Há apenas alguns anos é que os idosos de São Paulo se juntaram para ações que fizessem valer os direitos que as leis lhes asseguravam mas que uma grande parte da sociedade fingia ignorá-los. Esperar que alguém, alguma autoridade ou governante pusesse fim a essa humilhante situação, revelou-se uma completa inutilidade. Foi então que surgiu a motivação para partir para movimentos coletivos de reivindicações. Os pioneiros foram os idosos da zona leste da capital. Foram anos e anos de manifestações de ruas, protestos, de idas e vindas incontáveis a repartições e autoridades. Contavam com lideranças atuantes, não se intimidaram e persistiram. Ouviram muitas promessas não cumpridas. Por outro lado, tiveram vitórias memoráveis. Toda essa vivência e experiência estão sendo valorizadas e aproveitadas com a criação de uma entidade que reúne os idosos de todas as regiões de São Paulo. Muitos deles, antes apáticos e desinteressados, aderiram, se dedicando com ardor e entusiasmo ao movimento. Como decorrência dessa mudança de postura, suas vidas passaram a ter mais sentido, pois eles reencontraram o eixo de suas existências e permanecem altamente motivados. Muitos afirmam se sentirem rejuvenescidos desde que se alistaram nesta nobre missão.
Oscar Del Pozzo *
“Engajando-se na luta pelo respeito aos direitos que as leis e os decretos lhes garantem, os idosos brasileiros tornam-se agentes da própria libertação . Abandonam o conformismo , a passividade e o isolamento . É uma transformação que redunda em resultados pessoais muito positivos , melhorando substancialmente a sua qualidade de vida .”
( LIMA , M.P., 2001)
Introdução
Mensalmente, visito grupos de idosos e procuro orientá-los para que possam ter uma melhor qualidade de vida. Discutimos o SUS (Sistema Único de Saúde), o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto do Idoso, entre outros assuntos.
Até o momento só achei 2 grupos em São Paulo, com instalações próprias. Um deles é o Clube Horizonte Azul, localizado à Avenida Presidente Altino n° 1313, no bairro do Jaguaré, zona oeste da capital. O outro é a Casa da Terceira Idade Tereza Bugolin que fica na rua Primavera da Vida 1 – B, em Vila Robertina, Ermelino Matarazzo, na zona leste. São grupos particulares.
Ambos representam o resultado de movimentos de luta que envolveu não só a população local, mas o comércio, a indústria, clubes de serviço, profissionais liberais, jornais de bairro e associações de moradores.
Foram anos e anos de reuniões, projetos, passeatas, pressões e esforços de todo o tipo. Mas obtiveram êxito na tarefa a que se propuseram. Atualmente estão bem instalados e tranqüilos e podem oferecer aos seus numerosos freqüentadores uma extensa lista de atividades e atrações. Estão abertos da manhã até a noite, todos os dias da semana.
Os demais grupos funcionam sofrivelmente, como podem, em locais impróprios, acanhados, cedidos de favor, a título precário. São provisórios e de uma hora para outra, podem ser “convidados” a desocupar o imóvel. São despejados sumariamente, pois não têm nenhuma garantia. Vários já foram obrigados a encerrar suas atividades.
Vale a pena visitar um deles, suas instalações e tudo que podem oferecer aos participantes. Mas o mais importante é se inteirar dos pormenores das batalhas travadas para chegar onde estão. Trata-se de uma lição, de um exemplo, que precisa ser seguido.
1. Idosos ativos e idosos inativos
Por que será que apenas dois, de tantos grupos de idosos que existem, conseguiram se unir e partir para ações concretas e obter vitórias memoráveis? Os demais não poderiam ter trilhado o mesmo caminho? Por que isso não aconteceu?
“Manter-se em uma atitude engajada é difícil e, mesmo um sacrifício para uma pessoa idosa, sobretudo quando se tem em vista possíveis limitações físicas ou mentais. O engajamento pressupõe o cumprimento de um extenso e diversificado número de funções outorgadas pela sociedade” (SALGADO, M.A. São Paulo, 1982). Velhice, “Uma nova questão Social”.
