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Sócrates!

Um pouco de ficção não será algo a ser depreciado. Ficção será apenas minha participação, as falas do mestre serão o mais próximo possível da realidade.

Waldir Bíscaro *

 

Escolhi essa forma de lhes apresentar o grande filósofo porque era essa a forma com que ele apresentava seu pensamento, conversando. Sócrates não deixou nada por escrito, tudo o que dele sabemos o foi por terceiros, como Platão. Sócrates adorava o diálogo e ninguém como ele soube usá-lo como método para obter de seus interlocutores as respostas de que precisava para fundamentar seus princípios.

Sócrates não impunha suas idéias, ele as extraía de seus discípulos através de uma inteligente seqüência de perguntas que levava o interlocutor a dizer naturalmente a verdade que o mestre queria a que ele chegasse. Para Sócrates, as idéias eram inatas e bastava um modo de interrogar para que elas viessem á luz.

Não era em uma sala de aulas que ele exercia esse papel, era na rua, nas praças, no mercado, onde houvesse gente que quisesse ouvi-lo.

Pois foi então, na rua, que nos aproximamos do mestre e lhe propusemos uma conversa. Apresentei-me como um estrangeiro que ouvira falar dele e queria levar para minha gente um pouco de suas idéias.

– Caro mestre, observei a forma inteligente como o senhor leva seu interlocutor a definir o problema que ele mesmo colocou.

Sócrates: Antes de tudo, meu caro, aqui não há mestre e, muito menos, senhor, mas tudo bem! Essa forma de se obter resposta da pessoa que pergunta, aprendi com minha mãe.

– Como assim, mestre Sócrates? Sua mãe era professora?

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Sócrates: Ela era apenas parteira! E parteira, como você deve saber, não produz bebês, elas apenas facilitam ao pequeno ente que venha à luz. É isso que faço quando um discípulo que me interroga e eu respondo com mais perguntas e assim facilito o nascimento de algo que já estava nele. A verdade. Na minha língua, chama-se a isso: Maiêutica, ou seja: parto. De certa maneira, também sou parteiro, parteiro de idéias que cada um já traz em si.

– Mas, Sócrates, você bem que poderia expor logo tudo aquilo que já sabe, afinal você me parece o mais sábio de todos por aqui.

Sócrates: Eu só sei que nada sei, meu caro, e é assim que começa a verdadeira sabedoria. É a partir do reconhecimento da própria ignorância que o indivíduo vai encontrar o caminho do verdadeiro conhecimento.

Eu não poderia sair daquele papo sem uma boa lição de vida, então insisti com o mestre, perguntando-lhe:

– Sócrates, ouvi dizer que você esteve com o oráculo de Delfos e gostaria de saber se ele lhe ensinou alguma coisa.

Sócrates: Não estive propriamente com o oráculo, mas sei o que ele ensina. Seu lema é: “Conhece-te a ti mesmo”. Também proponho isso e muito mais aos que me ouvem. Que não tentem se enganar a respeito de si mesmos, que descubram as forças que os dirigem, que empreguem essas forças não apenas no aperfeiçoamento do cosmos, mas especialmente no próprio aperfeiçoamento.

– Como se pode chegar a tais forças?

Sócrates: Pela meditação você pode descobrir a essência do homem e então vai saber que o núcleo da razão e do pensamento é a alma, a psyquê.

Infelizmente não foi possível concluir a conversa, Sócrates foi preso e condenado à morte. Seus inimigos não viam com bons olhos a inteligência e a aceitação do mestre pelos seus ouvintes, especialmente os mais jovens. Acusavam-no de desrespeito aos deuses, às tradições e às autoridades. Na realidade, ele afirmava que a felicidade não dependia de sorte – como dádiva dos deuses – e sim de cada um, o indivíduo era dono de seu destino. Fazia críticas aos políticos que deturpavam a democracia ateniense e mais, ele defendia a liberdade de opinião individual. A taça de cicuta foi seu patíbulo.

São Paulo: Junho 2013

*Filósofo e psicólogo e ex-professor de Psicologia do Trabalho na PUC/SP. E-mail: awbiscaro@uol.com.br

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