E para o mês dos namorados, uma homenagem ao poetinha: “De tudo ao meu amor serei atento / Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto / Que mesmo em face do maior encanto / Dele se encante mais meu pensamento […]”
Sempre, nos dias que antecedem datas especiais, reflito sobre o que escrever. Claro, como estamos no mês dos namorados, óbvio está que, deve você pensar, mais uma vez falarei sobre o amor. Se me canso? Nunca!
Bem, como nada acontece ao caso, mês passado recebi um e-mail de uma jovem, estudante de psicologia, solicitando-me materiais, literaturas sobre o amor, já que tanto falo sobre o mais mágico, ao mesmo tempo, estranho e controverso sentimento.
Pensei: ai, ai ai, e agora? Como explico a uma menina de aproximadamente 20 anos que a inspiração para cada palavra escrita e vivida vem de todas as partes de meu corpo e do dele (mais do que lógico), como uma célula que mergulha em ondas turbulentas, verdadeiras avalanches, tsunamis de desejo, paixão, desejo, orgasmos existenciais que se transformam em amor – esse mesmo, aquele do carinho, da compreensão, do aconchego, da admiração, do querer agradar o outro sempre, cada vez mais e mais.
Assim, para este mês repleto de delícia e, claro, para todos os outros de nossa breve e surpreendente vida, separei o “Soneto da Fidelidade”, de Vinícius de Moraes – uma homenagem ao poeta, ao amor cantado nos mais belos versos, sofridos e rasgados, legítimos representantes dos extremos de um sentimento que engatinha nas sensações inocentes dos primeiros olhares até pisar firme, seguro e, finalmente, brilhar nas raias da loucura.
E nas doces palavras do poeta…
“De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento”
De um olhar apenas, atenção; de um cuidado, mínimos gestos; de um simples sorriso, a sedução – faz de nós dois, só encantamento.
“Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento”
Mesmo que seja um só instante, num grãozinho de alegria ou numa noz de tristeza ou num mergulho de puro suor – faz de nós dois, só harmonia, imensa felicidade.
“E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama”
Ou início de quem caminha, solitariamente, mas cuidadosamente pelos trilhos do amor, pelas brincadeiras dos maliciosos toques – faz de nós dois, uma simples surpresa, em arrepios incontroláveis.
“Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”.
E que eu possa te dizer do amor que sinto, que seja soberano, posto que é Rei (é você), mas que seja finito, mortal enquanto pulse – faz de nós dois, humanos e primitivos – um homem e uma mulher na idade da pedra do amor.
Ainda por Vinícius… “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu…” e você, juntos.
Sim, eu sei que vou te amar…
Um feliz dia dos namorados!
E não deixe de ouvir… Soneto da Fidelidade:
Referências
MORAES, V. Antologia Poética. Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.