Quem vai cuidar de você na velhice: o carteiro, um imigrante ou um raio infravermelho? - Portal do Envelhecimento e Longeviver
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Quem vai cuidar de você na velhice: o carteiro, um imigrante ou um raio infravermelho?

Em pouco tempo, surgiram muitas iniciativas promissoras. A empresa de correios (Le Poste), uma das maiores estatais do país, passará a oferecer serviços de cuidados a idosos que moram sozinhos. Um trabalho bem parecido com aquele da Pastoral da Pessoa Idosa aqui no Brasil. Mas é no setor de tecnologia que as inovações surgem com mais vigor. Está em curso uma revolução na teleassistência. Não apenas por uma imensa quantidade de aplicativos para monitorar idosos e a saúde, mas porque o conceito de monitoramento está em questão.

Jorge Félix *

 

Depois de alimentar a necessidade de reprodução da poupança dos baby boomers com uma desregrada concessão de créditos, a economia financeirizada, agora, se vê na berlinda de custear, além das aposentadorias, os cuidados de longa duração e os sistemas de saúde cujos custos são cada vez mais pressionados pelos avanços tecnológicos. Em outras palavras: aquilo que provocou a grande conquista da humanidade, a vida mais longa, cobra seu preço à sociedade.

Basta dizer que entre os quatro países mais atingidos pela crise financeira de 2007, aqueles que foram batizados como PIGS (em contraponto aos promissores BRICS), três são top 10 no ranking das nações mais envelhecidas do planeta e um (Espanha, no acrônimo o S de Spain) é top 20. O desafio de apresentar respostas às demandas econômicas do envelhecimento tem estado presente nas discussões globais há muitos anos, por meio dos planos de Madrid, de 1982, e de Viena, de 2002, elaborados nas assembleias da ONU. Mas, neste momento, o planeta é empurrado a fazer uma revisão de suas diretrizes sob pena de o envelhecimento agravar a nova estrela da economia global: a desigualdade social.

Como as finanças públicas estão a contar moedas, resta aos Estados o papel de indutor do empreendedorismo, da inovação, da pesquisa e do desenvolvimento. Essa postura tem o gosto amargo de reconhecer sua limitação no século XXI ou a chamada “frustração do progresso”. No entanto, estão aí muitas possibilidades de vitória na disputa inédita na História entre a economia e a longevidade humana.

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Poderíamos citar como exemplo do que se quer dizer o esforço de Barack Obama para criar seu sistema misto de Saúde. Seria apenas um exemplo das limitações políticas do Estado. Embora nos Estados Unidos, o setor privado permaneça extremamente atento para a economia da longevidade (voltarei aos EUA em posts futuros). Os cases mais virtuosos, porém, são Alemanha e França (deixemos de lado aqueles países que não estão no planeta, os escandinavos). Veremos como os governos desses dois países estão empenhados nessa revisão econômica sobre o envelhecimento e quais esforços estão sendo feitos para aproveitar as oportunidades na iniciativa privada sem abandonar um papel relevante do Estado. Em ambos os casos, a indústria do cuidado é o segmento protagonista das políticas públicas como alvo para despertar o “espírito animal” do empresário.

De acordo com a ministra alemã de Assuntos de Família, Idosos, Mulheres e Jovens, Manuela Schweisig, seu país tem hoje 2,5 milhões de pessoas com necessidade de cuidados de longa duração. Em 2030, serão 3,5 milhões de alemães ou 4,5% da população. Embora destaque que o país tem “um estável, resiliente, flexível e sustentável sistema de Seguridade Social”, herança do Estado do Bem-Estar Social do pós-guerra, Schweisig prepara mudanças na estrutura de cuidados da Alemanha. Essas alterações estarão explicitadas no 7º Relatório “Cuidado e Responsabilidade – construindo e preservando comunidades sustentáveis”, a ser divulgado nos próximos meses com as diretrizes do programa “Repensando o envelhecimento”.

O documento estabelece as atribuições municipais e federais e faz um mapeamento do setor de cuidado (care) no país. Devido ao grande número de pessoas necessitando de cuidados, o governo assume que a família precisa de amparo, o governo oferece, então, serviços ou subvenções, crédito (haverá uma lei específica para financiar cuidados com juros subsidiados, o pflegestärkungsgesetzt) e suporte para o setor privado com o objetivo de manter ao máximo a vida independente dos “mais idosos” (maiores de 80 anos).

O programa prevê ainda amplo treinamento e qualificação de cuidadores, batizado de “ofensiva” tal a emergência de ampliar a oferta dessa mão-de-obra, e uma ampliação dos centros-dia ou contratos privados de cuidados. Esses contratos – rico mercado para os advogados – agora serão fiscalizados pelos Procons, depois de muitos anos de litígio entre empresas de cuidados e familiares de idosos.

Os desafios, tamanho e oportunidades desta indústria ficam mais claros com o caso da França. Desde 2013, a então ministra da Pessoa Idosa e da Autonomia, Michèle Dalaunay, divulgou o relatório “A economia da longevidade, uma oportunidade de crescimento para a França”. São seis propostas para tornar o envelhecimento populacional e a indústria do cuidado (sobretudo a teleassistência) um filão de negócios e de exportação de produtos e serviços capaz de reanimar o PIB. No modelo francês, o governo também propõe linhas de crédito e incentivos fiscais.

Leia o artigo na íntegra Aqui

* Jorge Félix é especialista em economia da longevidade, jornalista, professor e mestre em Economia Política pela PUC-SP. É autor do livro“Viver Muito” (Ed. Leya).É colunista da Brasileiros e colaborador do Portal do Envelhecimento. Site: Acesse Aqui

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