Antônio Peticov produz arte, produz cérebros coloridos, janelas, escadas, árvores, flores, luz, neon e muito mais. Sua produção vai além. A Arte de Peticov nos oferece um modelo de velhice que eu, nos mes mais singelos desejos, espero um dia alcançar. Vida com estética, capaz de quebrar qualquer norma imposta como conduta de uma vida pequena. Viver é grande! Envelhecer é imenso! Que a velhice seja assim! Potente em sua essência e capaz de transformar todo e qualquer velho na própria obra de arte.
Cristiane T. Pomeranz *
Quando paro para analisar o processo de envelhecimento, percebo com clareza que a flexibilidade é o grande segredo deste viver tão cheio de mistérios. Mas a pergunta que faço a todo instante é: Como envelhecer bem em uma sociedade cujo saber médico é tão autoritário? Como ser flexível mediante tanta dureza?
Não deveríamos ser nós mesmos, donos destes corpos que habitamos as pessoas mais indicadas para conduzir nossa própria vida?
Mas o discurso médico é forte e esmaga qualquer tentativa de reger a própria vivência. Somos facilmente derrotados e ao ceder a esse tipo de discurso, estamos então abdicando do enigma de habitar nosso próprio corpo conduzindo nossa própria existência.
Em 1903 através de Elie Metchinikoff, uma nova área de saber surge para estudar o envelhecimento humano. A Gerontologia passa a ser uma possibilidade de inserir o sujeito como parte da ciência já que o processo de envelhecimento diz respeito a um ser que não pode ficar a margem dessa questão.
Difícil tarefa essa de envelhecer em uma vida onde é a beleza da juventude quem dá as regras. Não é fácil ou, parafraseando a galera, “Envelhecer é osso!”. Tarefa árdua esta, onde se tudo der certo, estaremos vivendo o momento mais próximo da morte. Mais fácil é resistir a ela do que aceitar a própria finitude. Elaborar que somos finitos é uma tarefa subjetiva terrível. Trata-se da destruição da nossa própria imagem e com ela a perda da juventude eterna. Como agir? Muitos preferem negar a velhice até o fim, custe o que custar. E como sai caro disfarçá-la com Botox, plásticas e estéticas que plastificam o sujeito.
Enquanto envelhecemos, elaboramos com esforços as perdas decorrentes da vida ao mesmo tempo em que o discurso médico faz sua parte e nos transforma em sujeitos descartáveis, fracos, nomeados e vistos apenas através das diferentes patologias relacionadas à velhice.
Quem nunca foi a uma consulta onde o médico passou mais tempo olhando para os exames do que para o próprio sujeito em questão? As angústias sentidas ao fazer das aquisições algo que supere as perdas é enfatizada pela sociedade que diz: Velho é doente! Velho não aprende! Velho é rabugento! Viver a velhice passa então a ser, comumente angustiante.
Uma agonia capaz de dominar o cérebro do velho e transformar a vida em pensamentos depressivos que ganharão voz em meio a doenças que anulam o sujeito deste mundo.
Precisamos ser flexíveis. A qualquer custo.
Envolver-se com a arte pode ser uma ótima oportunidade de flexibilidade cujo processo criativo e a percepção de um mundo mais subjetivo compactuam com a saúde física e emocional.
Penso então nos cérebros adoecidos pela demência numa tentativa de apagar um viver indesejado e insuperável. Cérebros que se deterioram em meio ao vazio que a vida é transformada.
Peticov faz da arte uma maneira de viver e de envelhecer
Mas penso também nos cérebros do artista plástico Antônio Peticov, cheios de cores e sugestões de um mundo repleto de pulsão de vida. Um verdadeiro antídoto a esse mundo perverso.
Nascido em 1946 na cidade de Assis, interior de São Paulo, Peticov faz da arte uma maneira de viver e de envelhecer. O artista diz que sabe bem que seus documentos apontam 70 anos vividos, mas diz sentir-se com 45. E se a vida é uma escrita que vamos construindo ao longo do tempo, ao olhar os trabalhos deste artista, ao longo de sua carreira, vemos uma construção interessante e em constante transformação. Viver é dinâmico e a arte de Peticov é um reflexo da vida.
Mais do que flexibilidade, o conceito de envelhecimento ativo está registrado em seus trabalhos capazes de mobilizar o espectador e transportá-lo a um mundo inesgotável em energia e vibração.
Seus cérebros, levados para a arte, são criativos e cheio de cores. A ideia de trabalhar este tema nasceu, na década de 90, a partir de um livro de anatomia da face que despertou o interesse do artista quando morava na Itália e visitava um amigo por lá.
Peticov é um curioso que vê na vida uma oportunidade de expandir os horizontes de saberes diversos. E ao ampliar seus conhecimentos entrega um frescor a cada trabalho que realiza. Seja em qual idade estiver.
Sua arte é mais do que um trabalho. É uma conduta de um viver cheio de significados e energia.
Há quem pense que o envelhecimento ativo seja aquele retrato do velhinho tatuado que pula de paraquedas. A mídia resolveu desmascarar essa sociedade medicalizada extrapolando o conceito de bem envelhecer para uma velhice utópica e forçada, capaz de servir como uma luva para alguns poucos velhos. Não dá para engolir.
A Arte de Antônio Peticov é sem dúvida a coroação do que seja um envelhecimento intelectual ativo e pulsante.
Antônio Peticov produz arte, produz cérebros coloridos, janelas, escadas, árvores, flores, luz, neon e muito mais. Sua produção vai além. A Arte de Peticov nos oferece um modelo de velhice que eu, nos meus mais singelos desejos, espero um dia alcançar. Vida com estética, capaz de quebrar qualquer norma imposta como conduta de uma vida pequena. Viver é grande! Envelhecer é imenso! Que a velhice seja assim! Potente em sua essência e capaz de transformar todo e qualquer velho na própria obra de arte.
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* Cristiane T. Pomeranz é arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte e mestranda em Gerontologia Social PUC-SP. E-mail: crispomeranz@gmail.com