Realmente, pode ser difícil. Mas é possível. Não só é possível como necessário, imprescindível. Como explicar a apatia, a falta de motivação e de vontade? Quais seriam as razões que justificam tais atitudes?
Na sua mocidade, muitos dos idosos atuais conviveram com regimes ditatoriais, com a supressão das liberdades constitucionais, sem eleições. Com uma censura rigorosa e uma truculenta repressão a qualquer tipo de manifestação pública nas ruas e praças. Só eram divulgadas notícias favoráveis aos detentores do poder. Os que se rebelaram foram presos, torturados, até mortos e outros banidos para fora do Brasil por muitos anos.
Outra explicação cabível é a atitude que uma grande parte da mídia, da sociedade e dos poderes constituídos adotam em relação às dificuldades enfrentadas pela terceira idade: completa indiferença. Quanto menos forem divulgados seus direitos, torna-se mais fácil ignorá-los.
A união dos grupos de idosos
O maior objetivo do Movimento Idosos Solidários (MIS) é reagir, não concordar com as discriminações, as exclusões, enfim, restaurar o respeito e a dignidade que os idosos fizeram por merecer durante toda a sua vida. É o não conformismo, o protesto, juntar todos e partir em busca das suas legítimas reivindicações.
“Além dos partidos políticos, há outras maneiras de ação política, como os grupos de pressão para influenciar pessoas, grupos e posições do poder político. Os idosos não partilham ideologias políticas, mas se têm problemas comuns de transporte, habitação, pensões, assistência médica, formam grupos de pressão para tornarem efetivas as suas reivindicações. Nestes casos têm necessidades comuns, relacionam-se freqüentemente, tomam mais consciência dos problemas dos quais participam, aumentam as possibilidades de ação e têm tempo disponível para se dedicar às atividades políticas, do qual não dispõem os outros cidadãos da população ativa”. (MORAGAS, R.M. – São Paulo, 1997). Gerontologia Social.
Moragas comentou a situação dos idosos espanhóis empenhados na luta pelos seus direitos. Há semelhanças com a nossa realidade. Essa constatação serve para reforçar nossa disposição de prosseguir, de ir até o fim, de usar de todos os meios lícitos para obtermos êxito em nossa missão.
Nas ações coletivas, os idosos ocupam seu tempo, antes ocioso, de uma maneira bastante produtiva e que lhes dá prazer. A recompensa é dupla: coletiva, com as conquistas obtidas e individuais, devido ao maior relacionamento, ao aumento de sua auto-estima e com a descoberta de um novo sentido em suas vidas. A convivência com outros idosos já engajados, envolvidos e profundamente motivados e que têm vivência e experiência nos movimentos, acaba influenciando os iniciantes.
“Para que a velhice não seja uma irrisória paródia de nossa existência anterior, só há uma solução – é continuar a perseguir fins que dêem um sentido à nossa vida: dedicação a indivíduos, a coletividades, a causas, trabalho social ou político, intelectual, criador. Contrariamente ao que aconselham os moralistas, é preciso desejar conservar, na última idade, paixões fortes o bastante para evitar que façamos um retorno sobre nós mesmos. A vida conserva um valor, enquanto atribuímos valor à vida dos outros, através do amor, da amizade, da indignação, da compaixão. Permanecem, então, razões para agir ou falar”. (BEAUVOIR, S. – Rio de Janeiro, 1970).
2. As caravanas da terceira idade
Temos mais de 1 milhão de idosos na Grande São Paulo. Seriam necessários centenas e centenas de centros de convivência, bem construídos e equipados. Eles poderiam evitar o isolamento em que muitos idosos estão vivendo, esquecidos, abandonados. Só assim eles poderiam usufruir uma melhor qualidade de vida, com atividades para bem aproveitar o tempo que dispõem e também poderem conviver com outras gerações nesses locais.
Fizemos duas caravanas à Prefeitura Municipal de São Paulo, em 2003 e 2004. Em ambas as ocasiões, as audiências foram marcadas com vários meses de antecedência. Apesar disso, não conseguimos ser recebido. Os pedidos com abaixo-assinados dos grupos foram entregues a um oficial de gabinete e até hoje não mereceram sequer uma resposta. Tal fato não nos desanima, pelo contrário, nos dá mais incentivo a continuar a luta.
