A conquista do autodomínio é a batalha da vida, desbravar a mente e todos os desejos subversivos. A voracidade em obter coisas, habilidades, amigos é, em suma, pulsão de vida (agregadora), mas quando se trata de utilizar os artifícios do “lobo” que quer o poder sem exercer virtudes honrosas, pulsão de morte (desintegração). O vencedor paga sua conta com dor.
Felipe Rubio e Gelehrter da Costa Lopes *
É possível ressignificar o estatuto moral da pessoa idosa através de mitos, símbolos, no mais, a própria historicidade humana apresenta em diversas culturas tradicionais que o senhor de idade tem de ser referência para os mais jovens e respeitosamente reconhecido por eles. Afinal, são os mais velhos que puderam receber o conhecimento dos próprios ancestrais.
Um exemplo comum que perpassa diferentes culturas que não tiveram contato, mas partilham de ensinamentos semelhantes (inconsciente coletivo), pode ser ilustrado pela tribo indígena Cherokee (século XVI).
Certo dia um avô confabulava com seus netos. Histórias mobilizadoras eram contadas e, seus conteúdos, faziam com que se colocasse em cheque, para os mais jovens, qualquer tipo de certeza equivocada. Esses contos haviam sido transmitidos pelo próprio avô, e neste momento, numa corrente transgeracional, estavam todos entrelaçados. O fio original da história era passado adiante.
Na historieta do velho índio (“Dois lobos dentro de mim”), ele dizia: “É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende. Ele só luta quando é preciso fazê-lo, e de maneira reta. Mas o outro lobo… Este é cheio de raiva. A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele um terrível acesso de raiva. Ele briga com todos o tempo todo, sem nenhum motivo. Sua raiva e ódio são muito grandes, e por isso ele não mede as consequências de seus atos. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar nada. Às vezes, é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.”
Um dos garotos olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: “E qual deles vence, vô?”
O avô sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimentar mais.”
Como existe essa dualidade inseparável suscitada no conto, a solução trazida pelo senhor índio é uma mensagem de cultivo: no fundo escolhemos o que plantamos, mas a colheita é obrigatória, lembre-se disso.
Portanto, a conquista do autodomínio é a batalha da vida, desbravar a mente e todos os desejos subversivos. A voracidade em obter coisas, habilidades, amigos é, em suma, pulsão de vida (agregadora), mas quando se trata de utilizar os artifícios do “lobo” que quer o poder sem exercer virtudes honrosas, pulsão de morte (desintegração).
O vencedor paga sua conta com dor.
Embora os idosos continuem representando o auge da experiência acumulada, as novas gerações necessitam mais do que nunca de guias e mestres para se espelharem, para, enfim, transcender o paradigma da virtuosidade jovial em sabedoria ancestral.
Imagem e conto “Dois lobos dentro de mim” Disponível Aqui. Acesso em: 23/07/2015.
* Felipe Rubio – Aluno do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. E-mail: felipeiserubio@hotmail.com. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – Supervisora Atendimento Psicoterapêutico à Terceira Fase da Vida. Profa. Dra. Programa Estudos Pós Graduados em Gerontologia e no Curso de Psicologia, FACHS. E-mail: ruthgclopes@pucsp.br