Mudar nosso olhar sobre a velhice é essencial e, nós, da odontologia, temos um papel fundamental neste cenário, afinal, sorrir é essencial para o viver de bem com a vida.
Ludimila Candido Garofolo (*)
Com certa frequência ouço de alguns pacientes as seguintes frases: “Para que cuidar dos dentes? Estou velho, já vou morrer mesmo”.
É inegável que estamos mergulhados em uma sociedade que valoriza o jovem e seus atributos, ao velho cabe o lugar da doença e da inatividade.
É imprescindível iniciarmos o exercício de olhar a velhice sob outros aspectos, não somente por causa dos nossos pacientes, mas por nós mesmos. Afinal de contas, eu não quero ir embora agora. Pretendo ficar velha.
Então, respondendo à pergunta que iniciou o texto e exercitando esse novo olhar, posso dizer que cuidar da saúde bucal traz inúmeros benefícios.
A literatura atual indica que a doença periodontal, que é muito frequente em idosos, pode agravar doenças cardiovasculares, diabetes, além de ser possível causa de endocardite bacteriana e pneumonias. Embora sejam necessários mais trabalhos para esclarecer o assunto, deve-se considerar que o tratamento dentário é importante para saúde na sua totalidade (1).
Ter os dentes cuidados e a saúde bucal em dia melhora consideravelmente a autoestima.
A velhice aumenta sim as possibilidades de desenvolver doenças, mas ela não é uma doença. Quando mudamos essa perspectiva, cuidar de si mesmo deixa de ser uma perda (de dinheiro e tempo) e passa a ser um investimento.
Recentemente atendi uma senhora que estava perto de completar 100 anos. Ela decidiu fazer o tratamento semanas antes do seu aniversário. No dia da sua festa, comeu tudo que teve vontade, tirou foto com todos os convidados e me disse que nunca tinha se sentido tão bonita. Existe beleza em todas as fases da vida.
E é isso que temos que levar em conta, principalmente quando dados do IBGE anunciam que a população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos e ganhou 4,8 milhões de pessoas acima de 60 anos desde 2012, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017.
A realidade é esta, não só no Brasil como no mundo. Mudar nosso olhar sobre a velhice é essencial e, nós, da odontologia, temos um papel fundamental neste cenário, afinal, sorrir é essencial para o viver de bem com a vida.
Notas
(1) Ver https://w2.fop.unicamp.br
(2) Cf. dados disponíveis em: http://agenciadenoticias.ibge.gov.br
(*) Ludimila Candido Garofolo é Cirurgiã-dentista, Especialista em Prótese Dentária, Graduada pela UNESP – São José dos Campos (SP) em 2003. Trabalha no Centro de Especialidades Odontológicas da Prefeitura de São Paulo (CEO III Alto da Boa Vista) e Consultório Particular. Texto escrito para o curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, ministrado pelo Cogeae (PUC-SP), no primeiro semestre de 2018. E-mail: ludimilagarofolo@gmail.com
Foto destaque de Huyen Nguyen – Vietnam. Foto interna de Cristian Newman – México