Os remédios caseiros são colocados à prova: alguns de fato funcionam, enquanto outros são mitos infundados. Será que comer cenouras melhora realmente a visão e ingerir alho cru diminui os níveis do colesterol ruim? Nadar depois do almoço faz mesmo mal? E quem nunca ouviu falar ou comprovou que uma boa canja ajuda a reduzir os sintomas da gripe e que o mel alivia a tosse e a dor de garganta? Enfim, da natureza à farmácia: sua avó pode estar certa.
Andréa Trevas Maciel Guerra * / Imagem: Diana Melo
Ao longo de oito capítulos, Os remédios da vovó nos conduz da farmacologia antiga à farmacogenômica e nos mostra que a melhor farmácia sempre foi a natureza. Dela, os curandeiros do Antigo Egito extraíam as substâncias nas quais se baseava sua medicina tradicional, entre minerais, vegetais e animais (aí incluídos excrementos de hipopótamos e crocodilos). Infelizmente, a maior parte da medicina egípcia perdeu-se durante a Idade Média, juntamente com os ensinamentos dos pais da medicina grega, como Galeno.
No capítulo que dá nome ao livro, os remédios caseiros resultantes do processo de tentativa e erro são colocados à prova: alguns de fato funcionam, enquanto outros são mitos infundados. Será que comer cenouras melhora realmente a visão e ingerir alho cru diminui os níveis do colesterol ruim? Nadar depois do almoço faz mesmo mal? E quem nunca ouviu falar (ou procurou comprovar pessoalmente) que uma boa canja ajuda a reduzir os sintomas da gripe e que o mel alivia a tosse e a dor de garganta?
A autora envereda ainda pelo mundo das bactérias, dos fungos e dos vírus, suas relações ora de luta, ora de parceria com os seres humanos e a resposta de nosso sistema imunológico à invasão de micro-organismos patogênicos. A partir daí relata o desenvolvimento das vacinas, enfatizando o papel central de Louis Pasteur na descoberta da vacina contra a raiva e suas grandes contribuições no campo da microbiologia. Descreve, ainda, a evolução dos antibióticos após o surgimento da penicilina e os mecanismos de resistência bacteriana que exigem pesquisa contínua na busca de novas substâncias para substituir aquelas que se tornam ineficazes.
Talvez o leitor se surpreenda ao saber que metade dos remédios que se encontram nas farmácias provém do mundo natural. Para chegar a eles, Valeria Edelsztein usa o exemplo da aspirina para mostrar que a química, a medicina e a farmacologia tiveram que percorrer um longo caminho: do isolamento dos princípios ativos das plantas a sua síntese em laboratório e à modificação de suas estruturas para obter fármacos menos tóxicos e com atividade melhorada. Relata, em seguida, os passos para o desenvolvimento da outra metade – os que não provêm da natureza – e todos os obstáculos a serem vencidos em muitos anos de trabalho até que um remédio chegue às prateleiras.
Ao descrever ainda o caminho dos medicamentos em nosso corpo (da absorção até a eliminação), a participação fundamental de nossos genes ao conferir individualidade a esse processo e a perspectiva de uma medicina personalizada em um futuro próximo, a obra nos conduz pelo mundo da farmacologia com um texto leve e uma narrativa envolvente. Ao final do livro, o olhar do leitor para uma caixinha de remédios nunca mais será o mesmo.
* Andréa Trevas Maciel Guerra é professora titular do Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e especialista em Divulgação Científica pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp): Disponível Aqui