Sempre que se inicia um trabalho terapêutico, é necessário observar as particularidades e características da pessoa que será atendida. É necessário observar também qual é o tempo de resposta dele, a idade cognitiva em que ele se encontra ou o momento de vida pelo qual ele está passando. Trabalhar a música a partir da identidade sonora do paciente pode ser uma ótima ferramenta e uma grande ponte facilitadora para a criação do processo de vínculo. O vínculo entre musicoterapeuta e paciente é de vital importância e é o que permite que todo o processo terapêutico ocorra.
Rafael Ludovico Moreira *
Para a Federação Mundial de Musicoterapia (1996), a “Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.
A partir dessas definições, podemos observar que a musicoterapia possui vários campos de atuação e pode trabalhar em diversas situações, com públicos diferenciados. Sendo assim, pode ser uma ferramenta, no auxilio de inúmeros processos de desenvolvimento, como também contribui de forma relevante em diversos quadros clínicos apresentados.
Bruscia (2000, p. 109) relata que: “A música mobiliza todos os sentidos, e também produz estímulos motores, táteis e visuais, proporcionando-nos oportunidades de responder através destes canais sensoriais”. Dessa forma, podemos usar diferentes estímulos sonoros, de diversas épocas e fontes para estimular o paciente/cliente.
Independente da abordagem terapêutica escolhida, para que o processo terapêutico ocorra é de fundamental importância a criação do vínculo entre terapeuta e paciente. Esse é um dos elementos básicos da terapia, uma vez que, através da confiança, esse possibilitará que todas as potencialidades do paciente sejam trabalhadas. Em outras palavras, sem vínculo terapêutico não se consegue realizar trabalho algum. Scarpato (2001, p.108) aponta que “o vínculo propicia um ambiente favorável para enfrentar na terapia as muitas adversidades, para suportar níveis altos de angústia e falta de sentido”. Também descreve que o vínculo terapêutico é um campo de experimentação de novas experiências, de novas formas de vinculação, de diferenciações de padrões e de confrontação com os modos habituais.
Para se estabelecer uma relação de vínculo com o paciente em terapia, faz-se necessário que o terapeuta observe o tempo do paciente e as posturas corporais que ele apresenta durante o atendimento. O terapeuta também necessita observar o seu próprio corpo, suas sensações e comportamentos frente ao paciente e é preciso que o terapeuta busque empatia nesta relação. Benenzon, Gainza e Wagner (1997, p. 38), chamam de processo vincular “a história que vai se tecendo entre musicoterapeuta e paciente e o decorrer das sessões e o transcorrer do tempo”.
Quando falamos de tempo, precisamos observar e levar em conta que cada paciente possui um tempo próprio de reação, resposta, amadurecimento e elaboração de ideias e pensamentos. É necessário que o terapeuta saiba avaliar e respeitar esse tempo que o paciente apresenta na terapia: “o tempo terapêutico é aquele que só se forma durante um processo vincular entre um paciente e seu musicoterapeuta e é a forma como se fundem o tempo biológico do paciente com o tempo biológico do musicoterapeuta” (Benenzon, Gainza e Wagner, 1997, p. 38).
Ao se abordar vínculo musicoterapêutico, algumas palavras acabam surgindo para se relacionar com esta, como formas de comunicação, diálogo, e empatia. A empatia é um dos principais pontos relacionados ao processo terapêutico. Bruscia (2000, p.66) a descreve da seguinte maneira: “Empatia é a capacidade de compreender ou de se identificar com o que outra pessoa está vivendo. Isso pode incluir ter experiências corporais semelhantes, sentir as mesmas emoções, ter a mesma perspectiva de algo, pensar os mesmos pensamentos, fazer a mesma coisa juntos e assim por diante, a empatia se estabelece a partir do processo de identificação, isto é, quando uma pessoa se identifica com a outra e imagina o que aquela pessoa possa estar experienciando” .
No decorrer do trabalho terapêutico, muitas sensações acabam surgindo no terapeuta antes mesmo de ele conseguir elaborar as palavras ou conseguir organizar os pensamentos. Segundo Scarpato, 2001, p.110, “as posturas, tensões e modulações das formas somáticas explicitam a distribuição da excitação emocional nos corpos que estão em relação naquele momento, naquele campo de afetos. Há um diálogo anterior ao diálogo verbal.”
No útero de nossas mães, já sentimos através de vibrações os sons que cercam o ambiente em que estamos. Quando nascemos o choro é o primeiro som que emitimos; desde cedo é através da voz que comunicamos ao mundo nossas primeiras necessidades, “balbuciamos, brincamos com sílabas, choramos por necessidades ou artifícios. É pela música que começamos a decifrar o mundo” (Millecco, Brandão e Filho, 2001, p. 72).
Somos acalentados e embalados por canções e cantigas que nossos pais cantam. Conforme vamos crescendo, acabamos adquirindo as sonoridades e os costumes da sociedade em que vivemos e isto faz com que criemos uma identidade sonora musical e cultural deste meio em que estamos inseridos.
Sempre que se inicia um trabalho terapêutico, é necessário observar as particularidades e características da pessoa que será atendida. É necessário observar também qual é o tempo de resposta dele, a idade cognitiva em que ele se encontra ou o momento de vida pelo qual ele está passando.
Trabalhar a música a partir da identidade sonora do paciente pode ser uma ótima ferramenta e uma grande ponte facilitadora para a criação do processo de vínculo. O vínculo entre musicoterapeuta e paciente é de vital importância e é o que permite que todo o processo terapêutico ocorra.
Referências
BENENZON, R. De la Terioa a la Prática. Barcelona: A & M Gràfic, S.L., 2002.
BENENZON, R.; GAINZA V.H.; WAGNER, G. Sonido – Comunicación – Terapia. Salamanca: Gráficas Varona, 1997.
BRUSCIA K. E. Definindo Musicoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
Definição Federação Mundial de Musicoterapia: Acesse Aqui. Acesso em 20/08/2016, ás 7:56h
MILLECCO, R. P.; BRANDÃO, M. R. E.; FILHO, L. A. M. É preciso cantar: Musicoterapia, Contos e Canções. Rio de Janeiro: Enelivros, 2001.
SCARPATO A. T. Transferência Somática: A dinâmica formativa do vínculo terapêutico. Disponível Aqui. Acesso em 02 de setembro de 2013.
* Rafael Ludovico Moreira – Mestrando em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) – 2014 e Bacharel em Musicoterapia pela FMU – 2013. Atua como musicoterapeuta na prevenção, tratamento e reabilitação de diversas doenças, experiência com musicoterapia organizacional, voltada para autoconhecimento e resolução de conflitos e experiência com musicoterapia em geriatria e gerontologia com ênfase em reabilitação e tratamento de demências, assessoria em musicoterapia. E-mail: rafael_terapia@hotmail.com