Abrimos as portas para escritores seniores e orgulhosamente estreamos nesse segmento com O Governador do Fim do Mundo, um livro sobre um homem que se não tivesse existido precisaria ser inventado, mas o bom dessa história é que ele existiu e mudou a história do Brasil
Em 1765, um jovem capitão de cavalaria vindo de Lisboa chega ao Rio de Janeiro. Na agora capital do Vice Reino (título pertencente, até 1763, a São Salvador da Bahia) ele permanece por alguns dias à espera do que lhe reserva o destino. Teme pelo futuro, já que foi transferido do reino por motivos disciplinares. Ao ser chamado à presença do Vice-Rei Conde da Cunha, representante máximo da Coroa no Brasil, recebe duas notícias, uma boa, outra nem tanto. A boa é que acaba de ser promovido a coronel. A má é que foi nomeado comandante de armas da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, que o Vice-Rei define, sem meias palavras, como “o fim do mundo”.
De fato, a rica e despovoada terra de ninguém que se estende da vila da Capitania de Santa Catarina às margens do Rio da Prata, um território três vezes maior do que Portugal continental, continua sendo objeto de disputa entre as coroas ibéricas. A Capitania de São Pedro do Rio Grande, criada em 1760 e diretamente subordinada ao governo central, permanece, em grande parte, ocupada pelos espanhóis. A vila e o porto de Rio Grande, capital do território, está nas mãos dos invasores. O governo foi transferido às pressas para o povoado de Viamão. Com o inimigo às portas, a população vive um clima de pavor. A administração está completamente desorganizada. As defesas se mostram incapazes de resistir a um novo ataque inimigo. Esse é o “fim do mundo” no qual o jovem oficial português vai desempenhar suas novas atribuições.
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O governador José Custódio de Sá e Faria, que assumiu a função em 1764, após o desastre do ano anterior quando se deu a invasão, recebe com simpatia o novo colaborador. Juntos começam o hercúleo trabalho de reconquistar a província que ameaça se desprender do Brasil. É nessa perigosa conjuntura que “O Governador do Fim do Mundo” vive suas aventuras e desventuras ao longo de um exílio de quase vinte anos no Brasil.
Tantos são os reveses, sucessos e peripécias que envolvem sua misteriosa trajetória que o homem de carne e osso poderia ser confundido com um personagem de folhetim. Mas seu legado é real e marcante na formação do Rio Grande do Sul. Além da reconquista do território, primeiro como comandante de armas, depois como governador, o oficial português terá papel decisivo na fundação da freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre, que se transformaria, durante seu período governativo, na capital da Capitania do Rio Grande de São Pedro.
Sinval Medina, porém, não sobrepõe os acontecimentos históricos aos dramas humanos. Adepto do princípio de que o romance é um gênero ficcional rebelde aos chamados “fatos reais”, o autor utiliza a História (com agá maiúsculo) como pano de fundo para contar histórias como poderiam ter acontecido ou de fato aconteceram. Assim, introduz no relato a dimensão do imaginário, estabelecendo com o leitor um pacto de verossimilhança, e não de veracidade (como se exige do jornalista ou do historiador). Sem desprezar a realidade factual, como já fizera em obras anteriores, Medina rompe o compromisso com a verdade histórica, transpondo a narrativa para uma dimensão mitológica em que o improvável se torna possível.
Nessa viagem entre os dados históricos e as névoas da ficção, Sinval Medina convida o leitor a conhecer a extraordinária figura do governador do fim do mundo, não por meio de um retrato em branco e preto, mas pela construção de um universo em que os traços do homem reverberam no fulgor da lenda.
Em suma, O Governador do Fim do Mundo pode ser lido como um documento com interessantes revelações sobre o Brasil no século XVIII, ainda que isso não passe de efeito colateral. A intenção do autor foi mesmo escrever um romance sobre um homem que, se não tivesse existido, precisaria ser inventado por um bom contador de histórias, tão cheia de ação, reviravoltas e aventuras foi sua vida. Este homem é real e o Rio Grande do Sul e o Brasil deve muito a este guerreiro.
Sobre o autor
O escritor e jornalista Sinval Medina nasceu em Porto Alegre em 1943 e vive em São Paulo desde 1971. Publicou seu primeiro livro em 1969 e estreou na ficção em 1980 com Liberdade Condicional. É autor de quinze obras de ficção, além de livros de poesia para crianças. Figurou entre os vinte nomes que representaram a moderna ficção brasileira, em 1986, na Feira Internacional de Frankfurt, Alemanha. Em 1999 conquistou, com Tratado da altura das estrelas, o Prêmio Zaffari Bourbon, nas Jornadas de Literatura de Passo Fundo, para romances em língua portuguesa.
Dedicado exclusivamente à literatura há mais de quinze anos (“não vivo do que escrevo, mas vivo para escrever”), Sinval Medina é adepto do lema “dia com página em branco é dia perdido”. Após sua estreia, com Liberdade Condicional (1980), publicou, entre romances e novelas, Cara, Coroa, Coragem (1982), Parece que foi ontem (1982), Memorial de Santa Cruz (1983), As múltiplas vidas do Dr. Gaspar (1986), O dia da caça (1989), Tratado da altura das estrelas (1997, segunda edição 2014), O herdeiro das sombras (2001), A faca e o mandarim (2004), A batalha de Porto Alegre (2010, segunda edição 2012) O cavaleiro da Terra de Ninguém (edição brasileira 2012, edição portuguesa, 2016), O corcunda de Bizâncio (2014), O mistério da estrada de Petrópolis (2016), Um dia quase perfeito para uma viagem de avião (este ainda inédito).
Em 2019 publicou, pela Portal Edições, a coletânea de ensaios Colcha de Retalhos, em conjunto com Fios da Meada, por Cremilda Medina. A parceria com o Portal do Envelhecimento se renova em 2020 com o lançamento de O governador do fim do mundo. Com este livro o autor encerra o ciclo iniciado com O cavaleiro da terra de ninguém, no qual traça o perfil de dois dos personagens mais importantes da história do Rio Grande do Sul no século XVIII.
Este livro não pode faltar na sua estante.
Serviço
Livro: O Governador do Fim do Mundo
Autor: Sinval Medina
Número de páginas: 440
Idioma: Português
Ano da edição: 2020
Aquisição: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/o-governador-do-fim-do-mundo/