Laercio, 66 anos, nasceu em são Paulo, cursou a Faculdade de Direito da PUC em 1966- atividade esta que nunca exerceu. Atualmente além de guia de turismo trabalha como professor na Universidade Aberta à Maturidade da PUC.
Luciana Helena Mussi e Alessandra Anselmi / Fotos: Alessandra Anselmi/Cristina – Câmara Municipal de São Paulo/Arquivo pessoal
É divorciado, pai de 4 filhos – Laércio, 42, Letícia, 37 anos Constância, 34 anos e Mariana, 28.
Sua carreira como guia de turismo foi iniciada em maio de 1980, associando ao trabalho propriamente dito, material de pesquisa considerada fundamental para passeios pela pequena cidade do interior paulista onde residia. Desde então, não parou mais.
Para quem deseja saber a importância que o turismo com idosos tem em sua vida, ele é taxativo: “são alegres, carinhosos, participativos e respeitadores. Claro que se tivesse que começar tudo de novo e pudesse escolher, ficaria só com os idosos”. Sobre essas e outras questões, Laercio, nos conta um pouco mais sobre sua trajetória.
Portal – Na sua experiência como guia de turismo especializado em idosos quais são as maiores queixas e necessidades hoje deste público em relação ao turismo e como eram essas queixas e necessidades quando começou a trabalhar com eles em 1980?
Laercio – Sem dúvida, acessibilidade em ônibus e hotéis. Hoje e desde o início do trabalho com os idosos essa sempre foi a maior queixa e necessidade. Atualmente tenho trabalhado mais em São Paulo, mas quando viajava a queixa eram roteiros não apropriados, com longa duração, viagens noturnas, horários não apropriados para as refeições.
Portal – O senhor destacaria alguns trabalhos/projetos em turismo voltados para idosos que façam sucesso no mundo e que poderiam ser adotados também no Brasil?
Laercio – Tenho trabalhado sempre só no Brasil e, portanto desconheço projetos no exterior voltados para o turismo de idosos. Para acompanhar idosos fora do país precisa ter uma boa experiência, roteiro bem planejado pela operadora, aqui já tenho visto tanta coisa mal elaborada, cheio de falhas, imagino em viagens para o exterior.
Portal – Turismo para idosos é diferente? Por quê?
Laercio – Sim, é diferente. O cuidado principal, volto a repetir, é a acessibilidade, o ritmo de caminhar é mais lento, se bem que os idosos que saem para passear tem mais disposição que muitos jovens, embora tenham mais restrições físicas como artrose, uso de bengalas, o que dificulta o caminhar.
Portal – A respeito da exposição “Carnaval de Sempre em Sampa” realizada em 1º de fevereiro de 2013 no CRECI – Centro de Referência da Cidadania do Idoso localizado no Viaduto do Chá que trouxe diversas pinturas e fotografias retratando os vários aspectos do carnaval paulistano, o que levou o senhor a associar envelhecimento com fotos de antigos carnavais?
Laercio – Acho que todos os idosos têm boas lembranças dos carnavais antigos, mesmo os que não brincavam em salão, mas ouviam as músicas, viam os blocos e corsos passarem pela cidade, por isso quis colocar fotos de carnavais antigos e, a exposição teve essa pretensão de resgatar a beleza do carnaval e trazer aos idosos essa lembrança dos carnavais que eles vivenciaram.
Portal – O senhor considera viável o uso do material resultante do trabalho da fotografia (resgate das lembranças) como possibilidade de ferramenta terapêutica com os idosos?
Laercio – Não sou um especialista nesse assunto, mas penso que sim, que seja útil.
Portal – O senhor poderia comentar seu livro “Quando começou em São Paulo? 458 respostas pelo guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho”?
Laercio – É um livro de pesquisa, bem embasado, mas escrito numa linguagem bem simples, no estilo dos antigos almanaques. O livro indica quando serviços, atividades, tipos de comércio, tiveram início em São Paulo. Destaquei o pioneirismo nacional ou sulamericano de São Paulo em vários campos. Sempre que consegui encontrar o início da atividade feminina mencionei no livro. O livro pode ser lido quando se tem um tempo pequeno para leitura, pois são informações curtas, objetivas e não há necessidade de uma sequência na leitura.
Portal – Como e quando surgiu seu interesse pelas “coisas” da cidade de São Paulo?
Laercio – Nasci em São Paulo, fiz o ginásio e o colégio no centro da cidade, sempre gostei do centro de São Paulo, percebi que com a história dos 450 anos de São Paulo poderia haver um maior interesse das pessoas em conhecer mais a cidade. Livros antigos e referênciais sobre São Paulo foram reeditados, sites sobre os 450 anos foram criados pelos grandes jornais. No site de uma agência de turismo onde eu trabalhava, publiquei algumas curiosidades sobre a cidade que fizeram sucesso, foram colocadas num painel no “Salão São Paulo de Turismo”, vi que as pessoas liam e até copiavam informações. Muitos passageiros e colegas viviam me cobrando um livro sobre São Paulo, então resolvi escrever e publicar o livro: “Quando começou em São Paulo? 458 respostas pelo guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho”.
Portal – Como se deu o processo de “garimpagem” na sua pesquisa?
Laercio – Foi por meio de livros, revistas, internet. Algumas informações eu já tinha em função das pesquisas que fiz para informar aos turistas, outras surgiram em pesquisas para novos tours e outras, achava que seria interessante e ia em busca da resposta. Para algumas encontrei a resposta, para outras ainda não. Depois resolvi, agrupar as informações por tema e classificá-las em ordem alfabética, a fim de facilitar a pesquisa e sem dúvida o turismo funcionou como base para o trabalho.
(roteiro das Portas no Centro da cidade – um dos roteiros criados pelo guia de turismo)
Laercio – Pretendo escrever um livro sobre particularidades de São Paulo. Estou elaborando um novo curso para a Faculdade Aberta da Maturidade da PUC, “A TV antes do VT” sobre a história dos primeiros anos da TV em São Paulo. Também vou dar continuidade ao curso “Conhecendo São Paulo” agora com novos enfoques além dos atuais que são: “Conhecendo São Paulo por meio da presença estrangeira, dos monumentos, dos templos, dos teatros e cinemas e das portas, vitrais e pisos”.
Portal – Como o senhor vê o acelerado envelhecimento da população brasileira?
Laercio – Vejo com grande alegria e esperança de uma longa e saudável vida. É muito agradável ver pessoas de quase 100 anos (tenho vários alunos com quase 100 anos) participando ativamente nas aulas da “Faculdade da Maturidade da PUC”.
Percebo que se começa a pensar nesse envelhecimento,como por exemplo, com prédios mais apropriados para a terceira idade, mas ainda há muito a se fazer, transporte público adequado, não apenas banco reservado, mas facilidade de acesso ao ônibus e ao banco especial, muitos são de difícil acesso até para os mais novos. Calçadas em ordem, boa parte das atuais são perigosas para todos.
Portal – Para finalizar, se tivesse que começar tudo de novo, faria diferente? escolheria os idosos novamente? Por quê?
Laercio – Comecei a trabalhar com idosos no turismo em 1983 antes até do “Clube da Terceira Idade que foi criado pela secretaria de Turismo em 1985. Sempre foi muito agradável trabalhar com idosos, a maioria, pelo menos dos que viajam ou passeiam, são alegres,carinhosos, participativos, respeitadores. Claro que se tivesse que começar tudo de novo e pudesse escolher, ficaria só com os idosos pelas razões que apontei acima.
Contato: laerciocardosodecarvalho@yahoo.com.br