredos.

Minha mãe, que completa oitenta anos demonstra uma força que me deixa perplexa. Como ela consegue? Fico me questionando já que foi na velhice da minha mãe que a percebi emocionalmente, imensamente forte.

Desde ontem, aqui no litoral, não para de ventar e a ventania me leva à ela que sempre afirmou que o vento nos faz lembrar que estamos vivos, portanto seguimos em frente buscando o que possa nos iluminar na escuridão.

À noite ficamos sem luz e o céu acendeu ainda mais suas estrelas.

No dia do aniversário, queria poder dar a beleza deste céu para minha mãe.

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Peço ao vento que leve a imensidão do meu amor para ela que é a dona da ventania que me trouxe à vida e que continua a me fazer viver.

Para esta data tão especial, faz um ano que trabalho no seu presente.

Com os leitores compartilho minha maneira de perceber a vida, a velhice e o cotidiano.

Para os profissionais proponho sugestões de atividades que possam favorecer o diálogo e fortalecer as relações, mesmo que sejam online e para minha mãe devolvo em forma de escrita todo afeto que ela me ensinou a ter no olhar pelo viver.

Quando tudo isso passar vou poder te encher de beijos, mas por hora, quem disse que não estou ao seu lado? Peço ao vento.


Cristiane T. Pomeranz

Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemorias.art.br E-mail: crispomeranz@gmail.com.

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