As pessoas portadoras de deficiência (PPD) enfrentam dificuldades ao decidir se hospedar em hotéis da capital federal. Em pesquisa de conclusão do curso Gestão em Hotelaria, no Centro de Excelência em Turismo (CET), da Universidade de Brasília (UnB), a administradora Ana Cristina Lopes da Silva constatou que dos poucos hotéis de Brasília com oferta de instalações adaptadas a portadores de necessidades especiais, a maioria não atende às exigências sugeridas pela Embratur.
A idéia de analisar os recursos de infra-estrutura em estabelecimento hoteleiro surgiu enquanto Ana Cristina ainda trabalhava em uma rede de hotéis que recebia portadores de deficiência para um torneio de tênis. “Observei que os cadeirantes enfrentavam dificuldades para se acomodar e usar a estrutura do hotel”, afirma.
Como parâmetro para a análise, a pesquisadora utilizou o Manual de Recepção e Acessibilidade de PPD a Empreendimentos e Equipamentos Turísticos, da Embratur, e as sugestões do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência (PAMPD). Para essas pessoas, a dificuldade de se hospedar começa na escolha do hotel. Das 44 opções do Plano Piloto consultadas pela especialista em Gestão em Hotelaria, apenas 18 oferecem acomodações adequadas para receber esse tipo de visitante. Para piorar a situação, os poucos estabelecimentos que dispõem de tais adaptações não seguem as orientações do Embratur e do PAMPD.
Em dez hotéis visitados, Ana Cristina encontrou unidades habitacionais adaptadas que enfrentam problemas devido à presença de barreiras arquitetônicas ou localização de instalações. “Geralmente, as acomodações ficam em frente aos elevadores ou áreas barulhentas do hotel”, comenta Ana Cristina.
A pesquisadora observou que o acesso é feito por elevadores de serviço ou por locais menos agradáveis. O atendimento na recepção ou portaria também é prejudicado pela ausência de balcões que permitam a aproximação frontal de uma cadeira de rodas.
Pequenos demais
Nos alojamentos também foram encontrados outros problemas. Em nenhum deles havia espaço suficiente – 1,50m – para rotação de 360º de uma cadeira de rodas. Em 30% não existiam barras sanitárias para apoio e transferência do PPD para utilização dos banheiros. Os armários, em 60% dos quartos, não possuíam altura adequada para sua utilização. Em 100% das acomodações visitadas, as janelas estavam fora do alcance visual de pessoas de menor estatura ou em cadeiras de rodas. Nelas existiam apenas varandas fechadas por portas de correr com trilhos projetados acima da superfície do piso.
Os hotéis mais antigos, segundo a pesquisa, não oferecem nenhum tipo de unidade habitacional adaptada para PPD. Apresentaram alternativas de hospedagem em unidades habitacionais improvisadas, sem qualquer preocupação como conforto e o acesso pelo hóspede. Um dos estabelecimentos pesquisados não tinha portas no banheiro. Apresentava ainda, como opção de acesso às dependências a entrada de serviço, pelos fundos do estabelecimento. “O hóspede pode não achar nada agradável entrar no hotel pela porta dos fundos”, comenta Ana Cristina.
Outra falha constatada foi a pouca oferta de vagas para PPD em hotéis. Em geral, os hotéis reservam apenas uma unidade habitacional para o alojamento adaptado, o que torna inviável abrigar mais de uma pessoa portadora de deficiência no mesmo período. Com a pesquisa, verificou-se que as instalações de todos os estabelecimentos visitados eram insuficientes e algumas precárias. “Os hotéis se limitam a instalar rampas de acesso e a disponibilizar uma unidade habitacional parcialmente adaptada”, conclui.
Fonte: Acesse Aqui, 20/04/2005