O eterno galã Antonio Fagundes garante que a velhice não o preocupa de forma exagerada. Irreverente, faz piada com a vaidade quando indagado pela repórter sobre seus cabelos brancos e rugas. São poucos os atores que têm coragem de falar abertamente deste tema, a velhice, o que prova o quanto a questão ainda é cercada de receios e tabus, especialmente no mundo da televisão. Na entrevista concedida à repórter Aline Salcedo, à revista Contigo (editora Abril) que circula com a data de 17/8, Fagundes fala sobre muitos assuntos, sempre com bom-humor.
“De pertinho, o veterano ator – que estreou na teledramaturgia em 1969, na novela Nenhum Homem É Deus, na pioneira TV Tupi – parece vaidoso. É cheiroso, o cabelo brilha e a pele está sempre bronzeada. Mas, durão, diz que o máximo que faz é tomar banho. O cabelo só lava com sabonete. Nunca usou cremes. Nem fez plástica. Pintar os cabelos brancos, então… Nem pensar. ”Tenho cabelo branco desde os 30 anos. Já pintei, mas não acredito que isso faça a pessoa parecer mais jovem. Fora que dá trabalho, ter de retocar a cada 15 dias. E aí eu ia ter de pintar outras coisas, o peito, por exemplo. Dá trabalho, né?”, justificou. E dei risada. Detalhe: ele me disse que só tem cabelo branco do lado esquerdo do peito. ”É que o coração está velho.” (Suspiros!) E diz que não liga para esse papo de velhice. ”Não me sinto velho, estou ótimo. Em queda. Mas, até agora, tudo bem.” E haja bom humor. ”Acho que o problema da velhice é a associação com a doença. Mas não tenho ficado doente, não tenho tempo. Só estou com uma dor aqui nas costas, será o pulmão?”, emendou aos risos. Fagundes diz que não foi e nem é radical com nada – de dieta à política. E não gosta nem mesmo da expressão ”politicamente correto”. Para isso, tem até uma teoria engraçada: ”Charuto faz mal, mas bem menos que o cigarro, porque não tem 4 mil substâncias químicas. E não vicia. Mas sabe o que faz mais mal ao organismo? Oxigênio. É a pior coisa. Porque o que faz você envelhecer são os radicais livres que o oxigênio libera.”
A doença tem sido de fato uma de suas preocupações. Em outra entrevista, realizada no ano passado pela Gazeta online, Fagundes reconhecia que chegará uma hora em que terá que se cuidar um pouquinho. Na ocasião disse que “viver é muito perigoso”. E comentou que costuma brincar que o que “mais faz mal ao organismo é o oxigênio, que oxida as suas células e cria os radicais livres, que acabam envelhecendo e matando”.
Nessa mesma entrevista, ao ser perguntado sobre o que achava sobre a morte – na ocasião um dos assuntos abordados na sua peça “Restos”, em que ele interpretava o personagem Edward Carr, ele respondeu: Tem um filósofo (Lucrécio) que resume muito bem: “Onde a morte está, eu não estou. Onde estou, a morte não está. Por que me preocupar?” Só que ela existe, faz parte da vida. Não me preocupo muito com a morte. Me preocupo mais com a doença. Porque a morte é isso mesmo. Acabou, morreu. Agora, ficar no sofrimento é horrível em qualquer idade. O Schopenhauer (Arthur Schopenhauer, filósofo) dizia que, se você tem 15 anos, é bonito e rico, mas não tem saúde, está perdendo para um cara de 80, feio e pobre, mas com saúde.