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Pedagogia dos avós na interação entre várias gerações

É na infância que os laços entre avós e netos tendem a ser mais intensos. É nesse período que com frequência os netos convivem nos finais de semana ou parte das férias escolares. Ser avô ou avó é um ritual de passagem. O nascimento de um neto ou uma neta inaugura um novo tipo de relação muito especial. Como disse Rachel de Queiroz, “Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente caem do céu”.

Isaac Roitman *

 

Antigamente a expectativa de vida não permitia que muitos avós pudessem acompanhar o desenvolvimento de seus netos. A maior longevidade dos seres humanos tem modificado de forma importante as configurações familiares e os laços entre as gerações. Hoje, os avós não apenas têm a possibilidade de ver seus netos nascerem e crescerem, mas também tornarem-se adultos e, muitas vezes, pais. Ao longo desse período estendido de coexistência, os avós podem assumir diferentes significados na vida dos netos, mudando o tipo de interação estabelecida, assim como a própria intensidade do contato, quando estes são crianças, adolescentes ou adultos. É na infância que os laços entre avós e netos tendem a ser mais intensos. É nesse período que com frequência os netos convivem nos finais de semana ou parte das férias escolares. Ser avô ou avó é um ritual de passagem. O nascimento de um neto ou uma neta inaugura um novo tipo de relação muito especial. Como disse Rachel de Queiroz, “Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente caem do céu”.

Ficar na casa dos avós geralmente é sinônimo de liberdade e diversão. É comer pipoca e bolo de chocolate, brincar de luta no tapete da sala, ter a comida preferida na hora da refeição, assistir televisão, se divertir no computador, dormir tarde e ouvir muitas histórias. Mas não é apenas nas brincadeiras e na fuga da rotina que o papel deles é desempenhado. Os avós podem ser conselheiros, educadores e um conforto em momentos difíceis. Na relação dos avós com os netos se estabelece uma cumplicidade alimentada pelas interações e brincadeiras. Essa convivência é uma fonte de afeto e carinho que contribuem para a autoestima da criança.

O papel da importância dos avós no desenvolvimento das crianças foi estudado na Universidade de Oxford que mostrou que as crianças que tiveram os avós por perto cresceram mais felizes. A pesquisa também demonstrou que os avós desempenham um papel importante no momento de superar dificuldades como a implicância de colegas da escola e no planejamento do futuro. Segundo o cientista Eirini Flouri do Departamento de Psicologia e Desenvolvimento Humano da Universidade de Londres, em situação de separação dos pais, hoje tão comum, muitos avós desempenham um papel importante ao trazer conforto aos netos e estabilidade a toda à família.

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Um exemplo de atuação de avós é a participação voluntária dos mesmos nos círculos infantis que fazem parte do Projeto “Educa a tu hijo” desenvolvido em Cuba onde a educação infantil é prioridade. Esse programa é organizado pela comunidade onde são desenvolvidas atividades que contemplam o desenvolvimento integral com ênfase na linguagem e expressão, no conhecimento matemático, patriotismo, cidadania, sócio moral, aquisição de hábitos, educação ambiental, educação sexual e filosofia política.

No Brasil os avós são convidados em ocasiões especiais para assistirem atividades artísticas e esportivas realizadas nas escolas com a participação ativa de seus netos. São momentos mágicos emoldurados por alegria e registrados freneticamente pela tecnologia digital. São iniciativas virtuosas, mas episódicas. Que tal criarmos de maneira análoga às Associações de Pais e Mestres, as Associações de Avós e Mestres? Essas entidades poderiam mediar a presença constante dos avós nas escolas. Eles poderiam participar de várias atividades que certamente afetariam positivamente os netos. Essas atividades poderiam ser programadas também fora do ambiente escolar.

Que cena virtuosa seria a de ver avós e netos em parques, zoológicos, jardins botânicos, museus, teatros, cinemas, etc. As crianças certamente ficariam felizes em apresentar os seus avós a seus coleguinhas.

Por sua vez os netos poderiam inspirar reflexões e pensamentos nos avós que certamente ficarão orgulhosos de desempenhar um papel importante na educação de seus descendentes. Essa proposta que pode ser desenvolvida na educação pública e privada permitiria que os netos pudessem ter uma “família” com numerosos avós e os avós rodeados por uma grande “família” de netos. Essa interação permanente entre várias gerações poderia ser um elemento importante de inserir e consolidar valores e virtudes tão necessárias para a humanidade nos dias atuais.

* Isaac Roitman é Doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/CEAM/UnB), presidente do Comitê Editorial da Revista Darcy/UnB e membro titular de Academia Brasileira de Ciências. Ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, ex-diretor de Avaliação da CAPES, ex-coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da SBPC, ex-sub-secretário de Políticas para Crianças do GDF. Autor, em parceria com Mozart Neves Ramos, do livro A urgência da Educação.

Fonte: Boletim Pensar a Educação em Pauta – Ano III – Edição 099 / sexta-feira, 02 de outubro de 2015. Divulga textos inéditos sobre relevantes temas da educação. Além de reunir e disponibilizar as principais notícias do Brasil e América Latina, ciência e tecnologia e pesquisa educacional: Disponível Aqui

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