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Repensando a velhice

Escolhi fazer o curso de extensão “Fragilidades na velhice: gerontologia social e atendimento”, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em busca de conhecimento e novas possibilidades na minha atuação clínica. Após o curso fico com a sensação de que a nossa cultura se nega a envelhecer e entrar em contato com o velho. Embora saibamos que a finitude é inerente ao ser, afastamos o velho que está no outro e, consequentemente, o velho que nos habitará amanhã.

Aline de Souza *

Sempre gostei da companhia do velho, das conversas e das histórias, mesmo repetidas. Tive o privilégio de conviver com a minha avó materna por 23 anos e sou muito grata. Além dela, vivo em contato com os velhos da família, os velhos amigos da família e um casal de velhos que me considera como neta do coração.
Na graduação de Psicologia tive o prazer de atender duas velhas que muito me ensinaram sem saberem e, por tamanha identificação, escolhi fazer o curso de extensão “Fragilidades na velhice: gerontologia social e atendimento”, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em busca de conhecimento e novas possibilidades na minha atuação clínica.

Logo no início do curso fui convidada a pensar e discutir sobre o que é ser velho e quando eu for velha pretendo…? A discussão trouxe à luz várias percepções, contradições, dilemas e até preconceitos.
Diante das discussões realizadas em sala de aula, ficou evidente a dificuldade de algumas pessoas em olharem para o ser que habita aquele corpo lento e enrugado, passando a generalizar o envelhecer, enxergando o velho como sinônimo de doença, algo que atrapalha ou que deve ser deixado de lado.

Com a idade normalmente o ser passa a ter mais limitações, que não são exclusivas aos velhos, podem acontecer a qualquer um e em qualquer idade. Porém, o olhar pejorativo exclui o velho da sociedade.
No Brasil as leis vigentes estabelecidas pela Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso definem que velho é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. É notável como que essa população tem crescido e, segundo dados do IBGE, em 2035 teremos mais pessoas idosas que crianças e jovens.

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Com as discussões, fico com a sensação de que a nossa cultura se nega a envelhecer e entrar em contato com o velho. Embora saibamos que a finitude é inerente ao ser, parece que cada vez mais negamos esse processo e vivemos em busca de um rejuvenescimento constante e afastamento do que nos remete à finitude. Ou seja, afastamos o velho que está no outro e, consequentemente, o velho que nos habitará amanhã.

Diante das várias reflexões realizadas durante o curso pude perceber que o sentido pelo qual eu permanecia nele havia mudado. Me vi pensando sobre a minha própria velhice. E na prática clínica observo que a mudança acontece em busca de possibilidades quando algo deixa de fazer sentido. Portanto, questiono se não seria esse o caminho para mudarmos a forma que vemos e tratamos os nossos velhos hoje.

Entendo que o envelhecer é algo muito amplo e multiprofissional, mas me parece ainda um trabalho de formiguinha sensibilizar a sociedade sobre ele. Após o curso me sinto comprometida em buscar novas possibilidades de sentido sobre o envelhecer, seja em minha família, quebrando alguns preconceitos; no ambiente social, promovendo questionamentos sobre o assunto ou no consultório repensando a finitude.

Referências

São Paulo (Cidade). Secretaria da Saúde. Saúde da pessoa idosa: gerenciamento de cuidados para a atenção integral à saúde da pessoa idosa. Secretaria da Saúde. Área Técnica de Saúde da Pessoa idosa; Escola Municipal de Saúde. – São Paulo: SMS, 2015. 158p.il.

* Aline de Souza é Psicóloga. Email: enilax@gmail.com

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