O ser humano não foi “planejado” para viver muito além dos cinqüenta anos. Nesta idade as mulheres já se tornaram inférteis, enquanto outras espécies animais não conhecem o fenômeno da menopausa. Os ossos de ambos os sexos apresentam uma tendência a desmineralização óssea (osteopenia e osteoporose) e as doenças degenerativas tornam-se freqüentes causas de morbidade.
Silas Antônio Rosa *
O desenvolvimento da atenção médica, aliado às melhores condições sócio-ambientais, tem contrariado este limite e empurrado a esperança de vida, principalmente nos países desenvolvidos, para muito além dos 50 anos, Com orientação médica e medicamentos adequados os idosos têm prevenido a ocorrência de muitas doenças que outrora eram causa de mortalidade. Mesmo após o advento dessas doenças pode o idoso conviver com elas por longos anos, seguindo as mesmas recomendações médicas: exercícios físicos, alimentação adequada, vida regular e medicamentos adequados.
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O sistema imunológico do idoso acompanha esta tendência de deterioração. Toda a imunidade sofre com o advento da velhice, tanto a imunidade inespecífica, quanto a específica. Com relação a esta última a perda é maior em relação a imunidade celular mas afeta também a imunidade humoral. Os idosos também sofrem uma perda de função do baço na sua defesa contra bactérias capsulares, conhecida como asplenia fisiológica dos idosos. Esta perda da imunidade celular explica a suscetibilidade maior que os idosos apresentam em relação às infecções virais, como gripe, AIDS e resfriado. A asplenia os torna mais suscetíveis a infecções por bactérias capsulares como o pneumococo.
Um problema que tem demandado a preocupação, principalmente dos americanos e europeus, que estão convivendo com a questão da longevidade, é uma doença chamada herpes-zóster, ou, simplesmente, zoster. No Brasil esta doença é conhecida como “cobreiro”. Longe de ser uma doença banal, é um motivo de grande sofrimento.
A doença se caracteriza pelo aparecimento de uma vermelhidão com bolhas agrupadas numa faixa do corpo, extremamente dolorosas. A dor corresponde ao acometimento de um nervo desta região e persiste por muito tempo, mesmo após a resolução do quadro cutâneo. Daí seu nome: neuralgia pós-herpética.
A etiologia do herpes-zoster é interessante: ele é causado pelo mesmo vírus que causa catapora (varicela).
Em condições naturais, sem o uso sistemático da vacina contra esta doença, geralmente a primeira infecção por catapora ocorre na infância. A partir desta primeira infecção a pessoa adquire imunidade que é reforçada a cada novo contato com o vírus, o que ocorre com freqüência, em cada epidemia ou surto epidêmico. Desde modo a imunidade geralmente permanece alta, enquanto o sistema imunológico permanecer eficiente.
No entanto, se por qualquer circunstância a imunidade específica para este vírus cai, esta pessoa que já teve catapora, pode infectar-se novamente estando parcialmente imunizado. Nesta situação, a pessoa não desenvolve catapora (que é doença que ocorre somente uma vez na vida), mas desenvolve o herpes-zóster. Portanto, o herpes-zóster representa uma nova doença causada pela segunda infecção pelo vírus da catapora. Os idosos, como têm com a idade uma perda parcial da imunidade, tornam-se particularmente propensos a ter Herpes-zóster. Na Itália 50% dos casos de herpes zoster ocorrem em indivíduos com mais de 65 anos de idade. Dados de diferentes partes do mundo levam à conclusão que a incidência do Herpes-zóster aumenta com a idade, chegando a ser de 10/1000 (1%) para os idosos com mais de 80 anos.
A vacina usada para prevenir a primeira infecção por catapora não funciona para prevenir o Herpes-zóster. Esta vacina contém 1.350 pfu (=unidades formadoras de placas, grandeza que mede a potência das vacinas). Procurando chegar a uma vacina mais imunogênica obteve-se a uma vacina cuja potência variava de 18.700 a 60.000 pfu (média de 24.600 pfu), que foi testada e mostrou-se efetiva na prevenção do Herpes-zóster, inclusive nos idosos. Num estudo com idosos, cuja média de idade era de 69 anos, a vacina se mostrou eficaz, reduzindo o impacto de dor e desconforto associados ao zoster em 61,1%, a incidência da doença em 51% e a incidência de neuralgia pós-herpética em 66,5%. O Laboratório Merck solicitou a aprovação do FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos para a utilização da vacina.
Portanto, além da vacina da gripe para os idosos, hoje já existem outras vacinas indicadas para este grupo etário e muitas outras surgirão nos próximos anos. Por isso a SBIM (Sociedade Brasileira de Imunização) tem um calendário de vacinação para os idosos e deverá atualizar este calendário com o passar do tempo.
*Silas Antônio Rosa, 60 anos, é médico pela Universidade de São Paulo (USP), advogado pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Tem especialização em Pediatria, Saúde Pública e Medicina do Trabalho e mestrado em Biologia Experimental.
Fonte: Disponível Aqui dia 07 de novembro de 2007.