Ícone do site Portal do Envelhecimento e Longeviver

Vovôs cinco-estrelas

Os amigos Anderaos e Ana Maria, moradores do Solar Ville Garaude, em Alphaville: arquitetura inspirada no Maksoud Plaza

Nana Caetano

 

Maria José Ribeiro, de 85 anos, estava enjoada de administrar a casa. José Anderaos, 78, avaliou que perderia a liberdade se fosse morar com um dos três filhos. Carmen Verlangieri, 80, não queria mais passar o dia sozinha, sem companhia. Por decisão própria, eles resolveram engrossar o time de 400 idosos que vivem em quatro modernos, bem equipados e caros residenciais da cidade. Com mensalidades entre 2.550 e 6.250 reais, esse tipo de moradia em nada lembra asilos ou casas de repouso. Oferecem assistência médica 24 horas, atividades físicas e de lazer supervisionadas, cardápios saborosos e instalações caprichadas. Em geral, hospedam apenas velhinhos sacudidos – pessoas acamadas ou com doenças mentais, por exemplo, estão fora do perfil de boa parte desses endereços.

Um dos mais impressionantes é o Residencial Santa Catarina, flat de primeira linha próximo à Avenida Paulista. Inaugurado em 2000, tem suntuoso lobby, dois restaurantes, staff uniformizado e 125 apartamentos com decoração clean. Conta ainda com o que eles chamam de programas de estímulo à convivência. São aulas de hidroginástica, sessões de cinema, bingo e visitas guiadas – em fevereiro, um grupo de doze pessoas foi conferir a mostra Pergaminhos do Mar Morto, na Estação Pinacoteca, provar o famoso pastel de bacalhau do Mercado Municipal e passear na Estrada Velha de Santos. “Na casa de minhas filhas jamais teria tanta coisa para fazer”, diz Carmen Verlangieri, 80 anos, que vive no Santa Catarina há quatro.

Fotos Heudes Regis

egis

O amplo restaurante do Residencial Santa Catarina, no Paraíso: ver filmes na sala de cinema é uma das distrações de Carmen Verlangieri

Recebe as últimas notícias!

Não perca nenhuma notícia, receba cada matéria diretamente no seu e-mail!

Todos esses residenciais estimulam saídas e não impõem regras para visitas de amigos ou familiares. “A presença deles é fundamental inclusive para a boa adaptação do idoso à nova casa”, afirma o psicólogo Paulo Greven, do Solar Ville Garaude, em Alphaville. Com arquitetura inspirada no hotel Maksoud Plaza, o lugar abriga 51 pessoas. Boa parte delas, senhoras. A proporção é essa, aliás, em todos os residenciais: cinco mulheres para cada homem. “A vantagem é que sou muito paparicado”, gaba-se José Anderaos, 78 anos, desde julho no Solar. A marchande de arte aposentada Ana Maria Rossi Pelizzari, 80 anos, é uma das muitas amigas de Anderaos. “Aqui me sinto jovem e útil”, diz ela. A princípio, o filho, o empresário Guido Pelizzari, estranhou a opção da mãe. “Agora estou recompensado por percebê-la mais feliz”, afirma.

Heudes Regis

A rua tranqüila do Lar Recanto Feliz: 43 casas e 155 suítes em terreno de 28 000 metros quadrados no Butantã

Desejo de ter o próprio espaço é comum à grande maioria das pessoas mais velhas. Em países nórdicos, como Dinamarca, Suécia e Finlândia, 12% dos idosos vivem em instituições. “No Brasil, esse número é de apenas 1%”, diz Fábio Nasri, geriatra do Hospital Albert Einstein. O aumento do poder aquisitivo dos idosos, no entanto, é um dos fatores que devem elevar essa porcentagem nos próximos anos. Uma pesquisa realizada pela empresa francesa de alimentação e serviços Sodexho mostra que 37% dos brasileiros acima de 60 anos ajudam financeiramente os filhos e os netos. Poucos, é claro, com as condições de Maria José Ribeiro, de 85 anos. Viúva e sem filhos, ela desembolsa em média 4.000 reais mensais pela infra-estrutura do Lar Sant’Ana, no Alto de Pinheiros. Gosta tanto do ambiente que em dezesseis anos nunca pensou em mudar. Fez questão de personalizar seu quarto com quadros, tapetes, louças e um lustre de cristal. “O melhor de tudo é não ter de ir ao supermercado nem de lidar com empregada”, conta.

Fotos Heudes Regis

gis

Lar Sant’Ana, no Alto de Pinheiros: piano na sala de convivência e opção de redecorar o quarto, como fez Maria José Ribeiro

Para quem, ao contrário de Maria José, acha um quarto insuficiente, uma opção é o Lar Recanto Feliz, no Butantã. Mantido pela Sociedade Beneficente Alemã, dispõe de 155 suítes e 43 casinhas completas, com sala, quarto, cozinha e jardim. Dispostas lado a lado em uma rua arborizada, formam uma pequena vila. Ali, assim como nos outros residenciais classe A, vale tudo: hospedar parentes, instalar internet, tocar piano, modificar a decoração e contar piadas. Só não se pode chamá-lo de asilo.

Portal do Envelhecimento

Sair da versão mobile