A 4ª Caravana ao Governo do Estado de São Paulo foi realizada no Memorial da América Latina, em 31 de Agosto de 2004, com a presença maciça de mais de 2.000 idosos de todas as regiões da capital. Houve a apresentação de danças, folclore e corais de diversos grupos de idosos. Fomos recebidos com simpatia pelo Governador Geraldo Alckmim.
Vitórias já conseguidas
O 1° Centro de Referência do Idoso de São Miguel Paulista, inaugurado em 2001 como resultado da grande mobilização dos idosos da Zona Leste (nossos antecessores e atuais professores na luta comum). A grande liderança da região Leste é o Padre Antonio L. Marchioni, o famoso Padre Ticão, há mais de 25 anos à frente dos movimentos populares. É dele a frase “Feijão e governo só funcionam sob pressão”. O 2° Centro de Referência do Idoso, do bairro do Mandaqui, em São Paulo, já foi inaugurado, em Fevereiro de 2005.
A 1ª República de Idosos já está pronta, com 66 apartamentos, no bairro do Cambuci, São Paulo.
Foi anunciado um convênio com o Unibanco para capacitação de cuidadores de idosos, em convênio com a Secretaria da Assistência e Desenvolvimento do Estado.
O 1° Centro de Terapias Orientais será inaugurado brevemente.
O Movimento conseguiu realizar uma parceria entre o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo e uma indústria farmacêutica para a confecção de uma fita de vídeo destinada ao treinamento e orientação de cuidadores informais de idosos fragilizados, em domicílio. Ela já está pronta e as 1000 cópias já se mostraram insuficientes para a grande demanda, tanto na capital, no estado, em outros estados e até em alguns paises do exterior. Ela está sendo fornecida gratuitamente a entidades públicas e privadas que promovem cursos de cuidadores de idosos e não tenham fins lucrativos.
Outra parceria foi feita com o Programa Re-Ouvir, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Em 2005 serão feitos testes auditivos em grupos de idosos da periferia. Nos casos indicados serão fornecidos pelo SUS aparelhos corretivos de surdez com acompanhamento posterior para ajustes necessários. A Zona Oeste já teve o programa, em Março de 2005.
Estamos iniciando um trabalho de assessoria para o registro dos grupos de idosos, a fim de que tenham existência legal e possam usufruir benefícios e serviços que atualmente não conseguem.
Está sendo planejada uma estrutura de suporte para cuidadores informais de idosos fragilizados. Há algumas dificuldades, dada a sua complexidade e a falta de capacitação do material humano necessário.
Outros pedidos entregues ao Governador do Estado
Dois novos Centros de Referência do Idoso, nas zonas Oeste e Sul. O CRI Oeste já está em fase de estudos e planejamento e deverá se localizar no bairro do Butantã, no campus da USP.
Duas novas repúblicas de idosos na zona Leste.
Criação do Instituto do Idoso, anexo à Universidade de São Paulo, para assistência, ensino e pesquisa no campo da Gerontologia. O processo está sendo acompanhado de perto pelo movimento e tem recebido pareceres muito favoráveis, o que nos deixa bastante animados.
Ao pedido de criação de mais delegacias de idosos, o Governador revelou estar em estudos, um processo de capacitação de todos os distritos policiais do estado, para atendimento especializado aos idosos, vítimas de maus tratos, violência, abandono ou de outras violações do Estatuto do Idoso.
For pedida a instalação de mais 40 centros de convivência, distribuídos pelas regiões da capital.
Também se solicitou o fornecimento de equipamentos para os centros existentes, bem como oficinas culturais, cestas básicas e leite para idosos carentes.
3. O idoso e a cidadania
Cidadania, o que é isso? A maioria dos idosos sequer ouviu falar no assunto. Ela nunca foi ensinada, estimulada ou vivenciada. Não souberam que tinham direitos e deveres como cidadãos. O resultado é o que constatamos: como exercitar algo que não é conhecido? Para quem pouco ou nunca participou de lutas políticas, de eleições livres, de sindicatos ou associações de classe e outras, é difícil, muito difícil. Só trabalho e sustento da família, sem tempo para mais nada.
