Em meio a devaneios, jovens e adultos se surpreendem a todo o momento com novas descobertas.
As crianças, por exemplo, se encantam nos primeiros meses de vida com pequenos gestos, como os de suas mãos, ou ainda com os movimentos produzidos pelo vento, das cortinas de seu quarto, ou simplesmente com caretas elaboradas por familiares ao fazerem gracejos, na tentativa de tirar um sorriso da criança à sua frente.
De qualquer maneira isso não importa. Só o fato de sentir o gostinho de uma inusitada descoberta, já valeu a pena ter percorrido grandes ou pequenos trajetos ao longo da vida.
Como exemplo, de sonhos, descobertas e grandes conquistas, Ulisses Moreira Pereira percorreu uma longa estrada, até chegar ao Centro de Referência da Cidadania do Idoso, através de uma exposição de rádios.
Nascido na região de Coimbra – Portugal, no ano de 1942, acreditava em sua meninice que as pessoas cantavam e falavam dentro dos receptores de rádio, e que tinham tamanho reduzido, de acordo com o aparelho e quantidade de pessoas, que ouvia. Uma orquestra, por exemplo, que tem em sua integração uma grande quantidade de pessoas, para comportá-los, dentro do aparelho, teriam que ser bem pequenos.
Mas antes de tais inquietações, vivenciou uma experiência única. Seu tio, combatente na cidade de Lille, na França, durante a primeira Guerra Mundial, ao regressar a Portugal, no ano de 1918, emigrou para Estados Unidos da América – USA, de onde trouxe uma “Victrola”, fabricada pela VICTOR (daí o nome de Victrola), no ano de 1922. Ficou fascinado em meio a histórias, por ele, vivenciadas, na guerra e a música, reproduzida através de discos, tocados na “victrola”. Tal foi seu fascínio, que passou a colecionar rádios ao longo dos anos e a victrola, é parte fundamental e mais antiga de seu atual acervo particular, mesmo não se tratando de um rádio e sim de uma peça mecânica.
Os anos se passaram e a curiosidade ficou ainda mais aguçada. Em meados de 1961, veio para o Brasil, onde residia com seus tios e trabalhava na padaria dos mesmos.
De modo a saciar sua curiosidade, fez mais ou menos nessa época, um curso de rádio, sanando assim todas as suas dúvidas. No curso montou um receptor, que para ele na época, era algo de extremo valor, chegando a presentear seus pais, residentes de Portugal.
Sua paixão acentuou-se ainda mais, através da convivência com um falecido amigo, que tinha uma estação de rádio amador, possibilitando ouvir noite adentro transmissões diversas, do mundo inteiro, por volta do ano de 1965.
Algum tempo depois montou uma pequena oficina onde aplicou seu conhecimento adquirido no curso de rádio.
Pensando sempre no futuro, Ulisses estava sempre engajado em novos trabalhos, e conquistando assim seu espaço na sociedade brasileira. Desta maneira, ingressou na faculdade no curso de graduação em Economia, e se formou, na década de 1974 pela FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas.
Através de sua experiência e várias pesquisas, constatou que o ramo alimentício, seria o mais rentável, para investir, porém acreditando sempre na importância da percepção do todo e do que o cliente desejava.
Investiu, comprou e vendeu estabelecimentos, tendo êxito total em seus negócios. Atualmente desfruta da rentabilidade de seus investimentos, conquistados ao longo de sua jornada.
Através de seus relatos traz uma vivência que o marcou imensamente, ao ponto de ficar com os olhos marejados de lágrimas ao verbalizá-la.
O fato se passou no dia 25 de abril de 1974, em um de seus retornos a Portugal. Nesta data, tão precisa aconteceu a Revolução dos Cravos, golpe de Estado Militar, onde o regime ditatorial do Estado Novo foi deposto. Sendo iniciado um novo processo, culminando na implantação de um novo regime democrático, com o ingresso da Constituição, vigente a partir de 25 de abril de 1976. Em um dado momento uma senhora florista, diante da revolução, tomou a iniciativa de colocar um cravo na ponta dos fuzis. E ao final dessa revolução, que não foi disparado um só tiro, conforme relatos de Ulisses, todos se abraçaram, formando-se um lindo buquê de cravos, algo seguramente inesquecível.
Os anos se passaram e, diante da revolução tecnológica, acredita que “a válvula” é ainda o melhor sistema de reprodução sonora. E quanto aos rádios, mesmo na atualidade peças lindas e antigas despertam ainda grandes recordações, trazendo à tona todo seu romantismo, mesmo após décadas de existência.
Pensando um pouco na chegada da internet, à nossa atualidade, em termos de conhecimento, é indiscutivelmente formidável. As pessoas têm necessidades e conceitos distintos; basta acessar e investigar o que deseja.
Em meio a sua caminhada, Ulisses traz um acontecimento interessante. Relatou ter conhecido Mario Schenberg – referido como um dos precursores da Astrofísica Moderna e da Física Teórica, no Brasil. O mais curioso, é que passados alguns anos visitou a exposição do Padre Roberto Landell de Moura (considerado o pai brasileiro do rádio), na Biblioteca Pública Mário Schenberg. Em contato com a responsável pela exposição, na biblioteca, foi convidado a participar do lançamento oficial da Rádio CRECI@ (Centro de Referência da Cidadania do Idoso, São Paulo) e expor, no espaço, algumas peças do seu acervo de sessenta rádios, algo que jamais realizara.
Com a exposição pôde compartilhar com os usuários peculiaridades de grandes histórias vivenciadas na era do rádio, com toda vivacidade e fulgor daquela época. Além disso, surpreendeu-se ao ser abordado por alguns jovens, interessados em ouvi-lo e aprender um pouco, através de seus relatos.
Falando um pouco sobre envelhecimento humano e tecnologia, acredita que a idade deve acompanhar sempre o conhecimento e o mundo tecnológico é necessário para isso.
Não basta passar pela vida sem dela desfrutar e/ou deixar bons frutos. É importante vivenciar cada segundo da vida; todos os sentimentos e emoções, como se fossem únicos, transformando assim todo universo que está à sua volta, com sabedoria e persistência.
E a vida é assim…, em sua estrada há infindáveis obstáculos, linhas curvas e retas. Mas viver é uma arte. Independente do caminho a ser escolhido, é importante parar e refletir em alguns momentos, antes de seguir adiante, de modo a não sofrer grandes quedas.
Com sabedoria deve-se viver o maravilhoso espetáculo da vida, e deixar apenas como legado, doces e alegres recordações. Recheadas de emoção, sabedoria e muito amor.
Como diz a poeta Cora Coralina, “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.
(*) Viviane Moraes atua no CRECI@. E-mail: centrodereferencia1@yahoo.com.br. Fone: (11) 3258-4276/ 3259-4335.
Referência:
Disponível Aqui. Acesso em 01 nov. 2011.