O que nos torna sujeitos amantes da ciência? De que local, de dentro de nós, brota a semente da mente científica? Talvez a inquietação e os constantes porquês presentes desde sempre sejam uma pista desta imensa curiosidade que nos cerca diariamente e até quando sonhamos. A geneticista Luiza Bossolani Martins, doutoranda da Unesp (Universidade Estadual Paulista), quando questionada sobre por que é cientista, diz que “Desde pequena queria descobrir a cura de doenças. Não dá para explicar.”
Seguindo esta trilha, como não podia deixar de ser, a psicologia dos tempos modernos quer entender aquilo que a geneticista não consegue explicar: o que leva algumas pessoas a terem comportamento científico?
Condição quase obrigatória é ter uma atitude questionadora diante das coisas que se apresentam, de quem quer entender o que está ao seu redor, independentemente de ser ou não um cientista. Traduzindo: um certo incômodo representado por aquele pensamento que provoca, instiga e impulsiona.
Tudo isto, agora é alvo de uma disciplina recém-criada, a “psicologia da ciência”, idealizada pelo psicólogo norte-americano Gregory Feist, da Universidade San Jose, na Califórnia. Esta nova área reúne pesquisas sobre os aspectos que envolvem o interesse pela ciência – tudo isso sob o guarda-chuva da psicologia.
Quantos trabalhos não podem ser desenvolvidos a partir de uma “centelha” questionadora e se tornarem objetos de grandes descobertas científicas! Deixar de seu mais um e passar a ser “um” ser pertencente ao mundo das descobertas, do inusitado, do improvável mais do que provável.
A matéria intitulada “Mente científica”, publicada recentemente na Folha de S.Paulo, relata que os trabalhos já têm até periódico próprio: o jornal do ISPST (sigla de Sociedade Internacional de Psicologia da Ciência da Tecnologia). Em entrevista ao jornal, Feist disse que “Entendendo os aspectos da personalidade, da cognição e do desenvolvimento do talento científico, teremos mais condições para incentivar jovens com essas qualidades para uma carreira em ciência”.
É claro que o incentivo, especialmente na escola – pensemos até na pré-escola – conta muito no desenvolvimento e escolha pela carreira científica. E por que não dizer nas universidades e nos cursos voltados aos mais experientes? Com certeza um reservatório de conhecimento adquirido ao longo da vida que merece ser visto, analisado e considerado como ciência em potencial.
O fisioterapeuta Nivaldo Parizotto declarou à imprensa que era cientista por uma razão muito simples, “ tive um professor de ciências na escola cujas aulas eram fascinantes. Ele é professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e está nos EUA hoje para estudar a ação do laser no envelhecimento”.
Se os professores soubessem o quanto são essenciais na vida dos alunos – talvez, não de todos – dedicariam mais e mais tempo para a escuta e compreensão daqueles que ainda engatinham no mundo das ideias embrionárias. Assim o saber “das esquinas” e do senso comum teriam oportunidade para germinar num provável campo da ciência.
A matéria ainda traz outro relato interessante, comum entre os cientistas, que é a irresistível vontade de “explicar o mundo”. O físico Pierre Louis de Assis, que faz pós-doutorado na Universidade Joseph Fourrier, na França, pergunta: “Por que abriria mão de escrever um pouco mais sobre como as coisas funcionam?”.
Apesar de tudo, Feist explica que não há evidências de que a nova disciplina possa ser usada para tornar qualquer pessoa mais interessada em ciência. Os estudos podem também esclarecer aspectos psicológicos dos pesquisadores. De acordo com Feist, cientistas tendem a sofrer mais transtornos psicológicos do que não cientistas – mas menos que artistas ou músicos.
A matéria informa ainda que o Brasil não tem nenhum grupo de pesquisa sobre o tema entre os mais de 27 mil grupos cadastrados no CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento). Mas, de acordo com a socióloga da ciência Léa Velho, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a psicologia da ciência já tinha espaço nos estudos sociais da ciência desde 1970.
A questão é que para ser pesquisador, há que se ter um certo sofrimento na alma e uma inquietação terrível na mente. Ambos produzem um ser, no mínimo controverso, mas com certeza existencial. Diria Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”
Referências
RIGHETTI, S. (2012). Mente científica.