Ao encararmos a terceira idade – assim como a infância, adolescência e a maturidade, um ciclo da vida, uma “etapa” necessária que também traz benefícios e crescimento, resolvemos colocar o nome Residencial Ciclo Vital à nossa instituição que tem como objetivo oferecer um ambiente saudável e seguro, através do respeito e do comprometimento de todos, priorizando-se o bem-estar do idoso. Procuramos dar a assistência com calor humano, valorizando o idoso com a promoção da qualidade de vida através de programas de desenvolvimento pessoais e comunitários, em parceria com escolas, convênios, dentro da mais absoluta ética.
Maria Guiomar De Simone Martines *
Acompanhando o acelerado crescimento da população idosa brasileira e consciente que o envelhecimento acarreta uma série de mudanças, as quais podem nos tornar mais vulneráveis, é que desenvolvemos nosso Residencial, visando um cuidado especializado e individualizado à população idosa. O termo “vital” foi introduzido porque é, pelo próprio processo natural do envelhecimento, impossível e até desaconselhável não passar por ele. O ponto de partida se deu pela crença, pelo respeito e pela necessidade de atender a demanda de famílias preocupadas com seus familiares idosos, os quais são acolhidos por uma equipe técnica corajosa que aposta na capacidade de criação e transformação dos seres. Os desafios e dificuldades são aceitos diariamente, pois sabemos que estes são os sustentáculos para um crescimento pessoal e profissional.
O Residencial hoje conta com a ajuda de colaboradores que atuam direta ou indiretamente com pessoas idosas, prestando serviços médicos, de nutrição, terapia ocupacional, enfermagem, psicologia, serviço social, fisioterapia, odontologia, terapia floral e estética. Dessa maneira, pode-se oferecer tranqüilidade aos familiares que necessitam desenvolver suas atividades diárias e não podem dar a devida atenção aos seus idosos, sendo que estes estarão recebendo um atendimento com calor humano e competência técnica.
Contexto brasileiro
A expectativa de vida do brasileiro está se ampliando de modo expressivo. As pessoas estão vivendo mais tempo, o que seguramente demanda muitos serviços e um outro olhar. Uma vida mais longa gera muitos questionamentos, um deles é se é possível as pessoas se manterem atuantes no trabalho, na família, nos residenciais para terceira idade e em sua comunidade, permanecendo ativas quanto às trocas que promovem com o meio ambiente. Outro tipo de questão que se apresenta é a manutenção da vida com qualidade, como isso se torna possível e quais condições são necessárias para que o idoso sonhe e possa realizar seus sonhos.
Não é somente a expectativa de vida do indivíduo que se transforma, nota-se que com a transformação dos valores e padrões culturais do contexto social em que está inserida, a família também se transforma na qualidade de um sistema social aberto. Graças a esta peculiaridade é que a instituição familiar vem se modificando através dos tempos, mas sempre mantendo suas funções de procriação, proteção, alimentação e continente afetivo para seus membros. Embora esta mesma família possa vir a ser um agente de transformação social e buscar novas alternativas de cuidados para seus membros familiares.
O que se percebe hoje em relação aos cuidados dos pais e aos avós, bisavós e de toda essa gama parental idosa? A família não mais se organiza em torno da atividade de criar filhos e olhar seus idosos. Com as mudanças no universo feminino, encontramos, hoje, uma mulher ocupando um lugar importante no mercado formal e como até então ela tinha assumido diretamente a responsabilidade emocional pelos seus familiares, hoje ela busca novas alternativas de manutenção dos cuidados para com seus filhos e seus idosos. Uma dessas alternativas certamente será encontrada no trabalho que desenvolvemos no Residencial.
Nossa filosofia
O segredo de um bom trabalho e de uma vida longa não está só na dieta, na abstenção de cigarros e na prática de exercícios, mas está na nossa atitude, o primeiro passo para oferecermos um trabalho de qualidade é termos uma conduta otimista, é “aprender a ver o copo meio cheio e não meio vazio”. Aos 60, 70, 80 anos, nossos idosos provavelmente não terão tanta força e energia, mas estarão aptos a desenvolver atividades importantes e prazerosas para si e para os outros. Juntos usam estas aptidões, criações, inovações.
Empregando sabiamente a criatividade e o conhecimento, o Residencial, juntamente com os familiares, possibilita ao idoso desfrutar desse ciclo vital na sua plenitude, com o restabelecimento de uma imagem positiva, resgatando sua auto-estima, devolvendo-lhe as suas capacidades e suprindo necessidades.
