Cabe a nós com o presente buscarmos as ferramentas para modificar o futuro.
Ruby Bridges tinha apenas 6 anos quando uma foto sua sendo escoltada por policiais federais nos Estados Unidos ficou famosa em 1960. É um documento da história do racismo naquele país, numa ocasião em que ela, uma criança negra, estava sendo acompanhada e protegida pelos oficiais da polícia em decorrência das ameaças de morte que estava sofrendo. E o ato a que estava sendo recriminada era o seu ingresso em uma escola primária anteriormente dedicada apenas a pessoas brancas.
Neste momento, talvez você esteja se perguntando qual é meu objetivo em contar tal acontecimento, e por isso, eu pergunto: será que somente o amor-próprio e o autocuidado poderiam resolver nossos preconceitos, injustiças e o desamor?
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Digo isso porque Ruby e seus familiares marcaram um movimento em uma Nova Orleans racista na busca por pertencimento e por melhores condições de vida, mas nenhuma dessas conquistas deve ter reduzido o peso de ouvir desaforos, violências e ódio por grupos de indivíduos preconceituosos, assim como pessoas idosas também sentem, cada uma a sua maneira, o impacto do idadismo.
Norman Rockwell, fotógrafo e ilustrador.
É aí que queria refletir, caro(a) leitor(a). Em nossa estratégia por uma sociedade em que as gerações convivam harmoniosamente não basta transmitirmos a mensagem para que os mais velhos se amem. Claro, é importantíssimo que a imagem do espelho seja gostada e que a pessoa ali presente tenha prazer com o que enxerga na pele e dentro dela, sendo um excelente caminho para uma longevidade saudável e ativa.
Neste contexto, racismo, capacitismo, idadismo, machismo, LGBTfobia são todas faces de uma mesma ideologia, a qual julga e classifica corpos em nossa sociedade em “Dignos ou Indignos”, “Primeira ou Segunda categoria”, “Saudáveis ou doentes”, “Limpos ou sujos”, entre tantas outras classificações que separam, oprimem e perpetuam desigualdades.
Ademais, são estratégias que separam e enfraquecem pessoas que poderiam estar trabalhando juntas por um mundo melhor, menos desigual, menos poluído e com maiores perspectivas de futuro e de felicidade.
Fomos ensinados por séculos que algumas diferenças são naturais ou que simplesmente sempre foram assim. Mas amigos, não existe raio em céu azul. Para tudo há uma razão histórica e economicamente construída. Por isso, convido todos a pensarmos em novas formas de nos organizarmos, de produzirmos, de nos relacionarmos conosco, com os outros e com o planeta.
Vamos lembrar que enquanto um direito humano não estiver sendo respeitado, nenhum direito estará assegurado. Dessa forma, o idadismo, o racismo, o capacitismo e a LGBTfobia não são “problemas” do outro. São de todos nós.
Palavras são importantes, mas não bastam! E da mesma forma que afirmei que a história é importante para refutarmos injustiças naturalizadas, cabe a nós com o presente buscarmos as ferramentas para modificar o futuro.
Ruby hoje tem quase 70 anos. Envelheceu, assim como todos nós almejamos, e por onde andou transmitiu esperanças por tolerância e respeito às diferenças. Que sua história reverbere, inspire e nos ajude a ousar.