As representações do velho de ontem e de hoje - Portal do Envelhecimento e Longeviver
Ícone do site Portal do Envelhecimento e Longeviver

As representações do velho de ontem e de hoje

Ler uma boa matéria é mesmo uma delícia, um verdadeiro prazer, alimento valioso para o intelecto de um(a) pobre mortal. Alimento dos Deuses, tão bom quanto sexo ou um jantar no festejado restaurante brasileiro, eleito 4º lugar no mundo.

 Luciana H. Mussi

 

Bem, deixando os exageros de lado, me refiro, aqui, ao texto publicado na Folha de S.Paulo, “Os cabeças brancas” de Luiz Carversan, jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

Justifico o merecido elogio a Caversan: talvez pela proximidade de gerações (ele da década de 1950, eu de 1960) penso da mesma forma quanto ao sentimento que nutria pelos velhos. Confessemos: os velhos não eram nada queridos. Sempre muito austeros e rigorosos, nada davam, só exigiam. Como bem diz Caversan: “No máximo respeitava hierárquica ou sentimentalmente seus velhos mais próximos, para se impacientar com os demais”. Respeitar os velhos, no passado, era obrigação sem questionamentos. Estando certos ou errados, a prioridade era sempre deles. Eles tinham a palavra e ela representava sempre ordem.

Quando o jornalista escreve sobre a forma como o velho era percebido no mercado de trabalho, o faz com clareza porque era exatamente assim. Me fez lembrar de quem eu fui (sangue novo) no meu primeiro emprego.

Assim, Carversan traz das profundezas a representação do velho do passado: “velho era coisa ultrapassada, chata, sem ritmo, qual museu vivendo do passado e impedindo que nós brilhantes e impetuosos jovens alcançássemos mais rapidamente a glória e o poder”. Pensávamos: quando será que “esses caras” vão se aposentar? Já estão fazendo hora extra!

Brincando com as palavras do irônico Paulo Francis: “para troçar das bobagens que se perpetravam em nome da modernidade, pfiu!”

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

Verifique sua caixa de entrada ou a pasta de spam para confirmar sua assinatura.

É claro que hoje, vemos as coisas de uma forma bem diferente. O que fez mudar um pensamento que parecia tão concreto? Talvez o conhecimento e a convivência com pessoas que sempre nos ensinam, seja para o bem ou para o mal.

Caversan explica um triste fenômeno, muito comum e próximo para quem viveu neste complexo teatro corporativo: “No jornalismo, na publicidade, na economia, na vida pública e em dezenas de outros ramos, quantas carreiras foram interrompidas por conta de um dead line cruel ou um fim de linha artificial estabelecidos por uma necessidade doentia de “renovação” e “sague novo”?”

Um processo impiedoso, sem regras e respeito ao trabalho de quem, naquela época, “vestia a camisa”, dizíamos “dava o sangue, literalmente, para a empresa”.

O jornalista continua: “E aqui estamos hoje assistindo à valorização da experiência, da cultura e conhecimento acumulados ocorrendo de forma surpreendente, seja no Brasil, onde o índice de ocupação dos cabeças brancas está em alta, seja mundo afora, sobretudo na Europa assolada pela crise. Ali, temos o exemplo da Espanha, onde o desemprego entre jovens de até 25 anos está na estratosfera, mais de 50%, enquanto os mais velhos continuam tendo sua tarimba requisitadas para ajudar a transpor o maremoto da economia que coloca o país de joelhos”.

Ao ler esse parágrafo, pensei, ops! Exageros, porque as coisas não acontecem bem assim, o cenário para os “cabeças brancas” não está tão generoso como se anuncia na mídia. Mas, claro, Caversan, logo corrige, complementa seu pensamento: “Como sempre, não se deve generalizar, é claro, porque os dados do IBGE relativos aos postos de trabalho ocupados pelos mais velhos incluem aqueles que estão sendo novamente valorizados, sim, mas também, como lembra o jornalista Marcelo Soares, especialista em números, quem idealmente “não deveria precisar trabalhar”…”

Ah…e hoje, Caversan, cinquentões, sessentões e os além disso, lembram: “Esses moços/ pobres moços/ ah se soubessem o que eu sei…”, cantava Lupicínio Rodrigues já em meados do século passado!)”. Usando o poeta, o jornalista fala sério: A letra de Lupicínio “está na ordem do dia, e cada vez mais os “velhinhos” estão aí, arrasando, com suas vidas profissionais bem vividas para compartilhar e também, por que não, com seus smartphones, Ipads e outros gadgets que, aliados ao conhecimento acumulado, garantem a contemporaneidade e a qualidade de vida de quem merece mais do que aquele “respeito” que mais exclui do que integra.

E que vivam os “velhinhos” contemporâneos, com suas cabeças brancas assumidíssimas, prateadas e lindas de se ver e de se tocar, of course!

Referências

CAVERSAN, L. (2012). Os cabeças brancas. Disponível Aqui. Acesso em 06/05/2012.

Portal do Envelhecimento

Sair da versão mobile