O morar: depoimentos
O que é morar em uma instituição? Há algo no morar que a ciência ainda não conseguiu explicar. Tentamos ouvir os nossos moradores, para que eles pudessem expressar seus sentimentos em relação às suas vivências quanto a este tipo de moradia. Abaixo estão as falas tal qual foram ditas sobre o que significa morar no Residencial Ciclo Vital.
Regina, 70 anos, lúcida, sofreu AVC há cerca de 3 anos
Estou morando no Residencial Ciclo Vital. Nossa, deve ser horrível!!!!
Não é horrível, é só meio estranho.
Deixar a nossa casa, os nossos hábitos, tudo aquilo que formamos no decorrer de nossa vida.
Tenho que dizer que eu sempre levei uma vida muito estranha, muito fechada, e muito minha, mas também tenho que dizer que não é ruim e nem bom.
Depois de uma semana aqui no Residencial, comecei a ver que era uma coisa boa, havendo as referências que se faziam necessárias. Não é como morar na nossa casa, mas é confortável.
Dentro do que há de bom, temos que tirar em primeiro lugar a vida estranha com que estávamos acostumados.
Vejamos isso: Temos a certeza que a qualquer movimento estranho da nossa parte, temos uma pronta assistência, um atendimento especial para o que estamos precisando. Temos uma comida boa, com tudo que há de próprio e saboroso.
Temos quem nos dê banho, troque a roupa, penteie, e nos façam a maquiagem. Escutamos programas de TV, há palestras, jogos de buraco, trabalhos manuais, etc… Nos faz falta o convívio periódico com nossa família, mas que é suprido pela presença constante de minha filha e netos, que são umas gracinhas. Eles são muito bons e bonitos.
Há muitas festas na vila. Jantares porque chegou Fulano, porque é aniversário de Ciclano. Há jantares para tudo.
A Valéria [filha], acha que tem obrigação moral de dar atenção 24 horas para os filhos, marido e para mim. Hoje, comigo morando aqui, ela pode administrar melhor o tempo dela e nossa convivência salutar.
Luiza e Pedro (confeccionando enfeites de Natal)
Pedro, 73 anos, portador da Doença de Alzheimer – estágio inicial
Eu me sinto bem aqui.
Eu gosto daqui.
O pessoal é agradável, a gente não tem do que reclamar.
Eu sou sozinho, fiquei viúvo. Aqui a gente tem com quem conversar.
Os filhos têm a vida deles, e não dá pra gente ficar amolando todos os dias.
Eu me distraio cuidando da horta, ajudando em tudo que precisam. Colaboro sempre.
Gosto de uma comidinha boa, dos companheiros de mesa.
Gosto quando meu filho Luís vem me buscar.
Gosto de tocar um violãozinho e rever os amigos.Eu fui maquinista de trem e ganhei muitos prêmios.
Rosa, 85 anos, lúcida, totalmente saudável
Eu vim aqui, mas eu não conhecia. Minha filha veio com meu genro e
teve ótimas informações.
Daí eu cheguei aqui e falei:
– “Não é nada do que eles falaram… o café é tarde e eu acordo cedo!”
Mas aí, eu fui me acostumando e vendo que não era bem assim.
“É muito bom aqui, e estou contente”.
Aqui, o que tem de melhor é a tranqüilidade do lugar, as colegas com quem eu posso conversar. Posso ficar onde quero e ler meu Evangelho.
Se hoje que estou bem, minha filha precisa de ajuda para cuidar de mim, imagine quando eu precisar de fato.
É aqui que tenho que ficar.
Vocês é que vão cuidar de mim.
Luiza, 60 anos, lúcida, sofreu AVC há cerca de 2 anos
Sou mãe de quatro filhos. Eles procuraram um lugar bom para mim e acharam.
Eu acho aqui bom, muito bom e gostoso.
Como eu vou falar?!
Me sinto bem após um ano que estou aqui.
Ontem fiz aniversário e meus filhos vêm sempre me visitar.
Tenho médico, psicóloga, faço exercícios…
Todas são minha amigas. A comida é ótima. Tem seis refeições por dia.
O que eu mais gosto é a tranqüilidade. A paisagem é bonita.
Tenho tanta coisa pra falar de bom daqui, que nem sei.
Quando eu ficar boa e sair daqui e for embora para casa,
quero voltar sempre para visitar todo mundo.
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* Maria Guiomar de Simone Martines é Assistente Social com especialização em Recursos Humanos e Desenvolvimento Gerencial (Universidade de Sorocaba); Psicodrama (Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama de SP); Gerontologia Social (Univesidade Sâo Paulo); Educação em Saúde Pública (Faculdade de Ciências da Saúde São Camilo); e mestranda em Gerontologia pela PUC-SP. É sócia-proprietária do Residencial Ciclo Vital.
E-mail: guiomarsimone@yahoo.com.br