É cada vez mais comum, ler textos na net falando ou contando “coisas” sobre as avós. Pergunto: e os pobres avôs, onde estarão? Será que as senhoras são mais “engraçadinhas”, delicadas, afetivas, sempre nos lembrando o pãozinho saído do forno e o café com leite quentinho com aquela horrível camadinha de nata por cima? Sempre ouço este tipo de comentário sobre as avós de meus amigos, todas muito “lindinhas”, como as que vemos nas novelas globais das seis da tarde. Diante disto, alerto aos avôs do meu Brasil: esqueçam, vocês não tem a menor chance de competir com elas!
Luciana H. Mussi
A reportagem conta que a tal “Vó Magnólia usava um roupão cor-de-rosa, óculos grandes e redondos, mas que já pouco serviam, e cabelos irretocáveis, tingidos de castanho. Articulava as ideias com a memória meio barro meio tijolo devido à fúria do Alzheimer, mas nada que comprometesse o conteúdo geral”. Esta senhora, apesar das limitações da doença, está viva, a seu modo e no seu ritmo encontra as palavras, os gestos e até os gracejos corretos. É isso, parece haver “gente” dentro desta avó contemporânea.
Velhos atores? Sim, já é possível vê-los, até importantes cineastas escolhem para papéis de mulheres “amadurecidas” aquelas que ainda não se renderam às plásticas e aos botox da vida. Um exemplo disto é a ainda exuberante Isabella Rossellini, a despojada Diane Keaton e a clássica Meryl Streep e tantas outras. Assim como os bonitões sessentões que fazem o maior sucesso. É a beleza da maturidade seduzindo, as rugas e papadinhas que atraem e conquistam.
É sofrível, como conta a reportagem, como as pessoas editam e espalham vídeos de bebês e bichinhos “fazendo fofices, dando cambalhotas desajeitadas, correndo atrás do próprio rabo, tendo atitudes de adultos ou soltando falas anedóticas”. Uma tolice sem tamanho!
Realmente “Vovós Magnólias” são raras, não as vemos na net com frequência. “Ser velho não tem graça? Ser velho não é bonito? Ser velho não tem alegria? Ser velho não dá o que falar?” É, parece que “ser velho” não leva ninguém a fama, mas às vezes vemos coisas bem interessantes como o vídeo “Edarem”: a reinvenção da velhice pelo mundo virtual – um outro olhar. Palavras são necessárias, neste caso? Por “Edarem” vemos que gestos e expressões falam mais e melhor.
Penso que cada um deve fazer aquilo que deseja. Se a mira das lentes te atrai, entregue-se a ela, ou, como sugere a reportagem, dirija sua câmera particular “àqueles que ama, àqueles de quem o tempo já não conta a favor, àqueles que justificam de maneira completa a palavra saudade. Mesmo que, rotineiramente, eles digam que ‘detestam essas coisas modernas’, insista, grave escondidinho, brinque de fazer novela, de imitar o Jô Soares entrevistando.”
Como disse no início, parece que todos têm histórias calorosas para contar de seus avós: “Que delícia seria morrer de rir relembrando o jeito como o ‘vozinho’ penteava o que chamava de cabelo para, depois, esconder tudo na boina xadrez ou a ‘avó’ na máquina de costura fazendo bainha ou no fogão frigindo seus famosos bolinhos de polvilho.”
Bem, meus avós não foram assim tão amáveis, como os citados pela reportagem. Imigrantes duros, difíceis e insensíveis, eles mais pareciam os malvados de plantão da história. Nada de bolinhos ou fiozinhos de cabelo que escapam graciosamente dos demais. Nada disso!
Referências
MARQUES, J.. (2011). O vídeo da vovó Magnólia. Disponível Aqui. Acesso em 08/11/2011.
VÍDEO YOUTUBE. (2009). Edarem – Khachaturian’s Sabre Dance. Disponível Aqui. Acesso em 08/11/2011.