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Velhice não é doença, por favor digam isso a Vanderlei Luxemburgo

Luxemburgo se recusa a ser só um detalhe. No programa “Bem, Amigos”, Muricy Ramalho o descreveu como um cara diferenciado. Sabe tudo de futebol, disse Levi Culpi. Luxemburgo é tudo isso, só falta entender que velhice não é doença!

 

Velho, de acordo com o Estatuto do Idoso, é toda pessoa com 60 anos ou mais. Nos países do Primeiro Mundo, esta idade sobe para 65 anos. Como Vanderlei Luxemburgo tem exatos 65 anos, é velho aqui e em qualquer lugar do mundo.

Por que estamos falando sobre isso? Porque Luxemburgo, vítima de idadismo, costuma negar a velhice. No dia 10 de julho, depois que seu clube atual, o Sport do Recife, bateu o Curitiba por 3×0, durante participação no programa “Bem, Amigos”, capitaneado por Galvão Bueno, soltou a pérola:

– “Confundem experiência com velhice”.

Luxemburgo é do tipo que cria (ou pega emprestado) uma frase de efeito e repete até a exaustão. Esta, por exemplo, já repete há anos. Como agora a repetiu em um programa de alcance nacional, teve repercussão.

Quem confunde velhice com doença é Luxemburgo. Talvez por isso Galvão Bueno tenha provocado o debate, mas duvido que Luxemburgo tenha prestado atenção, por isso estamos mandando um recado para ele por meio do Portal do Envelhecimento.

A frase de efeito do experiente técnico depõe contra ele mesmo. Embora dirija a frase aos jornalistas, uma categoria que ele considera no mínimo “chata”. Mas muitos são “chatos” com certeza e não escondem o preconceito em relação ao idoso.

Galvão Bueno, que é um ano mais velho que Luxemburgo, diz isso ao abrir o debate. Educadamente ele enaltece a juventude, para em seguida chamar a atenção daqueles que julgam o outro pela idade:

– “Passou de certa idade, passou do tempo, passou da época, superado está… isso não existe! Competência é competência, independente do tempo de trabalho e da idade que se tenha.”

Na sua elegância, Galvão evitou usar a palavra preconceito, mas tocou no ponto. São muitos os mantras do idadismo: técnicos ultrapassados; velhos para o cargo; não se renovam; não se reciclam; pensamento atrasado; não valorizam a base etc.

A outra face da moeda, que é idadismo do mesmo jeito, pede: sangue novo; novas ideias; mente arejada; nova safra; novos conceitos; novas técnicas; renovação etc.

De uma forma ou de outra estamos lidando com idadismo, preconceito em relação a idade (não importa qual). Para quem não se relaciona bem com a idade, o idadismo pode ser fatal, mas Vanderlei Luxemburgo segue firme e forte, embora a idade seja um calo no seu sapato.

No futebol existe a cultura do “gato”, o sujeito que usa uma identidade falsa ou emprestada de outra pessoa para enganar deliberadamente uma agremiação esportiva.

Luxemburgo nasceu em 10 de maio de 1952, mas até os 48 anos portava um documento com a data adulterada para 1955. Foi desmascarado apenas em 2000. Ao tentar renovar seu passaporte, a Polícia Federal desconfiou de sua identidade e a confrontou com sua certidão de nascimento. Constatou a fraude.

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O técnico viveu seu inferno astral. No auge da carreira, desejado por grandes clubes do Brasil e do mundo, único técnico com cinco títulos de campeão brasileiro no currículo, treinador da Seleção Brasileira… e indiciado por falsidade ideológica cuja pena varia de um a cinco anos de prisão.

– “Meu pai fez a besteira…”

Até hoje os três anos a mais que teve que assumir no papel o incomoda. No aniversário de 63 anos, usou uma frase significativa:

– “Era para eu estar com 60 anos, mas me envelheceram três…”

Luxemburgo ainda não se deu conta que é um velho. Deveria se orgulhar disso, pois tem a chance de recolocar o Sport Club do Recife entre os grandes novamente, por ser um expert na função de técnico de futebol.

No debate do programa “Bem, Amigos”, Muricy Ramalho disse que o Brasil tinha que reconhecer o trabalho de técnicos diferenciados como era o caso de Luxemburgo e Abel Braga (Muricy citou Abel por ter a mesma idade de Luxemburgo).

– “As pessoas tem que entender que não é a idade, é a competência desses dois.”

Levir Culpi, que é um ano mais novo, ao ser chamado ao debate, brincou: “Só agora me dei conta que estou ficando velho”. Galvão rebateu: “É que na verdade a gente nem pensa nisso”. Deveria ser assim, mas as pessoas querem que você pense nisso o tempo todo, dizendo que se está velho para o cargo.

A fala de Levi é proveitosa. Ele diz que Luxemburgo sabe tudo de bola, aprendeu desde criança e ensina até hoje (no meio esportivo os técnicos são chamados de professores):

– “Não é questão de idade, a gente não para nunca de aprender.”

Ser velho não impede ninguém de executar bem a arte que domina. Na temporada inglesa 2015/2016 tivemos um técnico campeão com a mesma idade de Luxemburgo. O italiano Cláudio Raniere surpreendeu o mundo ao tornar o pequeno Leicester campeão inglês. Um feito extraordinário, pois Raniere pegou um time pequeno, que na temporada anterior flertou com o rebaixamento, e o tornou campeão praticamente com o mesmo elenco.

Raniere tinha seu nome cantado no estádio e sua foto exibida em cartazes. Na imprensa, no entanto, não recebia o mesmo destaque. Os jornalistas torciam o nariz para o técnico e creditavam a fase vitoriosa do time aos bons jogadores, especialmente Vardy e Mahrez.

Na temporada seguinte, 2016/2017, o campeão foi o Chelsea. Toda a glória pela campanha foi creditada ao jovem técnico, também italiano, Antonio Conte.

Assim funciona o idadismo na imprensa. Em 2017, um time rico, Chelsea, dono de um elenco milionário, só se tornou campeão porque tinha um técnico jovem e com ideias arrojadas. Em 2016, um time modesto, Leicester, contou com a vontade, a disposição, a capacidade do elenco e o talento de alguns jogadores para ser campeão. O técnico, Raniere, “velho e ultrapassado”, era só um detalhe.

Luxemburgo se recusa a ser só um detalhe. No programa “Bem, Amigos”, Muricy Ramalho o descreveu como um cara diferenciado. Sabe tudo de futebol, disse Levi Culpi. Luxemburgo é tudo isso, só falta entender que velhice não é doença!

 

Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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