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Resiliência em quarentena

Considerado o principal grupo de risco, a maior parte dos idosos encontra isolamento longe de seus afetos. Como ajudá-los a navegar pela pandemia e nutrir suas forças, já que estão entre fragilidade física e integridade emocional? Este é o assunto desta matéria do Clarín que conta com uma entrevistada especial: a colega Graciela Zarebski, especialista em psicogerontologia, da Argentina.

Verónica Frittaoni (*)


Os idosos são, ao mesmo tempo e paradoxalmente, os mais fracos e os mais fortes da cadeia de efeitos desencadeados pela pandemia. Além das fraquezas que em qualquer um de nós provoca o confinamento e a distância dos afetos, são eles, os idosos, que em tempos de coronavírus têm vencido a batalha contra a quarentena. É que, embora a grande maioria não mostre boa saúde física, o que resta é integridade emocional. E essa força, que os médicos definem como resiliência, torna o principal grupo de risco contra uma infecção pelo Covid-19, também o “exemplo” a seguir para conter as consequências psicológicas do isolamento.

Nem todos os casos são iguais, nem todos demonstram essa força de vontade, mas, no balanço, são muito mais bem-sucedidos do que as gerações mais jovens e menos treinados para “golpes”. Graciela Zarebski, especialista em psicogerontologia e vice-reitora da Faculdade de Humanidades, Ciências Sociais e Empresariais da Universidade Maimonides, Argentina, diz que:

A sociedade presta mais atenção à vulnerabilidade dos idosos. E hoje se fala muito mais da vulnerabilidade graças à pandemia, mas é uma boa oportunidade de aprender que os idosos são mais vulneráveis apenas em nível biológico. A reserva humana (emocional, cognitiva, coletiva, espiritual, corporal) que foram acumulando, acabou compensando a vulnerabilidade biológica. Vamos aprender com eles.”

Então, você não sente falta de contato com o exterior?. “Como todo mundo, não se pode negar, mas em geral eles estão mais preparados para serem resilientes. Como pode ser visto, são os que menos violam a norma (o isolamento preventivo obrigatório imposto pelo Governo Nacional)”, diz a especialista. Mesmo sabendo que eles serão os últimos a voltar à vida na sociedade tal como a concebemos.

Nos dias de quarentena, as redes sociais registram inúmeras histórias de como as pessoas mais velhas enfrentam o confinamento. Há aqueles que decidiram ficar sozinhos para minimizar as chances de contágio, aqueles que descobriram ou melhoraram seu relacionamento com a tecnologia e até aqueles que decidiram participar ativamente da luta contra a propagação do vírus. “Isso responde ao preconceito de que, quando passamos os 60, nos tornamos mais fracos em todos os sentidos do termo e da vida. Se o fazem, é porque avaliam que podem e que ficar sozinho não implica isolar-se, mais se manterem uma diversidade de laços e interesses”, afirma Zarebski.

Manter-se ativo para combater o tempo de sobra durante o confinamento é uma receita eficaz que não distingue por geração ou por recomendação médica. “Aqueles que já se aposentaram de algumas demandas diárias se acostumaram (a serem considerados mais vulneráveis). Nos idosos, o curso da vida foi se encarregando de informá-los. E então exercitam o autocuidado, retiram-se e adotam novos hábitos. Eles se conectam, portas adentro, com interesses adiados. É uma boa oportunidade para perguntar: o que estava relegando na minha vida?”, menciona Zarebski.

A vice-reitora esclarece que se trata daqueles que contam com  flexibilidade para se adaptar às mudanças. “Flexibilidade que lhes permite exercer a auto-indagação, o que implica poder parar e adotar uma atitude reflexiva, que é o que lhes permite manter sua autonomia. São pessoas que se perguntam: O que eu quero fazer com meu tempo, minha vida? A pouca ou muita vida que tenho pela frente, eu me responsabilizo, tomando-a em minhas mãos “, diz ela.

A chave, para a especialista, é diferenciar o isolamento físico do emocional. “Existe um paradoxo em jogo: fechar nossa porosidade para fora ao mesmo tempo pode significar que a abrimos para dentro. É por isso que nos isolar fisicamente para ser menos porosos em relação a invasores invisíveis, não deve levar ao isolamento emocional. Deve ser uma oportunidade para tornar-se mais permeável à nossa interioridade e a novos estímulos, aproveitando a virtualidade que sabíamos conquistar “, define.

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E é nesse ponto que filhos, netos, cuidadores, voluntários e instituições geriátricas precisam ativar suas funções. “Precisamos diferenciar diferentes grupos de idosos, por um lado aqueles institucionalizados e, por outro, aqueles que moram em suas casas, onde também é possível diferenciar um grupo de trabalhadores independentes e outro de dependentes. Em todos os casos, o que vemos são testemunhos de como eles são sustentados por suas redes de apoio e as que não têm redes, oferta de voluntários, vizinhos, recomendações por todos os meios”, assinala Zarebski.

Gerenciar o equilíbrio entre prevenção e medo exagerado de contágio, filtrar as informações que eles consomem e evitar restringir tudo “por precaução” são o lado B dos adultos mais velhos em quarentena. E é sobre essas fraquezas que o ambiente afetivo e de cuidado deve construir forças. Zarebski conclui:

A mensagem que temos para dar é o exemplo daqueles que sabem como administrar esse equilíbrio, cujos testemunhos são recebidos diariamente: procuram aproveitar o tempo de forma criativa, o medo de pegá-los os leva a ser cautelosos, a deixar o indispensável (aqueles que podem) e, se não, recorrer a ajudas.”

(*) Verónica Frittaoni – repórter do jornal argentino Clarín. Matéria publicada no dia 06/04/2020, na seção Buena Vida. Para ler a matéria completa, clique aqui. Tradução livre por Beltrina Côrte.


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