Existem também as oficinas de treinos cognitivos, oferecidas aos alunos participantes do programa Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) da USP, em que as pessoas aprendem sobre as alterações que ocorrem na memória, conforme o passar do tempo, e aprendem estratégias mentais e externas para melhorar seu desempenho.
Gabriela Malta Felix / Foto: Marcello Casal Jr. e Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr
A psicologia do envelhecimento também é alvo de estudos da professora, envolvendo temas que estão relacionados principalmente ao bem-estar. “As pesquisas procuram entender por um lado o que é viver bem, o que gera prazer e felicidade para o idoso e, por outro, como seu legado, que está associado a sentido de vida, é construído por ele”, explica Mônica.
Ainda, sob orientação e supervisão dos professores, os alunos da graduação em Gerontologia da EACH realizam diversas atividades em Centros de Convivência para o Idoso. Um dos convênios é com o projeto Samuel Rangel, que começou com a ação social dos frequentadores da Igreja Metodista de Pinheiros e conta com o financiamento da Prefeitura e do Estado de São Paulo. Os alunos, nas primeiras visitas, observam os idosos que frequentam o Centro de Convivência e coletam suas demandas. Depois, desenvolvem os projetos junto com os idosos. Esse ano, por exemplo, realizaram o “Homenageandos”. “É um projeto que envolve a todos. Além de fazer bem àqueles que são homenageados, nós estimulamos a criatividade dos participantes e a criação de vínculos entre eles”, ressalta Andrea Lopes, antropóloga e pesquisadora do Núcleo.
Envelhecimento significativo
“Os idosos precisam participar de atividades que deem algum sentido e propósito à sua vida,”, explica Andréa. Nesse sentido, seus trabalhos destacam a importância do engajamento social na construção desse sentido e orientação de vida. “Estudamos um senhor, que é pai de santo e se entende como médium desde muito cedo. Esse engajamento religioso vem orientando toda a vida dele, porque de acordo com as tradições da Umbanda, sua religião, existem dias em que não se pode realizar determinadas atividades, como ingerir bebidas alcoólicas, por exemplo, para participação de alguns rituais”, exemplifica a professora.
Apesar de muito forte, o engajamento religioso não é o único capaz de produzir significado na vida do idoso. A literatura e os órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o trabalho voluntário como umas das principais ferramentas de construção de sentido de vida. Mas as pesquisas da professora Andrea mostram dados que merecem atenção. Ela pesquisou o trabalho voluntário desenvolvido por idosos no Brasil, nos Estados Unidos e no Japão, e constatou que a maioria dos participantes tem um perfil muito específico: são mulheres, brancas, têm entre 60 e 69 anos, casadas e com família, nível médio e alto de educação e renda, e grande envolvimento em atividades sociais diversas, com destaque a atenção que dedicam aos problemas sociais de onde vivem e do mundo. Mas esse não é o perfil da maioria dos idosos brasileiros. Muitos ainda trabalham para sustentar duas ou três gerações da família, criam os netos e, por isso, não têm tempo para prática do trabalho voluntário formal e regular. “É preciso pensar em formas de reorganizar o terceiro setor brasileiro, para que ele acolha esses idosos”, sugere.
Fonte: USP, em 12 de novembro de 2012. Disponível Aqui