Uma queda sempre envolve múltiplos fatores de risco. Trabalhando nessas questões o Programa de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa (PASPI), da Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia divulgou os resultados de uma pesquisa sobre os fatores de risco de quedas com possibilidade de fratura de fêmur.
A análise foi feita no segundo semestre de 2011 nas áreas de abrangência das Unidades de Atenção Primária à Saúde da Família (UAPSF) Lagoinha I.
A reportagem do Correio do Brasil explica conta como a pesquisa foi conduzida: agentes de saúde visitaram as casas dos idosos cadastrados na unidade e, através de um checklist, avaliaram os fatores de risco de queda de acordo com o ambiente domiciliar.
Dentre os fatores de riscos extrínsecos, que envolvem obstáculos ambientais e situações sociais de risco, apresentaram relevância os seguintes itens:
– utilização de tapetes (65,10%);
– piso domicílio escorregadio (54,71%);
– não utilização de luz sentinela (65,09%);
– ausência de cadeira de apoio para se vestir e calçar (74,52%);
– ausência de telefone ao lado da cama (63,03%);
– ausência de barras de apoio no banheiro (96,22%).
Observem que todos os fatores de risco apresentados podem ser trabalhados pelas famílias, alguns problemas, inclusive, de fácil resolução.
Quanto aos fatores intrínsecos, como mudanças fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, presença de doenças e/ou fatores psicológicos e reações adversas ao uso de medicamentos, destacaram-se: a utilização diária de vários medicamentos (63,19%) e limitações sensoriais como visão e audição (58,46%).
O trabalho realizado nas cidades serviu como projeto piloto, o próximo passo é ampliar a pesquisa. A partir dos resultados, a ideia é desenvolver ações para diminuir as quedas e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos idosos.
Sempre ouvimos que as fraturas nos idosos, principalmente as do fêmur são motivo de grande preocupação tanto para o idoso como para a família. A reportagem “Fraturas no idoso” da Dra. Cíntia Bittar, ortopedista, especialista em cirurgia do pé e tornozelo da equipe do Instituto Wilson Mello, de Campinas, e da PUC Campinas, explica que as principais lesões são as fraturas proximais do fêmur, da bacia, do punho, do úmero, do tornozelo e da coluna vertebral, decorrentes de traumatismo de baixa energia.
Confirmando o que pensávamos, as fraturas do fêmur constituem o problema maior, pois, em cada quatro pacientes, um não sobrevive além de um ano; e somente metade dos pacientes consegue recuperar seu nível de atividade antes da fratura, visto que pela idade avançada estes pacientes apresentam outras doenças associadas.
Falar em fratura em qualquer fase da vida é pensar na osteoporose, doença que leva à diminuição e ao enfraquecimento da massa óssea, causando fragilidade óssea e consequentemente a predisposição a fraturas. Trata-se de uma doença insidiosa e assintomática e a ocorrência de qualquer fratura sinaliza que a osteoporose está se manifestando.
Segundo a médica, mulheres pós-menopausa, de pele e olhos claros, magros, orientais, tabagistas, alcoólatras e indivíduos que na juventude foram sedentários e não ingeriram dieta rica em cálcio são mais vulneráveis às fraturas. Entre mulheres idosas, 30% caem pelo menos uma vez ao ano e, entre as que vivem em instituições geriátricas, o percentual chega a 50%; 3 a 5% dessas quedas resultam em fratura com incidência de 1% na extremidade proximal do fêmur. A densitometria por absorção dupla DXA continua sendo o padrão ouro para o diagnóstico da osteoporose.
Com um envelhecimento acelerado da população aumenta a incidência de mortalidade de idosos devido a fraturas decorrentes de quedas.
A pesquisa, publicada no volume 28, número 4 da revista Cadernos de Saúde Pública, destaca que as fraturas decorrentes de queda entre idosos são um grave problema de Saúde Pública e têm sido associadas com maior risco de morte. O estudo é assinado pelo pesquisador da ENSP Evandro Silva Freire Coutinho em parceira com as pesquisadoras do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro Katia Vergetti Bloch e Claudia Medina Coeli.
Para investigar o perfil de mortalidade de idosos que sofreram fraturas graves, foram investigados 250 indivíduos com 60 anos ou mais, hospitalizados devido à fratura decorrente de queda, e 250 idosos de uma população local. Ambos foram acompanhados por um ano. Esses grupos foram pareados por idade, sexo, momento da hospitalização do caso e vizinhança. Os óbitos foram identificados por meio do relacionamento entre o banco de dados do estudo e a base de dados de mortalidade do estado.
A mortalidade acumulada no período de um ano – 25,2% e 4% para idosos com e sem fratura grave – apontou que a distribuição dos óbitos não foi homogênea ao longo do tempo de seguimento. Segundo os autores, 2/3 das mortes entre pacientes ocorreram no 1º trimestre após a fratura. Doença cardíaca, pneumonia, sangramento digestivo, septicemia, embolia pulmonar, diabetes e AVE foram causas importantes de morte no ano que se seguiu à fratura.
Os pesquisadores explicam: “Os resultados do estudo destacam a necessidade de intervenções direcionadas para esse grupo de alto risco. O objetivo principal da pesquisa é comparar o risco de mortalidade, no período de um ano, dos idosos hospitalizados por fratura após uma queda com o risco em um grupo controle sem fraturas”.
“O risco de morte dentro do período de um ano foi cerca de seis vezes maior em indivíduos do grupo admitido no hospital devido a uma queda relacionada com fraturas do que no grupo de controle. Embora este resultado seja semelhante aos encontrados em duas revisões sistemáticas de fraturas de quadril, a relação de risco em nossa investigação foi maior do que aquela observada pela maioria dos estudos abrangidos por essas revisões. Este é o primeiro estudo a investigar o risco de mortalidade após uma fratura grave, em comparação a um grupo controle de comunidade entre os idosos em uma amostra brasileira”, justificaram os autores.
Referências
BITTAR, C. (2012). Fraturas no idoso. Disponível Aqui. Acesso em 02/05/2012.
CORREIO DO BRASIL (2012). Programa de Saúde do Idoso divulga análise de fatores de risco de quedas. Disponível Aqui. Acesso em 02/05/2012.
ENSP. FIOCRUZ (2012). Estudo avalia mortalidade de idosos devido à queda. Disponível Aqui. Acesso em 02/05/2012.