A espiritualidade está oculta dentro do cuidado humanizado, na empatia com o paciente, no apoio, no alívio, no acolhimento com carinho e respeito, e é considerada como um recurso de respostas para questões da vida que angustiam e parecem sem solução. Será que os profissionais de saúde estão preparados para lidar com esse novo âmbito da essência do ser humano em atendimento? Será que o paciente é acessível para falar sobre isso?
Simone de Cássia Freitas Manzaro *
Revendo dados da nossa história, observamos que desde os primórdios do século XVII, através do pensamento do filósofo Imanuel Kant, observava-se uma divisão entre o corpo e a mente. Ambos deveriam ser tratados e cuidados de forma separada. Um pouco depois, no século XIX, o olhar era voltado para a doença, e o doente ocupava um lugar de esquecimento.
Não muito distante, no século XX, o modelo anterior perdia sua força e, por conta do alto custo para manter os tratamentos e a insatisfação da sociedade no geral, começou uma busca por terapias alternativas. Nos dias atuais leva-se em conta que, corpo e mente, aspectos físicos e psíquicos não podem ser vistos de forma isolada ou separada, pois juntos vão em direção ao restabelecimento do equilíbrio do organismo como um todo.
Visto muito rapidamente a mudança que a visão do homem e da doença teve ao longo do tempo, faz-se necessário, hoje, considerar um novo âmbito de necessidade desse homem.
Mas por que falar sobre isso é tão importante?
Porque sabemos da importância em considerar o indivíduo em sua essência como um ser que possui necessidades nos âmbitos: biológico, psicológico, social, cultural e, agora, no âmbito espiritual.
E por que abordar o âmbito espiritual, a espiritualidade?
A importância reside no fato de que algumas doenças ou situações ao longo da nossa vida causam um efeito devastador na vida de algumas pessoas, levando-as a perguntar se essas situações são castigo, porque aconteceu justo com elas, porque não podem trocar de lugar com o outro e etc. Essas perguntas demonstram que além dos cuidados físicos e clínicos, há necessidade de que uma abordagem diferente, de mais proximidade, deve ser usada nessa relação.
O que vem a ser a espiritualidade neste contexto?
Deixa-se claro que, a espiritualidade é diferente de religião, esta entendida como uma doutrina, um sistema organizado de crenças, práticas e rituais que facilita o acesso àquilo que é sagrado.
A espiritualidade é algo que transcende a religião ou crença, tem como significado aquilo que é relativo ao espírito, diz respeito à essência do ser humano, é a busca pessoal por respostas sobre o significado das coisas. Dentro de um contexto de saúde e de atendimento podemos considerar a espiritualidade como a nossa atitude diante dos outros e de nós mesmos, uma busca por respostas.
Por que considerar a espiritualidade como parte do ser humano?
Como falar e lidar com a espiritualidade?
Em primeiro lugar, não podemos desconsiderar as experiências de vida que essa pessoa traz, nem tampouco ter preconceito com a sua religião ou muito menos invadi-la, lembrando que espiritualidade nada tem a ver com religião. Devemos acolher o sofrimento do outro, buscar oferecer um estado de tranquilidade que possa amenizar a sua dor, promover maior segurança e aceitação dos momentos difíceis e, refletir sobre nossa própria existência.
A espiritualidade está oculta dentro do cuidado humanizado, na empatia com o paciente, no apoio, no alívio, no acolhimento com carinho e respeito, e é considerada como um recurso de respostas para questões da vida que angustiam e parecem sem solução.
Será que os profissionais de saúde estão preparados para lidar com esse novo âmbito da essência do ser humano em atendimento? Será que o paciente é acessível para falar sobre isso?
Ao considerar o indivíduo como um ser biopsicossocial e espiritual o colocamos no lugar de um ser único e que tem necessidades que precisam ser atendidas. Para a Psicologia, a espiritualidade no contexto do atendimento em saúde acaba se tornando uma via de acesso ao paciente, um diálogo e, dessa forma cria um vínculo terapêutico e de integração com o objetivo de promover, minimamente, o seu bem estar psicológico.
* Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, realiza atendimento psicológico de adultos e idosos. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer-ABRAz. Possui experiência em estimulação cognitiva para pacientes com demências, principalmente Demência de Alzheimer; atua também com estimulação cognitiva preventiva; Realiza consultoria gerontológica, orientando familiares e cuidadores, criando estratégias e atividades para lidar com o paciente no dia a dia, supervisionando treinamento prático. É membro colaborador do site Portal do Envelhecimento. Email: simonemanzaro@gmail.com