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O menino que pilota avião

Dia 31 de julho de 2016, Robson entrou no seu avião azul com branco e, agora com dourado, foi pilotar de encontro às estrelas. Ele não para mais de voar… São muitas estrelas para visitar, melhorar o brilho de algumas, reposicionar outras. Colocar no peito todas as conhecidas. Outras, ele vai conhecendo a cada voo. Beija todas, segura suas mãos e ensina cada uma a pilotar, amar, rir e contar histórias. O menino Robson agora está voando no mundo onde os aviões nunca caem e as pessoas não sabem chorar. Descobriu o infinito como referência, para dimensionar suas paixões e todos seus amores.

Alcides Freire Melo *

 

O avião decolou de um parque de diversões e seguiu voando em todas as direções. Depois subiu, subiu, até a terra. De longe, parecia um brinquedo, uma pequena bolinha de gude. O piloto fazia acrobacias, balançava as asas de um lado para o outro e fazia mil piruetas. Horas depois, apontou o nariz do avião para a terra e desceu veloz, em rasante. O coração disparou e os olhos cheios de lágrimas quase se fecharam, mas de tanta felicidade. Estava no plano de voo deste piloto, dar a volta ao mundo. Robson Águila era o piloto deste avião azul e branco, que saiu de um parque de diversões. Ele era um menino que sabia pilotar, um homem que traçava as mais ousadas rotas e pousos.

Um menino que sempre sonhou em conhecer o mundo do alto, de cabeça para baixo, de um lado e do outro. Quando entrava nas nuvens, tocava-as e, brincava de ser gente grande. Gostava de ver a chuva caindo do céu e, no céu; disparava em rizadas, gargalhadas infinitas a cada descoberta que fazia lá do alto. A cada personagem que descobria, encontrava nas alturas. A cada mundo que ele via desenhado lá embaixo, criava histórias e personagens. Encantava-se quando via carros de “controle remoto” viajar nas finas estradas e homens “invisíveis”, que plantavam e colhiam. Alguns colhiam sonhos, outros, ilusões.

Sempre do mais alto e distante que conseguia sua imaginação e o motor de seu aviãozinho levar, Robson aprendia, sem muito esforço, a ser homem. Descobria e criava muitas rotas para voar a cada dia, com muita imaginação e a criatividade de menino, sempre. Cada pouso que fazia, ia aumentando a bagagem para transportar no seu pequeno avião. Um dia, resolveu fazer um pouso na faculdade de direito. Tornou-se advogado, aprendeu sobre leis e justiça. Precisava ajudar a diminuir as injustiças, as diferenças sociais.

O piloto Robson, agora advogado, resolveu comemorar, voando. Muito seguro, subiu o mais que pôde para mostrar a mãe, Katiana, principalmente, como era viver nas alturas. Naquele dia, respiraram nuvens, sorriram com uma brisa que esfriava todos os dias de calor, quando eventualmente aproximavam-se. Uma manobra à esquerda, a emoção parece aquecer carinhosamente a alma quando se aproximava a tristeza ou a solidão de invernos solitários. Emocionados, abraçaram-se e contaram muitas histórias do passado. Fez um looping sobre o mar e, falaram do futuro, de outros mundos. Sem dúvida, sua mãe era a melhor navegadora.

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Ele abriu um enorme mapa, colocou sobre as pernas, traçaram planos de voos. Ele precisava voar, sempre, pois era nas alturas que estava tudo que queria. Lá, moravam seus sonhos: a possibilidade de pousar em vários aeroportos, de muitas cidades do mundo, era uma das pretensões. Sonhava contar histórias sem fim, ensinar as pessoas das “cidades” tristes, a rirem e cantarem. O Robson fugia dos planos de voo, quando falava de felicidade. Por ter alma de menino, talvez, vivia a fazer todas as peripécias, todos os malabarismos que somente um piloto menino poderia conseguir em voo.

Em voo sobre a cidade, em sobrevoo, delineava uma rua vazia, que não havia ninguém. Passeando naquela solidão, de cabeça baixa, um cãozinho vagava solitário, para aumentar o vazio. Um cachorro sem raça, um “Argus” que fugia da Odisseia da vida. Ainda de cabeça baixa, farejava felicidades. Levantou os olhos quando ouviu o motor de um avião branco e azul, que saíra de dentro das nuvens. O piloto diminuiu a velocidade e pousou no meio da rua.

Desceu, alisou o pequeno cão e recebeu umas lambidas por troco. Concordaram de voar juntos. Entraram os dois no avião e decolaram em voo rápido. Em seguida, posou em casa e deixou o cãozinho que se tornou um companheiro por muitos bons dias. Fizeram vários voos juntos.

Não parava de voar, o menino. Agora, visualizou uma terra coberta de neve, terra boa de pisar: linda, fofa, fria e insegura, como a vida é. Chegou à cidade de Kursk, Rússia, onde funciona a terceira melhor faculdade russa de medicina. Não perdeu tempo: acelerou e pousou na cultura daquele gigante país. Precisava ser médico para levar a cura a todos que não conseguiam alcançar a medicina para tratamento. Voltou de férias, as primeiras como estudante de medicina. Contou, emocionado, histórias da faculdade, da Rússia e sobre os novos amigos.

Propositadamente, deixou pedaços de sua alma alegre espalhados pelos corredores da faculdade russa. Ensinou aos amigos a voar, falar de saudades, tempo, saudades… vazio. Depois que a faculdade de medicina de Kursk, a Medkursk, teve um menino que pilotava aviões fazendo piruetas, rindo e contando histórias e socorria cães abandonados, ela aprendeu a tratar de felicidade, amores e de doenças da alma.

Dia 31 de julho de 2016, Robson entrou no seu avião azul com branco e, agora com dourado, foi pilotar de encontro às estrelas. Ele não para mais de voar… São muitas estrelas para visitar, melhorar o brilho de algumas, reposicionar outras. Colocar no peito todas as conhecidas. Outras, ele vai conhecendo a cada voo. Beija todas, segura suas mãos e ensina cada uma a pilotar, amar, rir e contar histórias. O menino Robson agora está voando no mundo onde os aviões nunca caem e as pessoas não sabem chorar. Descobriu o infinito como referência, para dimensionar suas paixões e todos seus amores.

* Alcides Freire Melo – Repórter fotográfico e cronista em diferentes periódicos. Colaborador do Portal do Envelhecimento. E-mail: alcidesfreiremelo@gmail.com

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