Acaso o correr dos anos nos faz menos desejosos de amor e intimidade? O filme “Elsa e Fred” (2014) nos faz ver que o fim para “essas tais coisas” não existe, não há limites quando se encontra aquele ou aquela que faz nossos olhos brilharem, nosso coração palpitar acelerado e as borboletas voarem enlouquecidamente na direção do outro.
Sou da opinião que o cinema sempre nos reserva boas surpresas, independente se o filme é bom ou não (aliás, algo muito relativo). Sempre encontro coisas que me alegram, me comovem, detalhes que muitas vezes passam despercebidos daqueles que veem na grande tela apenas um mero passatempo.
E num desses surpreendentes momentos da vida, lá estou eu, precisamente às 13:30hs, na fila (um tanto longa e confusa) do Cine Shopping Frei Caneca para assistir a versão americana de Elsa e Fred (2014). O evento é patrocinado pelo Itaú Viver Mais Cinema e acontece toda última terça-feira do mês, às 14 horas. Importante que todos saibam que é aberto para todos os públicos, inclusive com um debate no final do filme.
Bem, devo dizer que essa não foi uma “ida qualquer” ao cinema de uma mulher solitária que nada mais tem para fazer do que passar as tardes vendo histórias de amor, comendo pipoca e rindo e/ou chorando diante da imensa tela!!! Não, acreditem, eu estava lá a serviço do delicioso trabalho que realizo para o Portal do Envelhecimento, coluna “Filmografia”.
A sala estava lotada, tive que sentar na fileira “A”, podem imaginar isso? Ah, mas nada me incomodou, nem mesmo a insistente falta de “subtitles” (legendas) e uma ligeira revolta dos senhores e senhoras que lá estavam. Depois de duas tentativas frustradas de iniciar o filme (todas sem letreiros em português), a coisa ficou mesmo divertida. Era como se eu estivesse em plena Av. Paulista assistindo a uma passeata de protesto, sendo que aqui o coro era “Queremos legendas em português!!!”.
Passados aproximadamente 10 minutos, tudo estava resolvido, e o filme começava.
Voltando um pouquinho no tempo, em 2005, lá estava o “Elsa e Fred” argentino. Quem não se encantou com o romance do casal de septuagenários? A princípio tão diferentes e depois tão próximos, tão íntimos nas suas esquisitices e excentricidades e tudo isso numa fase da vida em que se imagina que nada mais pode acontecer!
Agora, estamos em 2014, Estados Unidos, com um diretor inglês Michael Radford (do sensível “O Carteiro e o Poeta”) e os experientes Shirley MacLaine e Christopher Plummer nos guiando pelo mesmo “Elsa e Fred”.
Apesar das críticas severas que a nova versão sofreu, o filme me agradou, principalmente pela extrema sensibilidade com que os atores vivem suas interpretações, o inusitado amor: para muitos, improvável pela idade avançada do casal, a suposta ausência de futuro e a doença de Elsa. Mas é, exatamente, aqui que eu gostaria de fazer alguns comentários.
brilharem, nosso coração palpitar acelerado e as borboletas voarem enlouquecidamente na direção do outro.
Vocês podem me perguntar: o que fazer com as diferenças que com a idade podem se intensificar, as ranhetices impossíveis de suportar e as transformações do corpo e suas incômodas consequências?
Se minha opinião vale alguma coisa, eu diria que quando se ama livremente, com verdade, sem exigências e com extrema tolerância, carinho e generosidade (até para as faltas, ausências e palavras duras do outro), a relação se transforma e nada mais importa: apenas você e seu amor, os protagonistas da vida.
E se, mesmo assim, minhas palavras não forem o suficiente para você, deixo um pensamento do dramaturgo Johan August Strindberg (Estocolmo, 1849 — 1912) em sua obra “Borrasca”: “A vida é curta, mas pode ser demorada enquanto a vivemos”.
Que você encontre sua Elsa ou seu Fred… Eu já encontrei o meu!!!