Como a mídia cobre o envelhecimento? Que informações nós, leitores, consumimos? Como ela cobre a violência cometida contra o idoso? Como circula uma informação nas redações dos jornais? Estas e outras perguntas foram debatidas e respondidas no seminário intitulado Velhice, Mídia e Violência, realizado no dia 25 de outubro, no Auditório do Teatro Tuca.
Ricardo Niquetti* José Kasuo Otsuka* Renata Meirelles Malheiros* Ingrid Mazeto e Sheila Aparecida
O evento foi organizado e promovido pelos pesquisadores em gerontologia do Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Nepe), da PUC/SP: Ingrid Mazeto, José Kasuo Otsuka, Renata Meirelles Malheiros, Ricardo Niquetti e Sheila Aparecida, sob a orientação de Beltrina Côrte.
O evento contou com a participação de Marcos Cripa, professor do curso de Jornalismo da PUC e chefe de redação de Jornalismo do SBT Brasil. Para ele, o jornalismo de hoje é completamente diferente do que era feito nos anos 70, pois há um novo caminhar na sociedade. Hoje os textos são rápidos, não contextualizados e com imagens, muitas coloridas. Cripa aponta que a mídia pode ou não reforçar preconceitos.
Sensibilizado pelo tema, Cripa pesquisou como o SBT Brasil vem cobrindo o envelhecimento desde quando o Jornal nacional foi implantado. Em um ano e três meses ele encontrou 17 matérias, índice alto para um jornal nacional que trabalha com fatos factuais, o que significa que o envelhecimento está na pauta do dia.
Das 17, ele selecionou 7 que refletem a longevidade e apresentou no evento. Das matérias apresentadas, o âncora usou adjetivação ao se referir aos idosos: vovó, vovozinha e vovô, embora a cobertura era de eventos que apresentavam uma imagem positiva da velhice. Duas matérias mostraram a velhice fragilizada, com imagens de idosos nas filas do INSS e em postos de saúde. De maneira geral, as matérias apresentadas não reforçavam preconceitos em relação à velhice.
Cripa e Ricardo respondem perguntas do público
Marcos Cripa detalhou a dinâmica de uma informação nas redações, afirmando que lá dentro não há tempo para se parar e pensar. Tudo é muito corrido e rápido. Normalmente uma informação antes de ser lida por nós nos jornais, ou vista na TV, passa por cerca de nove profissionais e a seqüência de importância pela qual ela passa é operacional. Não há especialistas. Aliás, segundo ele, o jornalista é especialista da generalidade.
Cobertura da violência
A pesquisa sobre como a mídia impressa cobre o envelhecimento foi realizada em colaboração com o grupo de pesquisa certificado pelo CNPq Longevidade, Envelhecimento e Comunicação (LEC), da PUC/SP, quem cedeu o material. Para estudar a mídia impressa o grupo utilizou-se de recortes de dois jornais (O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde) no período de junho, julho e agosto de 2004.
Foram encontradas 176 notícias, sendo 42 no jornal O Estado de S.Paulo e 134 no Jornal da Tarde. Destas, 75 notícias eram decorrentes de crime segundo o Código Penal, especialmente relacionadas a abuso físico, maus tratos e violência física; e 101 não decorrentes de crime, mas considerados pelo grupo como de violência estrutural causada pela desigualdade social e institucional.
O grupo, através desta pesquisa, observou que a mídia impressa, em especial os jornais estudados, apresenta uma imagem positiva do idoso. Primeiramente porque mostram pouca adjetivação ao se referirem aos idosos e em segundo lugar por trabalharem temas em que o idoso está em evidência, como foi o caso especifico da crise da previdência (aposentadoria, recadastramento, etc.).
Ao longo do trabalho também pode se observar que a mídia estudada é muito dependente de fontes oficiais, como delegacias e outros órgãos governamentais, não contemplando toda a diversidade e pluralidade das violências cometidas contra a pessoa idosa.
Da esquerda para a direita: Ana Luiza Teixeira que colaborou na filmagem, Beltrina, Kasuo, Ricardo, Sheila e Ingrid