Também contribuiu para isso a educação rudimentar e incompleta, sem nenhuma continuidade na mocidade ou na idade adulta. Nada de conhecimentos ou cultura geral. Quase não tiveram acesso a jornais, revistas, livros ou publicações. Reverter esse descompasso requer paciência, tato e perseverança.
De uma hora para outra o inativo torna-se ativo novamente. Encontra satisfação na nova tarefa a que se propôs. Tem utilidade, não só para si, mas também para os seus companheiros idosos.
“Os idosos mais estimulados a mobilização e organização social, participam com desembaraço e competência, em debates, seminários e passeatas. Elaboram manifestos, colhem mais de 30.000 assinaturas numa grande mobilização, tentando dar o respaldo necessário às reivindicações, em tempo recorde. Demonstram maior nível de segurança pessoal e, sobretudo, uma consciência sólida e abalizada sobre a questão do envelhecimento e dos direitos dos idosos. De certo modo, tiram real proveito da experiência acumulada, das conquistas já alcançadas e do tempo ainda restante”. (BARROSO, M.J.L.C.R. – São Paulo, 1992).
Seu tempo, antes ocioso, agora está sendo aproveitado e com isso passa mais rápido. A necessidade de sentir-se útil é inerente ao ser humano que não quer ser marginalizado e muito menos esquecido pela sociedade.
“Para Frankl (1999), as pessoas não deveriam ficar procurando um sentido abstrato, uma vez que o sentido derivado do engajamento, do otimismo, da transcendência do interesse pessoal habilita a pessoa a manter sua saúde mental e sua integridade, mesmo nas mais adversas condições” (NERI,A.L. – Campinas, 2001).
“A pior morte para um indivíduo, é perder o que forma o centro de sua vida, o que faz dele o que realmente é. Aposentadoria é a palavra mais repugnante da língua. Aposentar-se é abandonar as nossas ocupações, que fazem de nós o que somos – equivale a descer ao túmulo” (ERNEST HEMINGWAY; BEAUVOIR, S. – Rio de Janeiro, 1970).
Só envelhece realmente, aquele que desiste de lutar, de se ajudar e de ajudar os outros. Desde o nascimento o ser humano luta e se adapta, se ajusta às mais diversas situações e fases da sua existência. Vários idosos que se integraram ao movimento acabaram descobrindo talentos ou vocações ainda não manifestados. Muitos sem nenhuma ligação com o passado ou com a antiga profissão. Sentiram-se realizados e felizes, mais motivados e ativos.
“As pessoas que participam de uma causa exterior aos seus próprios interesses, de algo fora de si mesmos, são pessoas que trabalham com devoção, como se fosse uma missão ou vocação, no sentido sacerdotal. Trabalham segundo uma chamada do destino, amando verdadeiramente o que fazem de modo que a dicotomia trabalho / prazer não existe” (CAVALCANTI, K.B. – São Paulo, 1996)
Os idosos não precisam e nem devem, pedir auxílios, tutelas, caridades ou concessões esdrúxulas e muito menos apadrinhamentos de pessoas inescrupulosas que se valem disso para auferir vantagens de todo o tipo. São lobos travestidos de cordeiros…A constituição federal, as leis e regulamentos, o Estatuto do Idoso é que garantem seus benefícios. Intermediários são absolutamente dispensáveis. Os próprios idosos devem se conscientizar disso, não se deixando explorar, ser massa de manobras.
4. Brasil, o país do futuro?
Desde a escola primária essa frase é divulgada. O nosso hino também afirma: “em teu futuro espelhas essa grandeza”. Passamos pela infância, juventude, idade adulta e agora estando na terceira idade, persiste esse slogan. Até quando? E o presente, como fica? Esperando? Estamos esperando a regulamentação do Estatuto do Idoso. Não há data marcada para tanto. Por ocasião da assinatura do mesmo, houve uma grande solenidade, com a presença de toda a corte oficial de Brasília, cerimônia cheia de pompa, com música, transmitida em cadeia nacional. Passados vários meses, a descrença começa a tomar o lugar da alegria inicial.
