Os idosos vão ter cada vez mais influência na democracia brasileira em decorrência do avanço do processo de envelhecimento populacional.
José Eustáquio Diniz Alves *
Nas eleições de 2010, 56% dos candidatos à Presidência da República tinham 60 anos ou mais, sendo que as duas candidaturas que disputaram o segundo turno eram da terceira idade. Nos demais cargos, a maioria dos candidatos tinham mais de 45 anos, sendo 80% para os governadores, 82% para o Senado, 65% para deputados federais e 59% para deputados estaduais.
A democracia brasileira, enquanto instituição, é jovem e só recentemente conseguiu incorporar a maioria da população no processo eleitoral. Na primeira eleição direta para presidente da República, em 1894, Prudente de Morais chegou ao poder com cerca de 270 mil votos, que representavam somente 2% da população brasileira da época. Em 1932, quando as mulheres conquistaram o direito de voto, menos de 5% da população estava apta a votar. Em 1980, a população brasileira ainda tinha uma estrutura etária muito jovem e apenas 40% dos habitantes estavam aptos a votar, existindo um superávit de 5 milhões de homens sobre as mulheres no eleitorado.
Com o processo de redemocratização da República Nova, a Constituição Federal de 1988 ampliou o direito de voto aos analfabetos, aos jovens de 16 e 17 anos e aos militares. Com isto o eleitorado ultrapassou 50% da população, chegou a dois terços (66%) no início dos anos 2000 e a 70% em 2014.
Antes de 1998 as mulheres eram minoria do eleitorado, mas empataram com os homens nesta data e passaram a ser maioria do eleitorado desde o início do século XXI. A cada dia, o sexo feminino amplia sua vantagem, pois nas eleições de 2010 as mulheres superavam os homens em 5 milhões de votantes e este superávit chegou a 6 milhões entre as pessoas aptas a votar em 2014. A cada ano aumenta o peso e a força das mulheres na democracia brasileira.
Mas a principal mudança na composição do eleitorado se deve ao crescente peso proporcional dos idosos. No ano 2000 havia 24,5 milhões de eleitores de 16 a 24 anos e 12,3 milhões de eleitores com 60 anos e mais. Os jovens eram o dobro dos idosos no eleitorado. No ano 2010, o número de eleitores jovens de 16 a 24 anos (24,7 milhões) ainda era superior ao número de eleitores idosos (20,8 milhões).
As pessoas com 60 anos e mais são cerca de 11% da população total brasileira, mas são quase 20% do eleitorado em 2014. Isto quer dizer que os idosos já têm e terão cada vez mais poder de decisão na democracia brasileira, pois a capacidade de influir sobre as políticas públicas é numericamente maior e os principais cargos são ocupados por idosos ou pessoas próximas de entrar na terceira idade.
Além disto, devido ao processo de feminização da população, são as mulheres com mais de 30 anos que formam o grupo mais expressivo do eleitorado. Na base da pirâmide etária há mais meninos do que meninas. Entre 25 e 30 anos há praticamente empate entre os sexos. Mas, após os 25 anos a proporção de mulheres cresce na medida em que se avança rumo ao topo da estrutura de idade. Ou seja, há um crescente aumento do poder das Balzaquianas na democracia brasileira.
O progressivo envelhecimento do eleitorado brasileiro se contrapõe à mitologia de que são os jovens que decidem uma eleição, como ocorria no passado. Evidentemente, quando os jovens se mobilizam passam a ter grande influência sobre a opinião pública. Porém, com as novas formas de comunicação e a crescente inclusão digital dos idosos, a capacidade de influência dos eleitores da terceira idade será cada vez maior.
Os grandes ausentes dos processos das decisões democráticas são as pessoas menores de idade (crianças e adolescentes) que não votam e não podem ser votadas. Para evitar que a sociedade brasileira caia em um conflito intergeracional, os adultos e idosos contemporâneos devem ser altruístas e construir políticas públicas que garantam os direitos e o bem-estar dos jovens de 0 a 17 anos, juventude que, mesmo não podendo ser eleita, constitui o futuro da Nação e irá formar as gerações idosas do futuro.
* José Eustáquio Diniz Alves – Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. Membro da Rede de Colaboradores do Portal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br