A notícia abaixo relata a história de um casal boliviano que foi proibido de manter o romance no asilo onde moravam. A história pode nos parecer absurda, mas, infelizmente ela é mais freqüente do que imaginamos e também acontece nas instituições asilares brasileiras.
Uma colega enfermeira, fiscal da entidade de classe, relatou que um dia estava fazendo uma fiscalização do exercício profissional das suas colegas numa instituição asilar. Enquanto percorria os cômodos da instituição encontrou um idoso num quartinho minúsculo, escuro. Ele estava sozinho num canto. Ela se aproximou e perguntou o que ele fazia ali sozinho. A resposta do idoso a surpreendeu: “Estou aqui de castigo”. Ela indignada continuou: o que o senhor fez? Por que foi colocado de castigo? A resposta do idoso: “eu beijei a mão de uma colega idosa!”
Estas duas histórias nos instigam a pensar o quanto algumas instituições de longa permanência para idosos (ILPI) ainda estão distantes dos direitos dos idosos. São instituições que deveriam cuidar e proteger e se transformam em agentes da violência. É a contradição de quem deveria cuidar. Isso é uma manifestação gritante da violência institucional.
Não é só nas instituições de longa permanência para idosos (ILPI) que a violência institucional se manifesta. Segundo pesquisa Minayo (2005) “no nível das instituições de prestação de serviços, as de saúde, assistência e previdência social – as que pela Constituição configuram os instrumentos da seguridade social – são campeãs de queixas e reclamações, nas delegacias de proteção aos idosos.”
Pessoas idosas têm o direito de serem tratadas com dignidade, respeito e proteção. O afeto, o amor, o carinho, a paixão são direitos que não se perdem com a idade. Os profissionais que trabalham com idosos não podem esquecer isso e não podem ser agentes de regras que impeçam o livre exercício dos seus direitos.
Muitas instituições de longa permanência para idosos precisam passar por uma reforma de pensamento em relação ao serviço que se propõem a prestar. Pessoas idosas são sujeitos de direito pleno. A instituições asilares devem ser consideradas “lugar para viver” e não lugares para perder os direitos e a dignidade. O processo de educação permanente e continuada dos profissionais e gestores das ILPIs pode ser um caminho na busca da dignidade e proteção dos idosos.
Uma sociedade para todas as idades!
Casal de idosos é proibido de manter romance em asilo na Bolívia
Um casal de idosos foi proibido de manter seu relacionamento em um asilo de La Paz, na Bolívia. Irma Rodríguez, de 73 anos, e Jorge Carrillo, de 63, se conheceram na cantina da residência de San Ramón, onde viviam em alas separadas e só se viam na hora de comer. Uma vez por mês, eles saíam para buscar o pagamento da aposentadoria e aproveitavam para almoçar ou tomar um sorvete juntos. Depois de dois anos e meio de namoro, uma funcionária do asilo os surpreendeu se beijando e a administração impôs que eles não se falassem mais. Em maio passado, após uma série de incidentes envolvendo agressões verbais entre o casal e os funcionários, Jorge e Irma decidiram sair do asilo, e foram obrigados a assinar uma declaração de que não voltariam a procurar o local.
Sem dinheiro
“Como Romeu e Julieta, não pensamos nas consequências”, disse Irma à BBC. Uma vez fora da residência, o casal passou de alojamento a alojamento em La Paz tentando encontrar um endereço fixo, com as poucas economias que tinham. Jorge e Irma tentaram ainda se instalar em Cochabamba, sem sucesso. “O coitadinho não tinha dinheiro nem para comprar os comprimidos que toma para sua úlcera, mas mesmo assim o amo”, disse Irma. “Me sinto como uma adolescente dês de que o conheci”.
Separados
Vendendo todos os seus pertences, eles voltaram à capital boliviana e procuraram uma rádio local para contar sua história. Irma conseguiu um lugar em um asilo feminino, e Jorge voltou a viver com a família. Uma prima de Jorge disse à BBC que ele foi recriminado por seus familiares por ter se envolvido no romance. Como os dois tiveram de se desfazer de seus celulares por causa de dinheiro, eles ainda não haviam se reencontrado quando Irma foi entrevistada pela BBC. “Não quero ter que deixá-lo, porque eu morreria. Nem ele quer me deixar. Eu o amo. Não sei mais o que fazer. Ele é o único ser humano que me ama”, contou ela. A diretora do Serviço de Gestão Social de La Paz, Miriam Cope, disse à BBC que já pediu uma investigação sobre o ocorrido no primeiro asilo em que o casal viveu. Segundo ela, a nova residência de Irma também está tentando encontrar uma maneira para que ela e Jorge finalmente morem juntos.
Fonte: O Globo: Disponível Aqui