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Uma Transformação Artística Provocada por um Derrame

O que faz um indivíduo afirmar que um derrame foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida? Esta frase é do britânico Tommy McHugh. Há dez anos atrás ele sofreu dois acidentes vasculares cerebrais que transformaram completamente sua vida: de operário de construção e lutador, ele passou a artista sensível, capaz de “chorar ao ver um inseto morrer” e, hoje, descreve os derrames como os grandes eventos de sua vida.


Será mesmo necessário que algo tão brutal e definitivo aconteça para se viver de forma honesta e coerente? Por que viver nos extremos, sempre no fio da navalha? Por que as experiências precisam ser tão radicais? Talvez as pessoas só percebam o verdadeiro sentido das coisas quando se chega ao fim, ao limite do improvável.

A extraordinária transformação de McHugh poderá agora ser vista em uma peça de teatro, que estreia este ano na Escócia.

O interessante de tudo isso é ver que todos aplaudem. É como dizer: “que bárbaro, dois aneurismas no cérebro mas tudo pela arte!”

A reportagem conta que após uma juventude conturbada, pontuada por brigas, drogas pesadas e passagens pela prisão, Tommy McHugh acordou um dia no hospital falando em rima e escrevendo poesias. McHugh não se lembrava de nenhum de seus 11 irmãos e irmãs, de seu passado violento ou de sua esposa, Jan, que aguardava ao pé da cama.

Então, perguntamos: os derrames redimiram todos os “pecados” e infrações cometidas na juventude e transformaram McHugh em um ser calmo, poético e dedicado a família? Que santidade ou glória foi alcançada pelo inevitável ou talvez, evitável?

Após os dois aneurismas ocorridos nos dois lados do cérebro, os cirurgiões inseriram micromolas de platina para conter o aneurisma do lado direito do cérebro e aplicaram um clipe do lado esquerdo para impedir novos danos. Segundo a matéria, a partir daí, de forma instintiva e quase compulsiva, McHugh começou a escrever, desenhar e esculpir, tentando expressar as imagens que surgiam em sua mente.

Os efeitos ditos “artísticos” que os derrames provocaram, com certeza, tem uma explicação científica. Não se trata de mágica ou qualquer mensagem divina para, num certo dia, se reconhecer a beleza da vida e das coisas simples do dia a dia.

Assustado, McHugh escreveu cartas para dezenas de médicos ao redor do mundo em busca de ajuda. Foi uma neurologista e professora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que começou a dar a ele algumas respostas.

Alice Flaherty, especialista nos efeitos dos danos cerebrais no comportamento humano, tinha vivido uma experiência similar à de McHugh. Depois de uma gravidez traumática e de seus bebês gêmeos nascerem mortos, Flaherty começou a escrever compulsivamente, em qualquer superfície que pudesse. A neurologista acredita que a compulsão pode ter sido causada por uma mudança bioquímica em seu cérebro.

Com uma explicação sensata, Flaherty acredita que os derrames de McHugh atingiram duas partes do cérebro: a responsável pela geração de ideias e a que controla ou inibe a expressão dessas ideias para o mundo.

A neurologista fala de potencialidades que, no caso de McHugh, com os danos provocados no cérebro pelos derrames, estimularam algo, como disse ela, reprimido ou talvez, adormecido. Este “algo artístico” já deveria existir, sabe-se lá em que parte da mente. É como se uma explosão interna tivesse gerado este turbilhão de imagens e cores prontas a entrar em ação.

Não se considerando um artista tradicional, McHugh diz não buscar a perfeição em seus trabalhos:

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Será preciso estar tão próximo da morte para “admirar as maravilhas da vida”? Que imposição violenta e inconsciente é essa que fazemos a nossa relação mente-corpo? Será essa a lição que aplicamos a nós mesmos para conseguir alcançar a luz no fundo do nosso túnel pessoal e privativo?

Pelas afirmações de McHugh, parece claro que ele acredita que seus derrames foram uma espécie de “rendenção” em sua vida. Tanto isto é verdade que hoje ele dá palestras em centros para pessoas com danos cerebrais e procura incentivar a criatividade dos pacientes.

E, ainda, McHugh sugere nas suas falas um certo “encantamento” quando afirma querer doar seu cérebro para a ciência após sua morte, para futuras descobertas.

A frase acima poderia ser diferente: “Fiquem aqui embaixo e vivam, enquanto há tempo”.

Referências

SODRÉ, I. (2012). ‘Derrame foi melhor coisa que me aconteceu’, diz lutador que virou artista. Disponível Aqui. Acesso em 16/02/2012.

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