Duas matérias publicadas neste ano chamam a atenção para a inserção das pessoas mais velhas no mercado de trabalho. A primeira delas, assinada por Ione Luques (1), do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, começa com a seguinte frase: “’Eu ainda me sinto totalmente produtiva’ – reage, quando perguntada por que não parou de trabalhar, a analista de sistemas Luciene Caruso, de 52 anos, que se aposentou há um ano e meio, mas continua na ativa, a todo o vapor”.
A metade deles pelo fato de o valor pago pela Previdência Social ser muito baixo e haver necessidade de complementá-lo; e para 18%, pela oportunidade de manter ou melhorar o padrão e a qualidade de vida. De qualquer forma, todos estão conscientes de que o tipo de trabalho encontrado mais facilmente pós-aposentadoria não costuma ter os mesmos níveis de remuneração e prestígio anteriores.
A pesquisa ouviu 1.396 trabalhadores no Centro do Rio, 24% dos entrevistados garantem que não vão trabalhar após se aposentarem. Enquanto 35% disseram que ainda não pararam para pensar no assunto — o que, segundo analista, além de mostrar que o brasileiro não consegue desenvolver a cultura de pensar em seu futuro, evidencia problemas financeiros e falta de planejamento para a aposentadoria.
Embora uma das conclusões da pesquisa é de que ainda há conflitos entre a vontade de parar de trabalhar para descansar, entre curtir a vida ou fazer atividades mais prazerosas e a necessidade de complementar a renda, há uma mudança na mentalidade das pessoas com relação ao assunto, pois já percebem que outras opções rotineiras, além do trabalho, são atraentes e saudáveis.
A matériaassinala a importância de se mudar profundamente a forma de planejar, a qual deve ser uma responsabilidade compartilhada entre os principais atores: o empregado, investindo na aposentadoria, seja poupando ou contribuindo desde jovem; a empresa, desenvolvendo uma política de recursos humanos que apoie o investimento do profissional e o prepare para um novo ciclo; e o governo, com políticas que garantam a qualidade de vida dessas pessoas. Aliás, isso já é recomendado pela Política do Envelhecimento Ativo, mas que ninguém segue.
A segunda matéria, publicada no jornal Valor Econômico, e assinada por Letícia Arcoverde (2), começa assim: “Aos 61 anos, Maria das Graças Nunes está aposentada, mas só no papel. Ela, que já havia atuado em setores como o metalúrgico, o automotivo e o farmacêutico, foi contratada há dois anos para a gerência de recursos humanos no negócio do grupo petroquímico Mexichem, que no Brasil é dono das marcas de tubos e conexões Amanco, Bidim e Plastubos. “Em nenhum momento me perguntaram sobre idade no processo seletivo. Adoro trabalhar e tenho prazer em me sentir útil”, diz.
Esta matéria realça a relação geracional em uma época em que a juniorização da mão de obra é um fenômeno real, apontando os ganhos da Mexichem em procurar ter um equilíbrio entre profissionais mais maduros e os mais jovens. Mas reconhece que essa postura, contudo, ainda não é comum no mercado de trabalho brasileiro como um todo.
A matéria também traz um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da consultoria PwC, realizado no ano passado, que assinala que mais de 70% das 96 companhias consultadas não incentivam a contratação de profissionais que já tenham se aposentado ou estejam próximos da aposentadoria. Para 58% das empresas, a idade ainda é um fator relevante na hora de contratar – e metade admite que prefere dar a vaga a um profissional mais jovem em uma situação de igualdade de condições. Uma abordagem que em poucos anos não será mais tão sustentável.
O artigo traz ainda dados de um estudo produzido pela organização sem fins lucrativos Transamerica Institute em parceria com a seguradora Aegon e a consultoria Cicero, com 16 mil pessoas em 15 países, entre eles o Brasil, o qual assinala que apenas 24% dos brasileiros planejam parar de trabalhar completamente após a aposentadoria. O resto se divide entre pessoas que, como Maria das Graças, não querem diminuir o ritmo de trabalho, e outras que pretendem atuar em meio período. O artigo também traz dados do Ipea, o qual estima que, em 2040, aproximadamente 57% da população economicamente ativa terá mais de 45 anos.
Segundo o estudo da PwC, embora 94% das empresas considerem que o principal benefício de empregar profissionais mais seniores está na experiência que eles trazem, nem todas aproveitam essa bagagem por meio de práticas formais de transferência de conhecimento. Programas de mentoring e treinamento, por exemplo, são usados em, no máximo, 50% das companhias.
A matéria cita que o headhunter Luiz Valente, da consultoria Talenses, percebe um aumento na contratação de profissionais na faixa dos 60 anos como forma de contornar o gargalo na disponibilidade de mão de obra qualificada, mas que existe um medo comum por parte dos empregadores de que os custos para ter esses profissionais sejam altos. O que não é compartilhado por Adriana, da Mexichem, que não concorda que os funcionários mais maduros significam custos maiores. Segundo ela, “As empresas ainda têm muito receio em razão da remuneração e porque acham que a pessoa vai produzir menos. Minha experiência, contudo, mostra o contrário”, diz a diretora. Para ela, os mais velhos costumam ter mais disponibilidade e comprometimento, além de tomarem decisões mais rápidas e assertivas.
Notas
(1) Em “Existe emprego para quem não quer parar”, em 07/07/2014 – Jornal Valor Econômico,
(2) Em “Carioca não quer parar”, em 04/05/2014 – Jornal O Globo