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Pesquisa Analisa Sexualidade de 139 Mulheres Afetadas pelo Câncer de Mama

É uma grande surpresa pensar que a sexualidade ainda é uma questão delicada e de difícil compreensão e trato para muitos profissionais da área da saúde. Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP) com 139 mulheres afetadas pelo câncer de mama avaliou que, pelo menos um ano após o diagnóstico, quase metade mantinha vida sexual ativa. O estranho contraponto desse resultado foi a conclusão que os profissionais de saúde não estão preparados para orientar essas pacientes sobre questões ligadas à sexualidade.


Realmente vivemos em um país, apenas, aparentemente “resolvido” com suas questões sexuais. Ainda há constrangimento, preconceito e uma profunda falta de conhecimento em lidar com o tema.

Em matéria publicada recentemente na Agência Fapesp, assinada por Karina Toledo, sobre a pesquisa, fica-se sabendo que a coleta de dados foi feita entre usuárias do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na Reabilitação de Mastectomizadas (Rema) da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP). A média de idade das participantes foi de 54,6 anos – sendo que a mais nova tinha 24 anos e a mais velha, 78.

Além da pesquisa quantitativa, foram feitos outros dois estudos qualitativos. Um deles avaliou em profundidade 25 pacientes do Rema. O outro ouviu 32 enfermeiras que lidam com pacientes nessa situação. Os resultados integram o projeto “Sexualidade e Câncer de Mama”, financiado pela FAPESP e coordenado pela professora Elisabeth Meloni Vieira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Resultados

56,8% das pacientes que participaram da pesquisa quantitativa afirmaram ter tido ao menos um parceiro sexual no último ano e 48,9% disseram ter feito sexo no último mês: “Essas mulheres têm, em média, seis relações sexuais por mês, ou seja, têm uma vida sexual ativa”, disse Vieira.

“Os dados quantitativos ainda estão sendo analisados, mas nossa hipótese é que a idade e a situação marital são fatores que pesam mais do que o próprio câncer no caso das pacientes sem relação sexual há mais de um ano. Muitas ficaram viúvas, por exemplo”.

Nas entrevistas qualitativas realizadas com as 25 usuárias do Rema encontrou-se a existência de três situações distintas: a) A existência de uma vida sexual prejudicada pelas alterações corporais e psicológicas trazidas pela doença, b) Relatos que não sentiram diferença e c) Aquelas que afirmam que a vida sexual melhorou após o câncer.

Vieira ainda explica que “essas últimas disseram que o medo da morte fez com que o relacionamento com o parceiro melhorasse e isso teve impacto na vida sexual. Existe a ideia de que pacientes com câncer ficam deprimidos, não saem de casa e não fazem sexo. Isso não é verdade”.

Problemas Reais

Mas não se pode negar que a doença costuma trazer complicações: “Muitas pacientes entram em menopausa precoce por causa da terapia com hormônios usada no combate ao tumor. Isso tem consequências como diminuição da libido e secura vaginal”, disse.

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Vieira acrescenta que “além disso, muitas têm dificuldade para lidar com a perda da mama ou de parte dela, com a calvície temporária provocada pela quimioterapia e com o inchaço nos braços causado pela retirada de gânglios linfáticos das axilas”.

“Essas mulheres precisam conversar sobre isso com alguém. Querem saber se podem ter relação sexual, quando e como. Os profissionais de saúde precisam estar preparados”.

Talvez aí esteja o maior paradoxo: ter, atualmente, profissionais de saúde preparados para tratar apenas a doença, mas, e a saúde física e emocional? As nossas universidades não ensinam os jovens a lidar com sentimentos e emoções? É, esse parece ser um território acidentado, onde o sofrimento e a dor do outro podem, muito bem, resvalar no nosso próprio buraco existencial.

Constrangimento e imagem corporal

Vieira conta que a maioria das profissionais que atuam na área oncológica em Ribeirão Preto, evitam tratar do tema: “Não falam e não deixam a paciente perguntar. Primeiro porque nunca foram orientadas para isso, então se sentem inseguras. Depois, existe a ideia preconcebida de que doente não faz sexo, por isso consideram o assunto desnecessário. E também tem a questão da vergonha”.

A pesquisadora diz que é fundamental que os cursos de especialização em enfermagem oncológica incluam o tema da sexualidade nos currículos. “Às vezes a paciente precisa simplesmente de um lubrificante vaginal e a enfermeira não sugere”. Na verdade, o aprendizado deve começar na graduação, no ensino de base.

A pesquisa vem sendo realizada em cooperação com o Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (Inserm), da França, sob coordenação do professor Alain Giami. “Os resultados da pesquisa com enfermeiras na França foram muito parecidos com os do Brasil. Mas já notamos que a questão da imagem corporal tem um peso muito maior para as mulheres brasileiras, que estão o ano todo com o corpo à mostra”, disse Vieira.

O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para 2012 é que 52,6 mil pessoas sejam afetadas.

Referências

TOLEDO, K. (2012). Pesquisa investiga sexualidade das afetadas pelo câncer de mama. Disponível Aqui. Acesso em 17/03/2012.

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