Editores de seção muitas vezes gostam de brincar com referências culturais que são familiares (para eles) ao escreverem manchetes. E que podem ser um erro, uma vez que os leitores mais jovens podem não estar em sintonia com os tempos em que as frases foram produzidas. Fazer e reconhecer referências da cultura popular depende muito do que você gostou e quanta atenção você prestou naquilo.
Bettye Anding *
Mas a questão deste texto não é minha falha de memória, mas sim esta: editores de seção muitas vezes gostam de brincar com referências culturais que são familiares (para eles) ao escreverem manchetes. E que podem ser um erro, uma vez que os leitores mais jovens podem não estar em sintonia com os tempos em que as frases foram produzidas.
Meu exemplo favorito é o uso das palavras “enfeitiçado”, “incomodado” e “desnorteado” (em inglês: “bewitched”, “bothered” e “bewildered”) por um homem de 50 e poucos anos separadamente sob cada uma das três fotos em um layout de página e a remoção desastrosa – antes da impressão – de uma das imagens por um homem ignorante de 30 e poucos anos, mas editor mais experiente.
B-B&B [pois as 3 palavras começam com b em inglês] vem de uma música de Rodgers e Hart de um show de 1940, chamado Pal Joey, e o rapaz não sabia disso. Eu me simpatizei com a angústia do homem que fez o layout porque “enfeitiçado e incomodado” não fazem muito sentido quando estão sob apenas duas fotos.
Depois que eu vi aquela pequena manchete, comecei a pensar sobre algumas que eu escrevi durante os meus dias de trabalho. Eu usei o “House Divided” – que faz referência à Bíblia e, posteriormente, o endereço de Lincoln Gettysburg – em uma história sobre uma casa grande de plantação de uma família de fazendeiros. Em seguida, houve “Amazing Graceland” em um artigo sobre a casa do falecido Elvis Presley em Memphis, e eu acho que o hino ainda está sendo cantado, então esse até que não está tão fora de moda.
A entrega do ‘The New Orleans Advocate’ me trouxe “Cane Mutiny” sobre o enfraquecimento de culturas próximas a Vacherie devido ao excesso de chuvas deste ano; é uma referência de The Caine Mutiny, um romance que, em seguida, virou filme do início dos anos 50. Isso aconteceu 25 anos antes da escritora da manchete nascer, mas, como a maioria dos jornalistas, ela, obviamente, pode alcançar uma parte muito distante da cultura popular.
Eu pesquisei no google “referências culturais populares desatualizadas” e as que encontrei são tão recentes que foram poucas as que eu mesma reconheci como o trecho “Nós não estamos mais no Kansas” do filme O Mágico de Oz feito no fim dos anos 30 (suponho que poderia se encaixar em uma história de viagem). A maioria das coisas não eram mais velhas do que Justin Bieber, e eu definitivamente não entendi nenhuma das referências musicais que os sites consideravam desatualizadas.
O que me lembra de um incidente na seção Vida TP, que teve lugar nos últimos dias do século passado: Um repórter usou uma referência cultural popular em uma de suas histórias, e eu – sem noção – pedi uma explicação.
“É de uma canção dos Beatles”, disse ele, revirando os olhos, seguido da maioria dos funcionários que estavam perto o suficiente para escutar.
Eu acho que fazer e reconhecer referências da cultura popular depende muito do que você gostou e quanta atenção você prestou naquilo. E pode-se dizer que a cultura popular foi superior na minha época. Mas não deixe um idoso começar a falar sobre isso.
* Bettye Anding é editora aposentada da seção de vida do The Times Picayune, pelo qual ela escreveu a coluna “Fios de Prata” até sua aposentadoria. Tradução livre de Dhara Lucena. Acesse Aqui