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Revista Ibero-Americana de Gerontologia

Ao lançarmos o primeiro número da Revista Ibero-Americana de Gerontologia, queremos deixar uma homenagem a todos os que envelhecendo nos permitem, pela sua arte, escrever um pouco sobre este processo.

Eduardo J. R. Santos, Ricardo Pocinho, Junia de Vilhena, Esperanza Navarro- Pardo e Ana Alves da Silva

 

E gostaríamos de começar relembrando essa personalidade fundadora e fundamental que cresceu até à sua morte, e por isso se eternizou no campo do desenvolvimento humano – Erik Erikson. Um pouco da sua biografia oficial: Erik nunca conheceu o seu pai biológico. Quando a sua mãe voltou a casar, batizou-o de Erik Homburger, tomando o apelido judaico do seu novo marido. Auto-didata, e inconformado com a sua sorte, estranhando uma educação judia que contrariava a sua natureza nórdica, retratista talentoso, percorreu a Europa, e um dia cruzou o seu caminho com Anna Freud, com quem realizou os seus primeiros estudos e preparação psicanalítica. Insatisfeito, e sempre na procura de um crescimento pessoal, Erik abandona a Europa, rumo aos Estados Unidos. Mas antes de o fazer, rebatizou-se como Erik Erikson, isto é, Erik filho de Erik. Significativo…

E foi no seu novo destino, em confronto com um novo mundo em termos sociais e culturais, que Erikson despontou definitivamente para um pensamento verdadeiramente original e revolucionário: recorde-se o trabalho pioneiro junto dos índios Sioux que funda o seu modelo sobre o desenvolvimento da identidade. E este modelo fala-nos tão simplesmente deste processo que é crescer através da resolução de crises ao longo das etapas da nossa existência, uma forma de arte: como lutar entre a confiança de sobreviver e o medo, onde se radica a esperança de viver, tão típica dos recém-nascidos! Ou no final da vida: a sabedoria da crise de olhar para trás e desesperar pelo inacabado ou rejubilar pelo vivido…

Erikson faleceu em 1994 aos 82 anos, coroado de honrarias académicas, ele que nunca deixou de ser o auto-didata. Os estudos biográficos que nos legou sobre personagens como Jesus, Darwin, Freud, Ghandi e Lutero enalteceram a sabedoria do desenvolvimento humano e do envelhecimento, essa arte e virtude humanas.

Sim, somos sábios porque envelhecemos, e essa riqueza num mundo em falência será o caminho do futuro. Um grande sábio foi Sigmund Freud, que, na sua correspondência privada com o psicanalista português Abel de Castro, escrevia:

“quanto às minhas feições (um homem de 72 anos) creio que não terão, para os portugueses, maior significado…”.

Significado, quase profeticamente anunciado, relativamente ao mundo ibero-americano, o qual se colora de cinzento diariamente não apenas nos seus cabelos, mas também no seu ânimo.

Envelhecer é, portanto, ser sábio! Mas para envelhecer é necessária arte… Essa arte que o psiquiatra Thomae designou por “técnica de existência”. Essa arte que torna o envelhecimento, não obstante os seus sofrimentos psíquicos, a etapa da vida mais saudável do ponto de vista emocional, quando envelhecemos ativos e não em solidão. Porque ao envelhecermos, talvez as nossas neuroses da senescência não passem de ser a senescência das nossas neuroses antigas, em remissão, conforme nos alerta criticamente Bracinha Vieira.

Ao envelhecermos, embora num inconsciente atemporal, as nossas expressões evoluem. Ao Édipo atormentado da adolescência, sobrevém o Édipo – rei da velhice que em Colone diz:

“Antes, estava atormentado por males, que eram obra minha (…). Mais tarde saciei-me enfim do meu furioso remorso…”.

E porque o tema deste Editorial é a sábia arte de envelhecer, que queremos nos ilumine o caminho desta publicação, relembramos um poeta grande: Al-Berto. Algumas das suas poesias falam sublimes do medo de envelhecer, a “gerontofobia” dos adultos. De uma das suas obras fundamentais, justamente intitulada O Medo, colhemos dois excertos bem simbólicos:

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“e nunca me disseram o nome daquele oceano / esperei sentada à porta… dantes escrevia cartas / punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua / assim envelheci… acreditando que algum homem /ao passar / se espantasse com a minha solidão”

“Linha a linha as palavras apagam-se dos livros / nascem cardos nos olhos surgem estes galgos / acabados de chegar de outro poema longínquo / despertam a loucura / mas ele já não dorme nem se lamenta / nem prevê maior desastre: escrever um diário e envelhecer”

Envelhecer é uma arte criativa, pois criar é uma forma de anti-Destino, aquilo que nos imortaliza, como o antropólogo do imaginário, Gilbert Durand, nos chama a atenção. Enfim, criar e recriar espaços de reflexão e crítica é o que se pretende com este novo projeto editorial, lugar de estudo sobre a arte de envelhecer!

Sumário

Índice Editorial: a arte de Envelhecer

La experiencia de cuidar en primera persona: Vivencias de cuidadores informales de enfermos de Alzheimer

Programas de Exercício e Prevenção de Quedas: Um estudo piloto para identificar necessidades dos idosos a residir na comunidade

Salud biopsicosocial y relación con la carga experimentada por cuidadores familiares de personas mayores dependientes

La generatividad en la vejez: Extensión y perfil de las actividades generativas en una muestra representativa de personas mayores españolas

Modelo de atención gerontológica centrado en la persona y los cambios en la cultura de gestión económica de las residencias de mayores en España

La Historia de Vida como Método de Estudio en Psicogerontología

Envelhecer Precário: Notas sobre Trajectórias Precarizantes de Envelhecimento

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