Em ordem cronológica, serão relatados os principais eventos ocorridos com um idoso acompanhado em um Centro Dia Para Idosos (CDI) público, na cidade de São Paulo, e a atuação interdisciplinar da equipe.
Igor Gonçalves Giangrossi, Maria Daniela Clementino, Patricia Suarez Runga, Tatiane Cristina Araújo de Oliveira Lima, Viviani Modesto e Yamim Alves Fabiano (*)
Sr. João, 75 anos, aposentado por tempo de serviço, solteiro, sem filhos, ensino fundamental incompleto, morador do município de São Paulo, reside sozinho em imóvel próprio em um bairro da Zona Leste 1, no mesmo território que seu irmão mais velho, Sr. Alberto, legalmente seu curador, devido ao fato do Sr. João não apresentar condições concretas de administrar seus proventos e bens em decorrência de sofrimento psíquico pelo diagnóstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)[1].
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Vale esclarecer neste ponto que, no que tange às obrigações legais previstas ao curador estão: a responsabilidade pela gestão da vida, rendimentos e bens do curatelado, garantindo-lhe os direitos fundamentais como saúde, alimentação, qualidade de vida, convivência familiar e comunitária, dentre outros, sendo necessária a prestação de contas ao Judiciário, sob a fiscalização do Ministério Público.
No que se refere à dimensão das relações sociais, o Sr. João foi usuário, durante alguns anos, do Núcleo de Convivência do Idoso (NCI) – serviço que faz parte da Política de Assistência Social -, que compõe o escopo da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais[2], os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que visam, dentre os seus diversos objetivos, contemplar o trabalho social com os indivíduos e suas famílias, com vistas a prevenir ocorrências de situações de risco pessoal e social, bem como fortalecer os vínculos familiares e comunitários.
Enquanto usuário do NCI, o Sr. João foi participante ativo, dentro das suas condições, das atividades socioeducativas, culturais, dentre outras ofertadas, como também esteve muito envolvido nos espaços de convivência, apresentando importante vínculo com o serviço e com os outros (as) idosos (as) participantes e seus trabalhadores. Contudo, nesse período suas relações se resumiam a vivência desse espaço e com um lar assistencial religioso que, segundo familiares, distribuía, aos finais de semana, alimentação (marmitas), sua fonte de alimentos quando ele não estava no NCI. Ressaltamos que, nesse período, apesar das fragilidades, Sr. João apresentava autonomia no ir e vir ao serviço e demais locais, contudo, mesmo que ainda não de forma significativa, já demonstrava certo déficit no autocuidado.
Referente às relações familiares, as mesmas se resumiam a um sobrinho, o Sr. Carlos, que mora com seu pai, Sr. Alberto (curador), também idoso. De acordo com eles, o idoso, durante a vida, sempre apresentou comportamento “irritadiço” (sic) com alguns conflitos familiares, ao contrário do que o mesmo demonstrava no serviço, no qual apresentava boa relação interpessoal com os demais participantes e com os trabalhadores.
Cabe aqui esclarecer que Sr. João, antes da intervenção da equipe técnica do Centro Dia para Idosos (CDI), buscava assistência em várias dimensões de subsistência, como fonte alimentícia e de vestuário via doações, no entanto ele recebia valor proveniente de benefício previdenciário (aposentadoria por tempo de trabalho) que garantia a manutenção e subsistência sem a necessidade de auxílios de outras fontes.
Durante o acompanhamento no NCI, na dimensão de saúde, o Sr. João apresentava mobilidade reduzida e afasia em decorrência de um acidente vascular cerebral, hipertensão arterial, baixa acuidade auditiva em ambos ouvidos, desdobramentos do sofrimento mental nas relações e no autocuidado.
No período de acompanhamento no serviço da Proteção Social Básica (PSB), foi observado pela equipe técnica um declínio no quadro do idoso, principalmente no que se referia ao autocuidado – apresentando assim critérios para inserção no CDI – inclusão solicitada desde fevereiro de 2018, por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), em lista de espera. Em maio de 2019 foi realizada a transição da PSB para a Proteção Social Especial (PSE) de média complexidade, uma vez que, apesar de fragilizados, os vínculos familiares ainda existiam.
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Notas
[1]Segundo o “Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais – DSM V” da Associação de Psiquiatria Americana, a principal característica do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) é a presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões, sendo um distúrbio psiquiátrico de ansiedade. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-obsessivo-compulsivo-toc/> Acesso em: 23 fev./2021
[2]Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, onde o Conselho Nacional de Assistência Social, aprova a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de média (Centro Dia) e alta complexidade (BRASIL, 2014). Disponível em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf
(*) Igor Gonçalves Giangrossi – Graduado em Enfermagem, Pós-graduando em Enfermagem, Geriatria e Gerontologia, Serviço Franciscano de Solidariedade. E-mail: igor.giangrossi@sefras.org.br
Maria Daniela Clementino – Graduada em Nutrição, Mestre em Ciências do Envelhecimento, Serviço Franciscano de Solidariedade. E-mail: maria.clementino@sefras.org.br
Patricia Suarez Runga – Graduada em Terapia Ocupacional, Especialista em Geriatria e Gerontologia, Serviço Franciscano de Solidariedade. E-mail: patricia.runga@sefras.org.br
Tatiane Cristina Araújo de Oliveira Lima – Graduada em Serviço Social, Especialista em Saúde da Criança e Adolescente, Serviço Franciscano de Solidariedade. E-mail: tatiane.lima@sefras.org.br
Viviani Modesto – Graduada em Psicologia, Especialista em Programa Saúde da Família, Pós-graduanda em Terapia Cognitivo Comportamental. E-mail: viviani.modesto@sefras.org.br
Yamim Alves Fabiano – Graduada em Serviço Social, Serviço Franciscano de Solidariedade. E-mail: yamim.alves@sefras.org.br
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