“A história da sociedade brasileira tem sido uma história inacabada, uma história que não se conclui, uma história que não chega ao fim de períodos definidos, de transformações concluídas. É uma história sempre por se fazer”. (MARTINS, J.S. O poder do atraso)
É necessário que nossos políticos e governantes falem menos e ajam mais. Com ações que produzam resultados concretos a curto e médio prazo, para trazer um pouco de alívio para os que continuam aguardando pacientemente. O Brasil precisa deixar de imediato de ser o país do futuro. Deixar para um amanhã nebuloso e incerto e que nunca chega é fácil, muito fácil. Realizar, concretizar, efetivar melhorias agora, aqui e hoje é o que realmente importa. É exatamente isto que nós desejamos que aconteça.
“Ecléa Bosi diz: O velho não ter armas. Nós é que temos que lutar por eles. Isto é também o que os homens públicos querem afirmar para poderem continuar o paternalismo e o assistencialismo que os idosos não aceitam mais. Pedem apenas os seus espaços e mostram ter voz e vez. Os velhos descobriram a força que possuem quando unidos e usaram dela para exigir seus inequívocos direitos pessoais, sociais e políticos. Só perde sempre quem se isola e fica só. Eles já não estão sós e desarmados, todos nós devemos estar aí para trabalhar e lutar com eles e não por eles. Através dos movimentos populares, do uso da imprensa, da articulação política, das manifestações nas ruas, no congresso, das concentrações nas praças e esplanadas, os idosos registraram a sua decisão de cidadania”. (MELO, C.V. – São Paulo, 1996).
Todos nós, brasileiros, estamos saturados de promessas, planos e soluções mirabolantes e que acenam com um futuro risonho e grandioso, sem desigualdades sociais nem exclusões. Os programas eleitorais que invadem nossas casas apresentam encenações fantasiosas com o único objetivo de ludibriar os incautos.
“Cada um de nós pode fazer muito mais por nossa pátria do que pensa. Isto porque temos mais tempo disponível do que todos os demais compatriotas e temos uma experiência de vida mais longa que qualquer outro. Devemos, portanto, usar essa experiência e esse tempo para engajar-nos em causas cívicas e políticas. Há tantas causas para escolher e pelas quais devemos lutar”. (NASCIMENTO, J.R. – Petrópolis, 1997)
Não estamos concorrendo ou substituindo outras entidades que perseguem os mesmos objetivos. Somos aliados, imbuídos dos melhores propósitos, lutando lado a lado e juntando forças. É o caso dos conselhos municipais e estaduais de idosos, pastorais e outros. Todos merecem o nosso respeito e colaboração. É a única maneira de conseguir resultados importantes.
“Redimensionar e redirecionar são verbos chaves que indicam ações necessárias para os idosos não se afogarem nas discriminações, nos banimentos, nas privações da liberdade de escolha, nos estigmas da velhice e emergirem com novos pensamentos, novas posturas, novas maneiras de se e de estar no mundo, novos projetos após os 60, 70 anos em diante. Tem-se que procurar novas vias, quando as que se costuma usar estão interrompidas ou impossibilitando o acesso aonde se quer chegar. Se atualmente a velhice é vista como um problema social, é preciso preparar-se para enfrentá-lo, ser pioneiro de uma tarefa que exige desprendimento de valores e de ações”. (LIMA,M.P. – São Paulo, 2001)
Nossa luta está apenas começando. Estamos arregimentando aqueles que desejam engrossar o nosso contingente. Todos os que quiserem aderir serão bem-vindos. À medida que o tempo decorre adquirimos mais vivência e experiência para enfrentar os desafios que irão surgir. Estamos visando atingir prioritariamente os mais discriminados, os mais abandonados, os mais pobres e destituídos de condições mínimas de sobrevivência. É exatamente isso que nos conforta e nos anima.
