Nos meus quase bem vividos 65 anos de vida, entendo que envelhecer constitui-se numa arte, algumas vezes doce, noutras mais severa, muito alegre e sobretudo, liberta de pretensões ligadas a convencimentos de opiniões e posicionamentos daqueles com quem convivemos. Desfrutar dessa autonomia, significa arriscar-se com passos largos ou contidos por caminhos variados e apreciar as estações que visitamos nessa viagem intensa e plena.
Vera Helena Zaitune *
Há alguns anos, uma professora, competente e comprometida com questões ligadas ao envelhecimento, solicitou que redigíssemos sobre esse assunto.
Por várias vezes me enxergava apta para dar conta deste recado. No entanto, havia um espaço no texto que precisava ser preenchido.
Nos meus quase bem vividos 65 anos de vida, entendo que envelhecer constitui-se numa arte, algumas vezes doce, noutras mais severa, muito alegre e sobretudo, liberta de pretensões ligadas a convencimentos de opiniões e posicionamentos daqueles com quem convivemos.
Desfrutar dessa autonomia, significa arriscar-se com passos largos ou contidos por caminhos variados e apreciar as estações que visitamos nessa viagem intensa e plena. Sentamo-nos em bancos de madeira e conferimos os atributos que os envolvem, celebramos o conforto e rapidez dos assentos que nos conduzem a cidades lindas e misteriosas cujos meandros nos apresentam histórias e personagens instigantes!
Acredito que as possibilidades desses percursos decorrem de momentos em que os encontros acontecem dentro de cada um a promover um diálogo fecundo e intimista. Foi num deles que me vi criança defronte a um espelho. Nele, me imaginava como eu seria ao envelhecer.
Meus cabelos seriam longos e brancos como os das noninhas daquele tempo? Usaria o birote da minha avó, preso somente por um grampo enorme? Vestiria aquele xale preto para expressar o meu luto? Me alegraria com fazeres e saberes daquele universo abrangido por uma casa adornada pelos lindos jardins de flores diversas e coloridas? Ouviria o sino da igreja badalar todos os dias, a anunciar a Hora da Ave Maria? Teceria mantas e cachecóis para meus netos e bisnetos?
Versaria sobre receitas de doces e bolos caseiros? Daria gargalhadas decorrentes daquelas situações que ocorriam no dia a dia do bairro em que eu residia? Me deleitaria com os sons emitidos pelas fábricas do lugar em que nasci?
A menina cresceu e diante do percurso realizado, considera dadivoso imaginar-se defronte ao espelho e abraçar o novo e o velho…. Sem buscar rimas, pretende esboçar outros traços e fincar muitos passos com insistência e vigor! Meu jeito de falar de amor!
* Vera Helena Zaitune – Graduada em História, Mestre em História da Educação, Especialista em Educação para o Envelhecimento e Alzheimer. É colaboradora do Portal do Envelhecimento. Email: vhzaitune@gmail.com