Governos começam a ver a criação do Plano de Ação Global como uma resposta da saúde pública à demência.
Estamos terminando o mês de setembro, mês dedicado à conscientização sobre as demências, especialmente a doença de Alzheimer, sendo também conhecido como o Mês Mundial do Alzheimer e o Setembro Lilás. A doença de Alzheimer é a principal causa de demência no mundo e no Brasil. É uma doença progressiva e neurodegenerativa que afeta a memória, a linguagem e a percepção do mundo.
Por isso não poderíamos deixar de falar do relatório sobre Alzheimer/Demência From Plan to Impact VII, lançado na 77ª Assembleia Mundial da Saúde 2024, em Genebra, na Suíça. Nele, o Brasil aparece em destaque, sendo reconhecido como o maior país da América do Sul em área territorial e populacional. Reconhece que a população brasileira atinge cerca de 210 milhões de pessoas, tornando-o o sétimo país mais populoso do mundo. Notavelmente, tem mais de 32 milhões de indivíduos com mais de 60 anos. E reconhece ainda que o acesso a cuidados de saúde no Brasil reflete seus altos níveis de desigualdade, caracterizados por disparidades significativas de renda, especialmente quando se trata de demências.
CONFIRA TAMBÉM:
Mas enquanto pessoas de alta renda optam predominantemente pelos cuidados de saúde privados, as classes média e baixa dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), o maior sistema de saúde público gerido pelo governo do mundo, proporcionando acesso universal a toda a população. Isso torna o SUS adequado para o desenvolvimento de um plano de demência sem precedentes adaptado ao Brasil.
Segundo os especialistas Eduardo R. Zimmer, professor assistente em farmacologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Wyllians V. Borelli, professor assistente em Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Chefe de Pesquisa do Centro de Memória do Hospital Moinhos de Vento, “os pesquisadores brasileiros estão desempenhando um papel de liderança na pesquisa sobre demência e, em colaboração com o SUS e o apoio do governo, podem fazer do Brasil um modelo para o Sul Global e para o resto do mundo”.
O relatório sobre Alzheimer/Demência From Plan to Impact VII, elaborado pela Alzheimer’s Disease International, contém análises de especialistas de todo o mundo, centrando-se no trabalho realizado nas sete áreas de ação. O relatório também destaca a necessidade premente de uma extensão do Plano de Ação Global para garantir que as pessoas que vivem com demência, os cuidadores e a sociedade em geral continuem a beneficiar desta resposta multilateral.
Destaques do relatório
1 – O número de Planos Nacionais de Demência (NDPs) implementados pelos estados membros da OMS estagnou desde 2023, permanecendo em 39. Isto equivale a 26,7% da meta 146, e apenas um quinto de todos os 194 estados membros que concordaram em implementar planos em 2017. Em maio de 2024, 48 países ou territórios (incluindo estados não membros da OMS) tinham NDPs.
2 – Os planos de demência nos estados membros da OMS incluem 20 na Europa, nove nas Américas, seis no Pacífico Ocidental, dois no Mediterrâneo Oriental, dois no Sudeste Asiático e nenhum na África.
3 – Ao todo, 27 países estão atualmente desenvolvendo um NDP ou integrando a demência em um plano de saúde mais amplo.
4 – A estagnação nas metas estabelecidas pelo Plano de Ação Global sobre a Demência é decepcionante, mas as pessoas que vivem com demência e os seus cuidadores ainda precisam que os governos cumpram os seus compromissos. Por isso foi solicitado uma prorrogação de 10 anos do plano de ação global sobre a demência, até 2035.
5 – Globalmente, 75% das pessoas com demência não são diagnosticadas e até 85% não têm acesso a cuidados pós-diagnóstico. Os sistemas de saúde precisam ser capazes de fornecer um caminho claro para o diagnóstico atempado e o acesso a cuidados e apoio contínuos, especialmente à medida que surgem novos tratamentos modificadores da condição.
6 – Os cuidados com a demência são muitas vezes ignorados em favor de novos tratamentos, apesar de serem um pilar essencial da resposta à condição. Embora os tratamentos farmacológicos sejam extremamente importantes e devam ser acessíveis a todos aqueles que deles possam beneficiar, os governos também deveriam dar mais meios e consideração aos cuidados, a fim de garantir que as pessoas que vivem com demência e as suas famílias enfrentem a condição com o apoio psicossocial e compaixão que merecem.
7 – Embora muitos intervenientes nos setores privado, não governamental e comunitário não poupem esforços todos os dias para abordar as muitas facetas da demência – desde a redução do risco ao diagnóstico, tratamento, cuidados, apoio e investigação – os especialistas concordam: planos nacionais de demência e as políticas podem multiplicar o impacto destas iniciativas. Os Estados não devem ficar à margem desta urgente questão de saúde pública.
A criação do Plano de Ação Global sobre a resposta da saúde pública à demência revigorou os esforços para que a condição fosse levada a sério pelos governos de todo o mundo. É essencial que os Estados-Membros concordem com uma prorrogação de 10 anos do Plano de Ação Global para que este trabalho possa continuar.
Acesse o relatório “From Plan to Impact VII Dementia at a crossroads” aqui.
Fonte: Alzheimer’s Disease International
Foto de Mehmet Turgut Kirkgoz/pexels.