O homem Nu - Portal do Envelhecimento e Longeviver
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O homem Nu

Era um homem nu a desenhar estrelas no próprio peito.
Era só. Um homem só, a cuidar de sua só solidão nos arredores de seu sexo.
Era um homem nu, tatuagem no peito, cuidando do feito de amar ninguém.
Eram vários homens dentro de um só canto que melodiava dentro do seu único pranto, soluçando dentro dele. O homem nu.

Tuty Mekhitarian

Nu em martírios ou tormentos. Nu em sua tristeza mal feita, ou nu em alegrias compradas de moças casadas, ou de meninas sem peito.
Era um homem nu a mastigar seu fumo, a usar poema como quem usa ópio, a ser spleen e ócio. Spleen e ócio.
Era um homem nu, de mente cheia. Barriga vazia. Um homem nude, num conto futuro.
A cada curva, o homem nu acredita em uma filosofia diferente. Por estar nu, nada o prende.
Ele está como quem nada perde ou sente. Está inteiramente presente dentro de sua própria armadura inexistente.
É a proteção do homem nu. A certeza de que estando nu, nada tem a temer, nem defender, nem amar, nem sofrer. Estando como quem nada perde, ganha um pouco nas esquinas de sua vida e logo solta de suas mãos, suas conquistas.
O homem nu, o homem nu, o homem nu. Veste a nudez como quem veste camisa. Ele está assim com tudo à superfície da pele. Sua velhice, sua caduquice, sua lucidez, sua vontade de ser além da interna nudez. Ele é velho. Muito velho. E sendo velho pode despir-se. Quem envelhece sabe, de verdade sabe, encoberto sabe, sem saber sabe, que pode estar nu. Pode morrer nu.
Viver a velhice nua, sexo de fora, alma, tara, fire, falha, fogo.
O homem nu caminha com mãos soltas, não há bolso, não há bolsa, só um poço a colecionar histórias. Está nu, está cru, está sem pendências. Só caminha. Caminha só. Só nudez. Palidez.
Sangue frio. Vontade morna.
Nu na carne. Nua tarde. Novidade de andar na pele. Mais nu do que nunca, justamente por estar na pele dele mesmo.
03/04/2012

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