Seria cometer uma grande injustiça caso não mencionássemos a maciça participação feminina em nosso trabalho. Elas estão sempre à disposição para as mais diversas funções que lhes são apresentadas. O sexo masculino também está presente, embora em menor número. Não é só no Brasil que as mulheres tomam as iniciativas.
“As Ranging Grannies (Vovós Furiosas) são um fenômeno que hoje está espalhado por todo o Canadá. Com idades que variam de 60 a 90 anos, elas se juntam em grupos de 8 ou 12, vão às ruas vestidas o mais ridículo possível com “roupa de vovó” e cantam paródias de velhas canções com letras muito bem humoradas que falam de assuntos como desarmamento nuclear, sexo seguro, o embargo americano à Cuba, destruição da natureza, exploração do trabalho infantil e escravo no Terceiro Mundo, globalização, medidas econômicas do governo, etc.” (NERI, A.L. – Campinas, 2001)
Considerações finais
Tirar o idoso da sua passividade e conformismo, trazendo-o para a luta destinada a diminuir as dificuldades que tolhem a sua sofrida existência é a principal finalidade de nosso esforço. Na medida direta do seu envolvimento, ele se reencontra e começa a se entusiasmar, valorizando o seu tempo antes ocioso. O mesmo tempo que até então era um adversário que teimava em não passar.
De assistente dos acontecimentos, ele, que estava comodamente sentado na platéia, resolveu seguir o exemplo dos companheiros, retornando ao palco e participando ativamente do espetáculo, desempenhando, a contento, o seu papel.
Com o passar dos anos o corpo humano pode mostrar sinais de envelhecimento. Mas o espírito, esse não envelhece. Esse espírito que nos coloca acima dos demais seres vivos. Espírito livre, independente que não se conforma com as injustiças. Não se enquadra em esquemas espúrios e está permanentemente insatisfeito e protestando.
Reage e no comando do ser humano faz com que ele vença as limitações do seu corpo físico. O espírito humano não se curva a interesses que não os legítimos e dignos de serem conquistados.
“Será que somos todos medíocres? Não, evidentemente, não. Sabemos que o equilíbrio, a passividade e a auto-preservação são conceitos altamente negativos para os seres humanos. Eles não se conformam e não só aceitam, como procuram novos desafios. Quanto mais altos e difíceis, tanto melhor, maior é o sabor da luta. É no fragor das batalhas que o caráter é moldado. Ganhar ou perder, não importa. O que conta é tentar, tentar sempre. É quando erramos que mais aprendemos.” (ABRAHAM MASLOW)
Essa é a nossa filosofia de trabalho: Procurar novos desafios e tentar, tentar sempre. Devemos ter orgulho nas derrotas e humildade nas vitórias.
Referências bibliográficas
BARROSO, Maria José Lima de Carvalho Rocha – O velho no Brasil pobre e no Brasil rico – Revista da 3ª idade – SESC São Paulo, 1992
BEAUVOIR, Simone – A Velhice – Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 1973.
CAVALCANTI, Kátia Brandão – Revista da 3ª idade – SESC São Paulo, 1996.
LIMA, Mariuza Peloso – Gerontologia Educacional – LTR: São Paulo, 2001.
MARTINS, José de Souza – O poder do atraso – Hucitec – São Paulo, 1999.
MELO, Orfelina Vieira – O idoso cidadão – AM – São Paulo, 1996.
MORAGAS, Ricardo Moragas – Gerontologia Social – Paulinas – São Paulo, 1997.
NASCIMENTO,Jorge R. – Aprenda a curtir os seus anos dourados . Vozes, Petrópolis, 1997.
NERI, Anita Liberalesso – Desenvolvimento e envelhecimento – Papirus – Campinas, 2001.
NERI, Anita Liberalesso – Maturidade e Velhice – Papirus – Campinas, 2001.
SALGADO, Marcelo Antonio – Velhice, uma nova questão social – SESC São Paulo, 1992)
*Oscar Del Pozzo, médico aposentado, assessora grupos de idosos de São Paulo desde 1998, também é um dos articuladores do Movimento Idosos Solidários que está reunindo todos os grupos de idosos de São Paulo na luta para serem reconhecidos os seus legítimos direitos. E-mail: solidosos@uol.com.br.
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